Pesquisa Retratos da Leitura no Brasil traz números conflitantes sobre eBooks

21/06/2012
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Número de compradores de eBooks (1.2 milhões) não fecha com a realidade brasileira;
Discrepâncias quando estima o número de usuários da Internet que baixam livros.

No final de março, foi divulgada a 3a edição da pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil“, realizada pelo Ibope a pedido do Instituto Pró-Livro, entidade fundada pela CBL, SNEL e Abrelivros. A pesquisa dedica um capítulo aos livros digitais e traz números interessantes, mas conflitantes com o que observamos no cotidiano. Este texto vai analisar os conflitos nos dados sobre os eBooks, sem desmerecer os méritos indiscutíveis e gerais da pesquisa.

A pesquisa entrevistou 5.012 pessoas entre 11 de junho e 3 de julho de 2011, de modo que os dados refletiriam a realidade de um ano atrás. Segundo a pesquisa, 30% dos entrevistados já teriam ouvido falar em livros digitais, equivalendo a 53 milhões de brasileiros. Destes, 82% nunca leram um livro digital, 17% leram no computador e 1% no celular. O número de usuários de livros digitais no Brasil, ou seja, pessoas que já leram pelo menos um eBook, equivaleria a 9.5 milhões de pessoas, ou 5% da população total do país.

Número de compradores
não fecha com a realidade

A pesquisa perguntou a este contingente de 9.5 milhões de pessoas, se elas pagaram ou baixaram de graça. A resposta foi que 13% teriam pago pelo download (os 87% restantes comento logo mais). Isso representaria nada mais, nada menos que 1.2 milhão de pessoas comprando eBooks no Brasil, entre junho e julho de 2011. Um período no qual o acervo de eBooks em português, disponível para venda, era bem menor que os 12 mil eBooks disponíveis em fevereiro/2012.

Quando olhamos no retrovisor,  vemos que a Saraiva, maior rede nacional, reportou em abril de 2012 que tinha chegado a um faturamento mensal com eBooks de R$ 300 mil. Ora, é um número que revela indiretamente que, atualmente, ainda são muito poucos os compradores de eBooks. E a Saraiva, gostem ou não os leitores, é a maior rede nacional de livrarias e responsável por metade das vendas de livros no varejo. Se a Saraiva vende pouco, os outros vendem menos ainda. Pedro Herz, da Livraria Cultura, disse em dezembro de 2011 que a venda de eBooks “era mínima”. E são as maiores livrarias do país afirmando isto.

Se tal contingente de 1.2 milhão de compradores fosse real, onde estes eBooks estariam sendo comprados, se não eram comprados nas livrarias do Brasil? Na Amazon e na Apple? Dificilmente. É certo que existe um contingente de consumidores que compram eBooks na Amazon e na Apple. Porém, a esmagadora maioria da oferta é de livros em língua estrangeira. Os eBooks em português nestes canais são nulos, no caso da Apple, ou muito poucos, no caso da Amazon, que tinha 4 mil eBooks em português em fevereiro/2012. Será que o Brasil tinha tantos compradores de eBooks em línguas estrangeiras na metade do ano passado?

Os 87% restantes: Discrepância na comparação entre
“usuários de Internet que baixam livros” e
“usuários de livros digitais que baixaram de graça”

Os 87% restantes, equivalentes a 8.3 milhões de pessoas, responderam ter baixado seus eBooks de graça. E aqui  há um conflito evidente nos dados apresentados. A pesquisa apresentou a base de usuários de Internet no Brasil e chegou a um número de 81,4 milhões de usuários. Destes, apenas 7%, ou 5.69 milhões, usariam a rede para baixar livros digitais.

Ora, como pode o Brasil ter 5.69 milhões de usuários de Internet em geral, que baixam livros, e ao mesmo tempo ter 8.3 milhões de pessoas que baixando eBooks de graça? É uma contradição evidente nos resultados.

Em defesa da pesquisa, apesar de todas as contradições que revela, ela está mais próxima da realidade do que os números apresentados pela Bowker, empresa americana especializada em dados bibliográficos. A Bowker apresentou recentemente uma tabela em que o Brasil teria tido 15 milhões de compradores de eBooks nos últimos 6 meses… mais difícil é acreditar nessa, comparando com as informações do mercado e com a própria pesquisa Retratos da Leitura no Brasil.

 

  1. Eu acho (acho mesmo, é um chute) que deve ter muito mais gente comprando e-books na Amazon do que em livrarias nacionais. No último Congresso do Livro DIgital, o Pedro Huerta disse que a Amazon vendeu mais de 5 milhões de livros em inglês para países de língua não inglesa, e que o Brasil representava uma grande parte disso. Não sei se essa "grande parte" chegaria aos 1,2 milhões de pessoas que aparecem na pesquisa, mas acho que já ajuda a explicar esse número.

  2. Fontes seguras me dizem que nenhum player de ebook nacional passou números para alimentar esta pesquisa. Falando com Amazon e um responsável pelos ebooks da Barnes and Noble, fiz a incrível descoberta de que na Amazon, somos o 5º país que mais compra ebooks. E sabe em que lugar estamos na Barnes? Em terceiro baby!!!!

  3. Se a indústria editorial brasileira tivesse o mínimo de competência no quesito livro digital, talvez o número de compradores aumentaria.
    Quem tem Kindle e quiser comprar livros em português para ler no melhor leitor digital do mundo, simplesmente fica a ver navios!!!

    QUE VENHA A AMAZON!!!

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