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Biblioteca Nacional, símbolo do nosso atraso

05/01/2013
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O Estadão publicou em 04/01 um editorial sobre a situação crítica da Biblioteca Nacional, responsável por preservar o acervo literário do Brasil. O editorial reforça matérias da Folha de SP, resumidas na coluna do Elio Gaspari (“Duas Bibliotecas”) de 23/12 – o ar-condicionado não funciona e salas chegam a 50ºC, cupim infesta o local, infiltra água quando chove forte, uma grade despencou do 5º andar do prédio… enfim, o prédio da Biblioteca Nacional está caindo aos pedaços. A atual gestão, desde janeiro de 2011 responsável por gerenciar a biblioteca e seu acervo,  é acusada de virar as costas para a função primordial – cuidar da biblioteca, para tratar de questões relacionadas ao mercado do livro, por exemplo. Várias fotos e uma descrição precisa dos problemas podem ser vistas aqui.

Esta é a principal biblioteca pública do país, aquela que deve servir como referência para as demais. O que podemos esperar, como cidadãos, de um país que trata desta forma a preservação da sua memória? Pouco, muito pouco. Que orgulho para uma cidade, para um país, poder exibir a  Biblioteca Nacional como um ponto de referência, parte viva e atuante do país. Os gestores da BN só esqueceram que geren

Como esperar que uma biblioteca, nestas condições, consiga entrar no tempo do livro digital?

Como esperar que uma biblioteca, nestas condições, consiga entrar no tempo do livro digital? Fonte: site Ultimosegundo

ciam, principalmente, um prédio e um acervo, não uma repartição do Ministério da Cultura.

O livro digital, longe de ajudar a resolver esse problema, só complicará a situação da Biblioteca Nacional. Como esperar que uma instituição, em tal estado de precariedade, incapaz de cuidar até das suas atribuições mais básicas, tenha condições de se preparar para o futuro? De nada adianta digitalizar uma minúscula fração de um acervo enorme, que soma 9 milhões de títulos e recebe 100 mil novos itens anualmente. As bibliotecas de ponta, no mundo inteiro, emprestam livros digitais para os seus frequentadores. Algumas (não só a de NY) até vendem eBooks, para leitores que queiram ficar com a sua cópia. Agora imagine o investimento em organização, planejamento, tecnologia, capacitação, pessoas, para que algo assim seja possível na maior biblioteca do Brasil. Imaginou? Então você viu que não há a menor chance disto acontecer nesta década.

O Brasil, ironicamente, é o país em que as melhorias dificilmente saem do papel. A Biblioteca Nacional, do jeito que está, parece fadada a se tornar o símbolo do nosso atraso estrutural, tecnológico. O Brasíl é a 5ª ou a 7ª economia do mundo, que tal compararmos a nossa biblioteca com a dos países que rivalizam economicamente com Brasil? Será que as outras bibliotecas nacionais têm ratos devorando o acervo? Aeroportos, linhas de transmissão de energia, nada chega perto da humilhação a que um país se sujeita, abandonando de maneira vergonhosa a própria memória intelectual e a sua história.

Em Porto Alegre, a Biblioteca Pública do Rio Grande do Sul, a principal do Estado, está fechada desde 2009 para reformas. Uma parte do acervo foi estocada e outra parte segue à disposição imediata ao público. Comparativamente, a biblioteca do RS é muito menor que o da Biblioteca Nacional, e o seu estado de preservação, embora ruim, nem de longe era tão precário. E já são 4 anos fechada para reformas. Pelo ponto em que a situação está, uma reforma séria só será possível se fechar a Biblioteca Nacional por uma década ou mais. A verba de R$ 70 milhões, para reforma emergencial, de qualquer jeito, será só uma maquiada para tapear os problemas, ao invés de resolver alguma coisa – me vem à cabeça a imagem de alguém no SUS receitando aspirina a quem precisa de cirurgia. O governo que gasta R$ 1 bilhão para construir estádio de futebol, não abre o bolso para preservar séculos de história.

Os funcionários da Biblioteca Nacional são verdadeiros heróis, por manterem a Biblioteca Nacional funcionando, mesmo com tantos problemas. O prédio da Biblioteca Nacional não foi planejado para abrigar tantas obras como possui hoje. É mais do que óbvio que é preciso replanejar o armazenamento de boa parte do acervo, que precisa ser deslocado e armazenado de forma fixa em outro local. Só que uma reforma de verdade, estrutural, exige organização e esforço por vários anos. E reforma assim não rende votos, não rende holofotes. Faltam pessoas responsáveis, comprometidas em legar algo para quem vier depois de nós. Intenções e projetos mirabolantes, atraem muito mais atenção da mídia. A Biblioteca Nacional é mais uma vítima da escassez de gente responsável, que o nosso país atravessa. A Biblioteca ficará presa ao passado, por conta da incompetência de uma legião de burocratas, sanguessugas, parasitas e oportunistas, que sugaram a teta até secarem a vaca.

 

  1. Que lixo…depois vem os demagogos querendo que os novos autores comecem investindo e sonhando com o mercado brasileiro….

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