O rei está morto

O eReader Está Morto. Longa Vida ao eReader!


Tudo leva a crer que o conceito de “Tablet” veio pra ficar. O eReader está morto. Longa vida ao eReader!

Apesar de acharmos muito desconfortável a leitura nesses dispositivos pela sua retroiluminação, a percepção geral é de que o eReader convencional não traz muito valor percebido (pasmem!) …

Isso mesmo, muitos usuários enxergam o eReader como um dispositivo “limitado” e que serve “apenas para ler livros”. Que triste constatação.

Verifiquei isso em conversas com muitos (prováveis e eventuais) usuários dos leitores e (todos) eles comungaram com essa opinião. É legal, mas é só isso?
Vejam só o que faz o efeito iPad…

Em minhas pesquisas, muitos desses usuários sequer entendiam exatamente como um “desconforto” a leitura nos dispositivos retroiluminados. Pelo contrário, alguns deles acharam inclusive que seria uma função interessante (!?). Para a maioria, a leitura na cama é o momento ideal de leitura – muitas vezes único – e como essa leitura geralmente não passa de uma hora, não acham que seja exatamente um desconforto essa limitação. Ou seja, preferem comprar e pagar por um dispositivo mais robusto que tenha mais funções do que adquirir um produto limitado (apenas!) para leitura.

Penso que a questão precise ser analisada mais profundamente, por outros aspectos e prismas.
A própria leitura de livros não é uma frequente entre os jovens, com ou sem dispositivos para leitura. A tendência é continuarem a dedicar o mesmo tempo atual para essa atividade. Porém, esses jovens usuários não desejam simplesmente “ler” em um dispositivo eletrônico: querem interagir, acessar sites, ver vídeos, tudo ao mesmo tempo… Este é o NOVO usuário padrão.

Situações que muitos defendem como inquestionáveis, tipo “os Tablets são dispersivos”, ou ainda “a leitura retroiluminada dos Tablets cansam a visão”, etc, não parecem ter maiores impactos no (grande) jovem público.

Estamos falando de um usuário que há algum tempo adquiriu o estranho hábito de comer no colo, escrever no colo e… usar notebook no colo. Para esta geração, não é nem um pouco desconfortável a situação da leitura nos ditos Tablets. Bem pelo contrário, crêem estar mais “antenados” nesta profícua posição. Dessa forma sentem-se mais “confortáveis” com um dispositivo eletrônico para leitura, mas querem que esse dispositivo faça mais.

Creio que as limitações de “tela” sejam o consenso das fronteiras atuais entre um eReader convencional e os Tablets tradicionais. É claro que alguns leitores têm funções adicionais, assim como nem todo Tablet é cheio de funcionalidades como o revolucionário iPad. Penso que a “tela” sim, seja o melhor divisor de águas para definirmos estas fronteiras.

A tecnologia e-Ink ainda é a única que dá um nível satisfatório de conforto para a leitura, e sem dúvida ocorre o cansaço da visão na leitura para a maioria dos Tablets. Mas vejam: os Tablets “também” são para leitura… Os eReaders apenas são PARA isso.

Aparentemente, o grande público está mais inclinado para dispositivos que ofereçam mais, do que para aqueles que ofereçam menos, mesmo com mais qualidade percebida de leitura.

Este ponto é fundamental para analisarmos, pois advogo com freqüência a causa de que o livro é na verdade uma “ideia”.
Esta “ideia”, por falta melhor de expressão, teve que num determinado momento acomodar-se no formato “texto linear”, ou seja, um livro. Acredito que nós, enquanto profissionais envolvidos no mercado editorial, deveríamos ter uma visão um pouco mais ampla sobre esse tema.

A questão não é “se” o melhor padrão é o ePub, Mobi, PDF ou o que seja ideal.
A questão é saber como disponibilizar conteúdo editorial (prefiro esse termo ao invés de “livro”), com aderência a sua forma de pensar e de agir. O “e-book” é portanto um conceito. Não um padrão.

De fato, temos visto “e-books” desde quando o primeiro arquivo texto (seja Word, PDF ou qualquer outro) começou a circular através de uma mídia digital. Assim e-book não deveria ser sinônimo de ePub, o que aparentemente está se tornando uma crença no meio editorial. É importante destacar que essa é uma visão conveniente para o “meio editorial”, que necessita de escala e padrões para distribuição. Mas esse padrão não está ainda solidificado na visão do leitor final e para este público inclusive, o formato PDF é ainda sinônimo de conforto… Pasmem, mas é isso.

Estaria faltando “evangelização”, “utilização” ou ainda “promoção”?

Penso que o que esteja faltando são produtos especificamente desenvolvidos para “leitura” digital, e não padrões mais preocupados com a migração do que existe hoje para plataformas digitais. Não precisamos ir longe para verificarmos isso. A primeira coisa que se pergunta é: “ o seu livro está em quê? Word? InDesign? Corel Ventura?

Notem que há uma tendência a linearidade quando falamos assim.
Nossa tendência natural é “convertermos” o que existe para um padrão “digital”. A preocupação deveria ser outra: será que esse “produto editorial” que hoje é um livro, deveria continuar desta mesma forma em sua versão “e-book”? Será que este novo produto não ficaria melhor se fossem acrescentados elementos multimídia mais agradáveis e interativos? Será que o livro com começo, meio e fim realmente é a melhor escolha?

Essas são questões interessantes de serem abordadas, pois penso que se não houver um “upgrade” funcional no “livro”, talvez a melhor coisa fosse ele continuar a ser produzido em papel mesmo. Pois se algo é imutável e inflexível, a melhor mídia para isto é a impressão.

Se pretendemos que haja futuro para as publicações eletrônicas é melhor começarmos a avaliar as vocações de um produto editorial, antes de rotular que o futuro dele seja um “e-book”, seja lá o que cada um entenda pelo termo. Muito menos dizermos que os eReaders são o suporte para essa leitura…

Ok, ok… livro é livro, concordo.
Aliás, minha opinião é de que o melhor formato para isso atualmente é o ePub e preferencialmente visualizado em um dispositivo com e-Ink. Mas penso que essa é muito mais a NOSSA opinião. Aparentemente, não é a opinião do novo grande público.

O eReader como o conhecemos de fato está natimorto.
Mas como não tem ainda um substituto a altura, deve demorar um pouco para desligarem os aparelhos.

Le Roi Est Mort, Vive Le Roi!

 

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