“A estante da minha filha terá 42 polegadas de LCD translúcido touchscreen e será vinculada a redes sociais relacionadas a livros.” =]
Muitas pessoas defendem a ideia de um mundo onde livros digitais convivam com livros físicos. Eu sou de opinião um pouco diferente. Pergunte a uma criança de 10 anos se ela, quando ouve música, sente falta de um frigir de ovos, ou se sente falta de, às vezes, a música, em um ponto aleatório, começar a saltar e repetir até que se clique em uma janela piscando na tela. Certamente a criança nem mesmo compreenderá por que raios alguém iria querer isso, pois lá se foi todo o charme do vinil. As pessoas, até a geração da década de 1990, certamente assim como eu, têm apego ao cheiro do livro e à textura do papel. Talvez a minha filha venha a ter uma estante física e uma virtual. Eu concordo, mas não consigo imaginar a minha neta compreendendo a ideia de “cheiro de papel”.
Elas dirão: “Por que alguém quereria um livro que não tenha busca integrada no Google? Por que alguém quereria um livro em que não se pode mudar o tamanho da fonte, em que não se pode ler no escuro e, principalmente, por que eu carregaria meio quilo para ter um livro quando posso ter metade dos livros do mundo em 300 gramas? Além disso, meus livros e marcadores estão na nuvem: mesmo que eu perca o dispositivo de leitura, ainda tenho todos os livros. Eu também tenho um fórum de discussão linkado a cada capítulo do livro, onde eu socializo minha leitura regularmente e reflito sobre as opiniões dos meus amigos que estão lendo o mesmo livro. Eu tenho um review sobre meu livro favorito que recebeu 323.200 likes. Eu posso continuar minha leitura, em qualquer dispositivo, de onde eu parei” etc. Você (e eu) diremos: “Mas e o cheiro do livro?” Elas responderão: “Vovó, acho que o vovô não tomou o remédio, ele está dizendo que livros têm cheiro!” Ou ainda: “Cheiro, vovô? Escolhe nessa tela aqui de baixo do que o senhor gosta mais, meu modelo de e-reader é antigo e só tem offset 90, Polen, couché matte e couché brilho.”
Entendo que é importante para as editoras refrear a ideia da substituição dos livros físicos pelos digitais e, de fato, acho que eles coexistirão bem durante a nossa geração e a próxima (eu penso em mais uns 30 anos de coexistência), mas acredito também que terão o mesmo destino dos vinis. Em médio prazo, teremos a adoção massificada do formato digital pela sua praticidade e, provavelmente, e as pessoas farão questão de sentir o cheiro dos livros de que mais gostarem, entre aqueles digitais que lerem…