Livro digital

Como Escolher o Formato Das Publicações Digitais Para Dispositivos Móveis – Parte 1

09/04/2012
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Após o boom da internet que aterrorizou a indústria gráfica/editorial no inicio dos anos 2000, propagando o fim (ou melhor, uma intensa redução) da utilização do papel na comunicação, o mercado gráfico/editorial viveu anos de reestruturação, devido à queda das tiragens e anunciantes. Mas estavam aliviados, pois se conseguiu certo equilíbrio entre web e impresso. Este cenário se manteve até dezembro de 2009, com o lançamento, no Brasil, do tablet iPad.

Neste momento, cabe uma reflexão: porque só  jornais, revistas e livros continuariam analógicos, sendo produzidos e distribuídos da mesma forma há décadas, enquanto todas as demais mídias migraram para o digital? No caso da música, essa migração ocasionou uma reforma na distribuição desse tipo mídia. Vídeos e filmes já caminham a passos largos nesta direção, enquanto fotos são compartilhadas todos os dias pelas redes sociais. Pois bem, a mídia impressa (leia-se o papel) até que resistiu bem, mas encontrou um contra-tipo à altura com a chegada do tablet.

A versão digital das publicações não é totalmente uma novidade. Há anos, muitos títulos usam o PDF (com ou sem interatividade) como opção digital, através de plataformas específicas como por exemplo a Issuu e o Zinio, ou distribuídas pelo próprio site da empresa. A questão é que a leitura em tela, neste momento me refiro aos desktops e notebooks, nunca foi uma tarefa agradável para a maioria dos usuários. Até hoje, muitas pessoas cultivam o hábito de imprimir relatórios e artigos para poder rabiscar, marcar, anotar, etc. Enfim, poder, de fato, interagir com a publicação e leva-la consigo para onde quiser – a tal mobilidade.

O quadro abaixo compara as três principais características de uma publicação impressa e digital, na era do PDF:

Papel Digital em PDF
Distribuição Cara, local, e ineficiente, dependendo de terceiros. Instantânea, global e sem custos elevados.
Produção Custos de papel, impressão, estoque e mão-de-obra Conversão da publicação impressa.
Comercial Modelo de negócio estruturado e conhecido Modelo de negócio em construção e experimental

Dentro desse cenário, as publicações digitais em PDF nunca convenceram, e durante anos foram utilizadas como um subproduto do impresso, apenas como mais uma opção de distribuição, sem agregar recursos realmente impactantes. A leitura é realizada apenas em computadores, mantendo o layout da versão impressa e muitas vezes com oferecendo uma usabilidade sacrificante e com nenhuma mobilidade. Esse modelo de distribuição não tinha como concorrer com a tradição dos impressos.

Antes do iPad, podemos comparar os prós/contra de cada mídia, em relação da usabilidade e recursos, conforme a tabela abaixo:

Impresso Digital (antes do iPad)
Prós
  • Experiência multissensorial: visão, tato, olfato.
  • Fácil de transportar.
  • Acesso imediato.
  • Experiência interativa básica.
Contra
  • Não busca o texto.
  • Ocupa espaço.
  • Esforço e tempo para a compra.
  • Pouca mobilidade.
  • Precisa de bateria/energia.
  • Desconfortável

 

Impresso Digital (depois do iPad)
Prós
  • Experiência multissensorial: visão, tato, olfato.
  • Fácil de transportar.
  • Acesso imediato.
    Experiência interativa básica.
  • Excede o limite da página.
  • Experiência interativa de alto impacto.
  • Uso de 2 layouts.
    Touchscreen – dispensa o uso do mouse.
  • Total mobilidade.
Contra
  • Não busca o texto.
  • Ocupa espaço.
    Esforço e tempo para a compra.
  • Precisa de bateria/energia.

Com o lançamento do iPad, os benefícios das versões digitais aumentarem e reduziram-se as limitações tornando esta opção bem mais atrativa, reforçado pela carga de inovação e impacto visual dos recursos de interatividade disponíveis no tablet. O uso crescente dos tablets (e antes dos eReaders, que são dispositivos específicos para a leitura em tela) popularizou o termo eBook para definir as atuais publicações digitais. Contudo outro termo vem ganhado destaque neste cenário – aplicativo, ou simplesmente, app.

Desde 2009, estou atuando no mercado de publicações digitais, inicialmente com o formato ePub e, a partir de 2011, com o formato Folio para tablets. Durante os treinamentos e consultorias que realizo, percebo muitas dúvidas de alunos e profissionais do setor editorial, além de  uma grande dificuldade em decidir por um modelo ou outro, entendendo os reais benefícios e limitações, conforme o tipo de conteúdo disponível.
Por isso, apresento neste artigo o manual de uso das Publicações Digitais, que servirá de guia para auxiliar na tomada de decisão de qual padrão deverá ser adotado – eBooks ou apps, conforme as características de cada processo, bem como seus desdobramentos em formatos, modelos de negócio/distribuição e dispositivos compatíveis.

eBook

eBook – Electronic book é um termo genérico que pode ser aplicado a qualquer tipo de publicação digital. Trata-se do produto final, e não define com clareza o tipo do documento, seus benefícios e limitações. A seguir, uma análise das possibilidades desse modelo de publicação digital.

Formatos

PDF – Portable Document Format

O clássico formato digital é reconhecido por toda gama de dispositivos, mas sua plena potencialidade ocorre em desktops e browsers, tanto em relação à usabilidade da leitura, bem como na aplicação de recursos interativos. Devido a sua característica de página fixa, o PDF não é indicado para leitura em dispositivos móveis (celulares, tablets, eReaders e smartphones) devido ao tamanho reduzido das telas. Outra limitação está nos recursos interativos que, em sua maioria, não são reconhecidos por esses dispositivos.

ePub – Electronic Publication

Formato desenvolvido pelo consórcio IDPF – International Digital Publishing Forum, nasceu para suprir a lacuna deixada pelo formato PDF, que não atende as novas necessidades de leitura nos dispositivos móveis.

Sua principal característica é possuir o conteúdo fluido, que permite sua fácil adaptação a diferentes larguras de tela, fato que não ocorre no formato PDF. Atualmente na versão 2.0, é destinado para produção de livros, com predominância de texto, com suporte ao uso de imagens, tabelas e demais elementos de layout. Permite incluir hyperlinks, vídeo e áudio, mas poucos leitores reconhecem esses últimos recursos. Contudo, esse cenário irá mudar com a crescente adoção do ePub3, que permite o uso de mais e melhores recursos de interatividade. Hoje, o formato ePub possui duas variações que merecem um comentário.

ePub de layout fixo
Este arquivo possui características semelhantes a um PDF, possibilitando um maior controle dos elementos no layout, melhor suporte no uso de fontes embutidas e uso de fotos em tela cheia. Sua produção é mais trabalhosa, pois é necessário tratar cada página individualmente, mas o resultado final é compensador, pois permite o uso de CSS3 e javascripts.

Sua maior vantagem é continuar um formato ePub, podendo ser distribuído pela iBookstore. Na verdade, atualmente, apenas os dispositivos da Apple suportam ePub de layout fixo. Vale destacar que encontra-se em andamento, no IDPF, um grupo de estudo sobre o layout fixo, o que abre a possibilidade de outros dispositivos e plataformas oferecerem suporte a esse tipo de ePub.

iBooks Author
Recente plataforma de eBooks lançada pela Apple, o iBooks Author permite a produção, no estilo drag-and-drop (faça você mesmo), de enhanced ebooks [veja definição no box O livro do futuro ], com um portfolio de recursos interativos em uma interface organizada e intuitiva. Trata-se de uma plataforma fechada, com distribuição apenas pela iBookstore. Para incluir os recursos interativos, é preciso exportar o conteúdo no formato próprio do iBooks – .iba.

Outros formatos: doc, txt, mobi

Em última análise qualquer documento digital pode ser considerado um eBook, até um arquivo do Microsoft Word. Dentre essas variações, o formato .mobi ganha destaque por ser o padrão utilizado pela maior plataforma de venda de livros digitais – a Amazon, através do seu leitor – Kindle.

Modelo de Negócio / Distribuição

O fluxo de produção dos eBooks propicia um modelo de negócio mais aberto e democrático, semelhante ao fenômeno ocorrido no mercado de música. Hoje, autores têm recursos técnicos e canais para distribuir sua arte – sejam em forma de música ou livros.

Certamente, a relação entre editoras e autores foi alterada pelo livro de digital, equilibrando um pouco mais a relação de força entre os participantes deste mercado. Porém, toda liberdade também traz novos desafios – a pirataria digital. Tema polêmico e que divide opiniões, o fato é que as principais editoras adotaram o DRM – Digital Rights Managent – como o guardião da propriedade intelectual na era do livro digital.  O contraponto desse cenário democrático, protagonizado pelo formato ePub, está na adoção por parte de grandes livrarias, como a Amazon, de um modelo fechado de distribuição e venda exclusivamente através de seu dispositivo de leitura – Kindle. E por falar em dispositivos…

Dispositivos

Os eBooks, sejam em qualquer formato são, sem dúvida, o tipo de publicação mais flexível atualmente, pois são lidos em uma ampla gama de dispositivos, desde desktops até smartphones, passando pelos tablets e, claro, os eReaders, que são específicos para esta função.

Em relação ao ePub, muitos designers e editores acreditam que a relação formato x dispositivo seja flexível até demais, visto que a grande parte dos leitores alteram muitos elementos da formatação do ePub, como: corpo e família da fonte, alinhamento, cor de fundo, entre outros.

O livro do futuro

Enhanced Books é um termo adotado no mercado para definir um tipo de livro com características distintas dos demais eBooks. A principal dentre elas é a própria narrativa da obra, que através de variados recursos de interatividade permite uma maior participação do leitor com a obra lida, através de toques, arrastos e movimento do tablet.

Baixe para o seu iPad exemplos de enhanced booksAlice-for-the-ipad e Fantastic Flying Books. Com exceção dos títulos produzidos pelo iBooks Author, a grande maioria dos enhanced books pertencem , na verdade, a outro modelo de publicação digital – mais recente neste cenário e introduzido exclusivamente pelos tablets – trata-se dos aplicativos. Leia sua análise na próxima parte desse artigo.

 

  1. Sei que a Amazon é o novo bicho papão do mercado editorial, mas se quisermos ser francos, o divisor de águas dos Ebooks é o Kindle, e não o ipad.

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