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HarperCollins Pode Incluir Propaganda em eBooks – o Livro Vai Perdendo Sua Aura Sagrada

16/11/2011
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Essa parece ser ainda uma especulação pura e simples, e a ideia nem é tão nova (Amazon e Kobo já fazem a mesma coisa, só que nos eReaders). Mas a editora HarperCollins, uma das maiores editoras de língua inglesa, considera ela mesma a possibilidade de incluir propagandas dentro de seus eBooks. O TeleRead destacou o comentário do diretor e editor David Roth:

Certain kinds of books create immersive reading experiences whereby ads would be too interruptive for readers, and publishers and even advertisers aren’t likely to put a premium on that. But information books, for example a Collins birds guide, could provide very valuable real estate for contextual advertising – in this case potentially a binoculars manufacturer.

Como o Chris Meadows do TeleRead comenta, é algo que já funciona para revistas…

A grande barreira cultural/intelectual que nós enfrentamos, neste caso, é uma coisa que Walter Benjamin explorou muito profundamente (e eu só vou arranhar a superfície aqui): a “aura” da obra de arte, o seu caráter de coisa “sagrada”. Para muitas pessoas, um livro é um objeto sagrado. Incluir publicidade, dentro dele, em meio a seu conteúdo, seria o equivalente a profanar esse status, tornar ele algo banal. Mesmo que a propaganda fosse claramente separada e diferenciada do resto do conteúdo, sua simples presença já seria considerada ruptura.

Isso é um problema para quem enxerga o livro como algo sacro, que deveria permanecer livre, digamos, de um “secularismo publicitário”. O “livro”, objeto e conceito, está se tornando efetivamente um produto realmente massificado com a popularização da leitura digital. Se há 60 anos era um processo trabalhoso – e em boa parte muito manual –, hoje a situação mudou radicalmente e uma pessoa só precisa saber ler, escrever e ter acesso à Internet para publicar e vender livros. Estamos todos a um clique, toque ou suspiro de distância de quase todo o conhecimento já escrito pelo homem. Com esse progresso todo, as empresas tradicionais que publicam livros precisam se virar para sobreviver, e bem… acabam encontrando soluções típicas do nosso mercado massificado e tecnológico, como a publicidade dirigida, associada a certos conteúdos.

A questão, a meu ver, não se resume em ser contra ou a favor disso. O processo é inevitável, e ele já está acontecendo, o livro está perdendo a “aura” do Walter Benjamin. A questão é tentar enxergar mais longe e ver onde isso nos leva, quais as oportunidades e as ameaças que isso traz para quem trabalha na área, e de um modo mais amplo, para a sociedade como um todo.

Eu penso que, na teoria, a troca é justa: o livro se torna um produto de massas, perde a aura de vaca sagrada, e mais pessoas ganham acesso à leitura. O que deveria nos preocupar é se os leitores, quando a leitura se tornar definitivamente um fenômeno digital, ainda terão o mesmo poder de escolha que têm hoje. Será que a leitura digital terá competição livre, com várias empresas competindo pela atenção dos leitores, ou será um mercado em que poucas empresas selecionam e decidem o que as pessoas devem ler?

 

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