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Como ganhar uma discussão sobre livros eletrônicos

06/09/2012
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(colaboração de Ednei Procópio)

Em dez anos já ouvi de tudo nas discussões sobre eBooks, desde o básico “adoro o cheiro do livro” até o famoso “o livro impresso morreu”. Este post aqui foi inspirado em uma seção da Supertinteressante, revista mensal que leio em um dia, às vezes menos. A ideia é simples: mostrar que esta discussão ainda tem de fato dois lados, e não é difícil defender qualquer uma deles. O eBook é a última fronteira na digitalização das mídias. Estariam o mercado editorial e os leitores tradicionais preparados para um novo modo de se produzir e ler os livros? Ou veremos, em breve, a volta ainda mais intensa e forte do tradicional livro impresso, na sua condição sob demanda?

Contra o eBook

DIGA

De hum milhão de livros registrados no Escritório de Direitos Autorais, pelo menos 300 mil títulos impressos ainda encontram-se à disposição de em torno de 3.000 mil pontos de vendas, entre eles livrarias, e pelo menos 70 mil bibliotecas. A cada ano, de 20 a 30 mil títulos impressos novos são publicados no mercado. Em mais de uma década de história, porém, o número de títulos eletrônicos em lingua portuguesa ainda não chegou a casa dos 20 mil títulos disponíveis. Sem conteúdo, não existe livro.

ELE VAI DIZER

O eBook é mais leve e, portanto, mais portátil que a versão impressa. Não pesa e, na mochila, não causa dor nas costas. É também mais acessível a população, é de 30 a 50% mais barato que a versão impressa. É sustentável no sentido que não utiliza água nem derruba árvores na sua produção. Em um único equipamento o leitor pode levar uma biblioteca inteira de livros interativos. Quantas pessoas no Brasil tem uma biblioteca pessoal física?

RESPONDA

Fora ser pífia a quantidade de títulos eletrônicos em língua portuguesa, falta bibliodiversidade e conteúdo de qualidade; a base instalada de tablets ou e-readers ainda não é suficiente para se criar um mercado potencial. Falta massa crítica. Falta modelo de negócios. Faltam leitores. Falta convergência. Já o livro impresso permite ao mercado editorial um faturamento anual seguro, já na casa dos 3 bilhões de reais.

ELE VAI DIZER

Em 2020, pelo menos 50 bilhões de aparelhos, dentre eles desktops, notebooks, laptops, netbooks, ultrabooks, tablets, e-readers, smartphones e até smartTVs, estarão conectados à Web com seus usuários em busca de conteúdo. Nestas telas estará o novo modo como as pessoas irão ler no futuro.

RESPONDA

Um smartphone dura em média apenas 3 anos. A bateria de um hardware móvel dura no máximo 1.000 recargas, a maioria dos equipamento até menos. Mídias como CD e DVD duram no máximo 5 anos e começam a apresentar deterioração. O HD, então, nem se fala, começa a apresentar risco de perda de informação depois dos primeiros 5 anos também. Já o livro tradicional dura pelo menos, no mínimo 50 anos. O manuscrito mais antigo da Biblioteca Nacional, por exemplo, tem 10 séculos. Nem vou citar aqui os tabletes sumérios.

E PARA O FIM DE PAPO

Sem contar a questão da conexão aos serviços da Internet que, no Brasil, é cara, lenta e sem qualidade. Enfim, o usuário não tem equipamento adequado e nem conexão para formar um mercado. Sem Internet não há conexão. Sem conexão não há acesso. Não há consumo e leitura. O eBook ainda está fora da realidade brasileira.

A Favor do eBook

DIGA

O livro eletrônico é perfeito tanto para as livrarias quanto para as bibliotecas, que agora podem ser virtuais e estar em todos os municípios brasileiros aonde o livro impresso não chega. O livro eletrônico pode auxiliar no processo de ensino e aprendizagem de um modo mais lúdico, rico e interativo.

ELE VAI DIZER

O livro eletrônico não tem um formato padrão, como é o caso do suporte papel, que facilite a portabilidade para o usuário comum. Não há padrão nem para aplicativos e nem para hardware. São tantos os sistemas operacionais [Android, iOS, Windows Phone, etc.] e tantos formatos [HTML5, PDF, ePub, KF8, MOBI, etc.] que me causa confusão. Para cada plataforma existe um padrão diferente, cuja tecnologia esconde interesses bastante escusos. E o leitor comum ainda prefere o suporte papel. Muito mais simples de comprar, manusear e ler.

REPITA

O eBook é mais leve e, portanto, mais portátil. É também mais acessível a população, de 30 a 50% mais barato que a versão impressa. Fora isso não usa água nem derruba árvores. O livro eletrônico está mais próximos dos jovens que os antiquados livros impressos.

ELE VAI DIZER

O risco da pirataria é muito maior nas plataformas digitais. Veja o exemplo da indústria fonográfica que teve de margar o maior prejuízo de sua história. Simplesmente acabou com milhares de empregos e também com a cultura musical. O livro eletrônico segue a tendência própria da Internet, sem controle e sem destino. Sem contar com a superficialidade da leitura online, sem valor ou cognição. Seria o fim da carreira do autor. Para não dizer o fim da própria leitura.

RESPONDA

O livro eletrônico permite que novos autores tenham acesso a indústria cultural dos livros e democratiza a oportunidade deles tornarem-se best-sellers. E uma nova geração de leitores pode se formar com este novo modo de leitura. Mais dinâmico, livre e moderno. Graças aos eBooks nunca se falou tanto em livro na história recente. Gutemberg sim ficaria tonto com tantas possibilidade.

E PARA ARREMATAR DE VEZ

Em 2030, o livro eletrônico certamente terá ultrapassado o livro tradicional em acesso, audiência, consumo e leitura.

 

  1. Bacana a postagem.

    “O manuscrito mais antigo da Biblioteca Nacional, por exemplo, tem 10 séculos. Nem vou citar aqui os tabletes sumérios.”

    endeusamento da mídia em detrimento do conteúdo: os tabletes sumérios são resquícios e fonte útil de informação sobre aquela civilização e no entanto nos proveram de menos informação do que cabe hoje em um pendrive. Estão sujeitos à deterioração física, à inundações e catástrofes. Quantos não devem ter sido perdidos?

    Informação em meio digital contudo é facilmente replicável e distribuída. Essa redundância, intangibilidade (independência da mídia) e disponilidade em rede tornam possível que informação digital se propague pelo tempo e espaço mais do que qualquer outro artefato humano.

    Felizmente, tenho certeza que os tabletes sumérios assim como várias obras clássicas já foram devidamente digitalizadas.

    Músicas que copiei de CDs já há muito esquecidos ainda hoje tocam em software mp3 nos diversos dispositivos que já tive. Livros querem ver-se livres de suas capas de couro e voar pelos ares da imaginação…

  2. Uma bela discussão, sem dúvidas!

    Entre tantas consequências positivas sobre a expansão dos livros digitais, uma eu sinto todos os dias. Quando entro na sala de casa, fico espantado com o vão que a estante cheias de livros impressos deixou.

    Ah! é claro, temos poucas edições digitais de qualidade disponíveis em ‘português’. E também poucos eReaders, e poucas pessoas tem acesso ‘real’, etc.. Mas, estamos diante desse ‘novo paradigma’; e isso, de maneira lenta, está modificando em vários aspectos a forma do viver humano.
    Com o crescimento e as facilidades de acesso cada vez maiores, poderemos adquirir conhecimentos antes restritos aos mais ‘afortunados’, termos acesso às informações de forma geral, e, me atrevo a dizer, direcionarmos de forma diferente nossas existências.

    Pena que aqui no Brasil e em países ‘do tipo’, tudo que esteja ligado a cultura, aos estudos e aprendizados, é tristemente retardado.
    A razão é OBVIA!

  3. Acredito que para as obras de referência e consulta, como enciclopédias e dicionários, o e-book é imbatível. Para literatura ainda tenho minhas dúvidas.

    Mas essa história de que o e-book é mais ecológico pra mim não cola. Alguém sabe quanto de carbono é emitido para a fabricação de um tablet? Preciso de um argumento mais forte – e de números – para acreditar que o e-book é mais ecológico.

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