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O caso Random House vs. escritores: os leitores estão fora de foco

15/03/2013
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O mercado de livros se baseia em um elemento fundamental, que sustenta tudo: os leitores. Mas são justamente eles que vêm sendo sistematicamente esquecidos durante a revolução do livro digital. A Random House protagonizou uma situação que reflete bem essa anomalia, e ganhou alguns desdobramentos nos últimos dias.

Ao contexto

Em novembro, a gigante lançou quatro selos para publicações em formato digital – Hydra (ficção científica), Alibi (mistérios e thrillers), LoveSwept (romance) e Flirt (“títulos para adultos”). Para publicações nestes selos, a Random House alterou as tradicionais cláusulas contratuais junto aos escritores.

O modelo mais antigo é o mais comum: a editora assume todos os custos de edição, produção e distribuição da obra do autor, e fica com a maior parte do lucro líquido – no caso da RH, 25% para o autor e o restante vai para a editora.

Já no segundo modelo, os autores teriam de adquirir um pacote de serviços incluindo arte, edição, vendas, marketing e publicidade da própria Random House. Em contrapartida, a partilha dos lucros seria de 50% – 50%. A intenção é dividir os riscos e os lucros. Ou seja, os autores teriam que pagar – com os seus royalties – por serviços que a editora deveria, em tese, oferecer.

O problema é que o segundo modelo de negócios seria a única opção dos escritores que quisessem publicar pela Random House. A The Science Fiction and Fantasy Writers of America (SFWA) caiu em cima: publicou uma carta aberta, há cerca de uma semana, qualificando os termos contratuais como “horrendos”, e recomendou que os “escritores corressem tão rápido quanto suas pernas – e outras conveniências – pudessem carregá-los”. A associação ameaçou desqualificar os títulos publicados pelo selo:

Recomendamos que vocês reconsiderem o modelo de negócios para a Hydra e Alibi. É ruim para os autores, é ruim para a indústria do livro, e é extraordinariamente ruim para a reputação da Random House como uma empresa parceira dos escritores.

A Hydra rebateu, enfatizando as vantagens do modelo de negócios oferecido. “Como toda parceria de negócios, existem custos específicos associados para trazer um livro ao mercado com sucesso, e nós os indicamos de maneira direta e transparente no contrato junto ao autor”.

Mas o barulho deu resultado. Foram mantidos os dois modelos contratuais, para que o escritor possa escolher o que achar mais vantajoso. Além disso, foram estabelecidos alguns limites para os custos com marketing no modelo profit-share: os selos arcariam com o valor, se for até US$ 10 mil; se o plano de marketing previr um valor superior, o autor receberá uma proposta para assumir o valor excedente, pago com a sua parte das vendas.

À análise

Ninguém mencionou os leitores até então; apenas mercado, lucro e royalties. O escritor e publisher Bob Mayer observou, em sua coluna no Digital Book World, algo que pode comprometer não um ou dois, mas qualquer modelo de negócios relacionados ao livro: “eu vejo uma coisa incestuosa entre os escritores. Estamos todos falando um com o outro, mas onde diabos estão os leitores?”.

Não é preciso ser um guru dos negócios para saber que uma empresa existe para atender a uma necessidade dos seus clientes. Peter Drucker já cantou essa premissa há décadas. Mas as empresas aparentemente ainda estão se perdendo em floreios estratégicos, conversando muito com os números e pouco com os leitores.

A Random House fez o que era mais sensato para alavancar as vendas e gerar resultados. O mercado de livros é arriscado; não há como garantir que um determinado autor se torne um best-seller, ou mesmo que as vendas cubram todos os gastos. O normal é ocorrer a formação de estoques e prejuízo financeiro. Por outro lado, um sucesso editorial pode gerar uma gorda renda por anos – pagando os fracassos.

A SFWA fez o que era mais sensato, como organização destinada a defender os direitos dos escritores de ficção científica. Usou seu poder de barganha como entidade consagrada no meio e provocou a balbúrdia, que poderia implicar em queda nas vendas.

Nesse duelo de sensatez, esqueceu-se o mais importante. Os leitores não emitiram cartas públicas ou notas de esclarecimento. Estão sentados, com tablets nas mãos, esperando apenas uma solução para as suas necessidades de informação. Esse público pode estar desaparecendo aos poucos, perdendo o interesse, buscando outras soluções. Com isso, o mercado também se vai, e não há lucro para ser dividido.

 

  1. Minha pergunta é como os leitores poderiam se envolver numa questão como essa e em que medida a demanda deles – enquanto consumidores – tem alguma coisa a ver com os termos propostos pela Random House e rejeitados pela SFWA. Entendo que o leitor é deixado de fora de muitas discussões acerca da nova configuração que os e-books trazem, mas em que sentido eles estão sendo deixados de lado nessa questão específica? Posto de outra forma, como poderiam se envolver e como esse envolvimento ajudaria na resolução da questão?

  2. Qual o papel de uma editora com o livro digital? Se é só promoção, talvez as agências publicitárias podem atender este filão. Hoje em dia, eu as vejo como um percalço ao mercado, assim como as gravadoras na área musical.
    Exemplo: Solicitei ao site da Editora Record algum modo de adquirir livros de João Gilbeto Noll. Fazem meses, não obtive resposta e não encontro-os em lugar algum para adquirir. Moro na Nova Zelândia, talvez o único leitor do cara fora do Brasil. Mas espera: o modelo digital veio exatamente pra quebrar barreiras, facilitar o acesso! Eu vejo no ebook a esperança de formação de novos leitores, de preços mais baixos. Talvez eu estaja sonhando alto demais…

  3. Adoro ebooks! Facilita a vida! Ao invés de carregar uma mochila pesada cheia de livros, é so usar algo que nao seja pesado e ler dentro do ônibus, metrô, etc. Ao mesmo tempo, gosto de conservar os livros em papel daquilo que acho extremamente classico para mim.

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