Como Avaliar a Qualidade de um ePub?

03/05/2015
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Outro dia recebi um arquivo ePub de um editor pedindo para avaliar a qualidade. Ele queria saber se foi bem feito e se estava tudo funcionando direito. Depois de ter analisado o arquivo respondi para ele que estava “quase” bom…

Fiquei refletindo sobre aquele “quase”. Parecia tudo correto, porém estava faltando algo que deixasse aquele ePub realmente bom. Não me refiro à semelhança ao livro impresso, mas a detalhes que demonstrassem como aquele livro foi “pensado” e preparado com cuidado.

Decidi assim escrever algo que ajude a avaliar a qualidade, algo que vá além do “acho que está bom”. São indicações que nascem da experiência e do contato direto com a produção e com a formação dos profissionais que irão produzir livros digitais no formato ePub.

Ler muitos ebooks no formato ePub

As vezes temos a sensação que um ePub seja só texto corrido, sem beleza nenhuma.

Esta afirmação pode parecer banal, mas na realidade é importante pois serve para pegarmos familiaridade com este formato. É difícil avaliar a qualidade de um produto se não conhecemos como este funciona, seus limites e funcionalidades. Já temos bastante prática com os livros no formato PDF e não é difícil avaliar a qualidade de um. No caso de um ePub, tratando-se de um formato relativamente novo, não temos ainda esta prática. Então, leiam, baixem, comprem livros no formato ePub!

Três critérios de avaliação

Divido a analise em três passos, ou três critérios, que irão facilitar a nossa avaliação. Concentro a minha atenção no livros digitais no formato ePub, mas os critérios podem serem usados também para qualquer outro formato.

Vou somente introduzir eles para nos próximos posts tratar cada um separadamente, procurando fornecer indicações mais detalhadas:

a) Critério técnico

O sumário é fundamental. Mas dá pra fazer algo mais bonito do que o clássico azul padrão apresentado acima.

Funciona bem em todos os aparelhos? Para quem está chegando agora ao mundo do ePub este pode parecer o critério mais antipático, porém é o mais objetivo e um dos mais importantes. O ePub possui algumas regras internas, que devem serem respeitadas, caso contrário ele não funcionará corretamente nos vários aparelhos e programas. Qualquer um pode fazer uma primeira avaliação usando um software chamado “epubcheck”. Este software irá facilitar a nossa missão de avaliação. Explicarei isso melhor mais para frente.

b) Critério de usabilidade

Números na parte interna. Assim não funciona!

É fácil de usar e consultar? A usabilidade é a facilidade com que as pessoas podem acessar as informações presentes no livro digital. Gosto sempre de apresentar este critério com um exemplo banal mas esclarecedor: alguém já leu, comprou, diagramou ou projetou um livro onde os números de páginas estivessem na parte interna da página? Um numero bonito, bem feito, daqueles que roubam horas e horas para projetar? Em geral não fazemos isto porque não serve e não é útil. Um número de página colocado na parte interna do livro não facilita a consulta do conteúdo e é para isto que servem os números de páginas! O número está na direita, no alto ou na parte baixa da página porque nestas posições é fácil consultar sem sequer abrir o livro totalmente, deixando simples o uso. Este é um critério de “usabilidade”.

Um ePub pode e deve ser bonito e bem feito.

E nos ebooks? Bem… se é importante que o design dos livros impressos sejam projetados para facilitar a consulta, nos livros digitais a usabilidade torna-se fator fundamental para definir a qualidade do mesmo!

Neste critério entram o funcionamento do sumário, das notas de rodapé, dos índices remissivos, o tamanho e os tipos de fontes (enquanto influenciam a facilidade da leitura), e outros detalhes.

c) Critério estético

Um PDF pode ser muito mal feito mas isto não significa que o "formato" PDF é ruim ou feio!

Ficou bonito o meu ePub? Este critério talvez seja o mais simples de compreender, mas é na realidade o mais difícil de avaliar objetivamente pois, afinal, “gosto é gosto”. Creio porém que em alguns pontos não é difícil encontrar um consenso, basta ler alguns livros no formato ePub que encontramos no mercado para se ter uma ideia do que é feio e do que é bonito.

É importante aprofundarmos estes pontos para não cometermos o erro superficial de considerar defeito do formato o que na realidade é somente falta de atenção na produção do livro eletrônico.

Originalmente publicado em 14/09/2011

 

  1. Pode ser difícil haver consenso sobre o "bem feito" ou bonito, mas o contrário é fácil detectar. É o caso de livros do Fernando Pessoa que comprei na Kindle Store. Lamentáveis… ok, não são ePub, mas trago à baila a questão porque o cuidado com a apresentação do e-book é um aspecto frequentemente descuidado.

  2. Penso que o grande problema é que o próprio formato ainda é capenga, na minha opinião. Não há um padrão definido (ao menos, não aparentemente) para a maneira com que os e-readers trabalham com os códigos.
    Eu faço vários testes e, mesmo depois do epubcheck (Kubitschek??=P) o livro ainda se comporta de maneira diferente em vários tablets e readers… como fazer para testar em todos? As próprias ferramentas de editoração ainda são meio gambiarras. Encontro pouquíssimas pessoas que tem segurança para dizer: – faça dessa maneira que eu GARANTO que o e-pub vá se comportar como você quer. A maior parte das pessoas (inclusive eu) por muitas vezes vai no método empírico-técnico.
    Penso que o primeiro passo para poder avaliar os e-pubs, é que os readers passem a interpretar os códigos de maneira similar. Antes disso, só podemos avaliar nos e-readers que temos acesso e supor, através de epubcheck, experiência anterior etc, que o e-pub está com boa qualidade.

    1. O formato não é capenga e é bem definido, tendo em vista o objetivo que o formato se propõe. Você mesmo afirma que são os softwares leitores que não fazem uma boa renderização do código. O problema está próprio nestes softwares leitores que não respeitam as regras estabelecidas para o ePub e sinceramente nem sei quando irão respeitar. Cada empresa quer colocar as suas próprias peculiaridades porque acha que tem algo a mais pra oferecer.
      Posso fazer um monte de exemplo: o software adobe não aceita small-caps, mesmo que istos seja previsto nas regras CSS do ePub, o Saraiva Reader pro computador nem seguer lê o CSS! O aldiko impõe o próprio código CSS, e assim por diante…
      Concordo que as ferramentas de produção são ainda muito incompletas. Sou porém da opinião que temos que trabalhar com o que temos! Estabelecer alguns critérios de avaliação e trabalhar produzindo para os softwares que temos! Foi assim com o inicio do PDF e é um pouco como o inicio da web onde cada browser usava os próprios padrões. Isto dá esperança porque com certeza a situação vai melhora.

    2. José Fernando Tavares Tem razão sobre o formato. Eu me expressei mal. Os documentos que especificam as regras do epub são bem claros. O grande problema está, como você mesmo disse, nas interferências que o os e-readers fazem na maneira como o código é lido. Eu testei muitos softwares para Android e TODOS leem diferentemente uns dos outros… Vamos esperar que aconteça alguma homogeneização nessa leitura =]
      Concordo sobre trabalharmos com o que temos =] Eu usei Corel DRAW por 6 longos anos hehehe, sei bem como é isso.
      Disse muito bem.

    3. Theo Guedes Você é um herói trabalhando com o Corel Draw! Creio que só no Brasil ainda usam ele. Na Europa é considerado programa que vc compra em supermercado, tipo o Paint ou aqueles pra gerar Cartão de visitas em automático! Veja, houve uma evolução grande nos softwares para a produção do livro impresso, e ainda não parou. Creio firmemente que isto irá acontecer com o formato digital também. Mas assim como você criou material bonito e bem feito usando o Corel, creio que também com o formato ePub podemos criar coisas bem feitas com as ferramentas capengas que temos. 🙂

    4. José Fernando Tavares Hahaha mas eu não uso mais o Corel não =) Só quando eu trabalhava em gráfica mesmo… Tô usando a Adobe CS 5 (e tô puto com a ideia esdrúxula de cobrar pela 5.5 com soluções gambiarrescas mal-acabadas, humpf!)

  3. Os ePub Checkers nem sempre indicam os mesmos "erros"… Ainda é difícil decifrar o que muitos deles significam, sem falar que às vezes se você não consertar eles não faz diferença, nem no peso e nem no comportamento do arquivo. Ex.: o checker resolveu indicar erros nos "backlinks" das notas de rodapé de um arquivo… Passei horas na internet procurando referências ao tal erro e NADA! Moral da história: os links e backlinks funcionam perfeitamente… Seria tempestade em copo dágua?

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