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Leitor responde Carta Aberta da ANL

11/12/2012
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O leitor do Revolução eBook, Gabriel Lecomte Pinho e Souza, de Salvador, envia hoje uma carta aberta em resposta à Carta Aberta da Associação Nacional de Livrarias. A ANL pediu, semana passada, que fossem estabelecidas regulações no mercado de ebooks, para proteger as livrarias. Veja a resposta de Gabriel, reproduzida na íntegra:

Salvador, 10 de dezembro de 2012

Prezado Sr. Ednilson Xavier,

Primeiramente, gostaria de informar que escrevo esta carta em resposta à carta aberta da ANL a respeito do comércio de livros eletrônicos (ebooks) em território brasileiro. Também gostaria de informar que a sua carta foi vista por alguns como uma medida protecionista por parte das livrarias, mas não é sobre tal ponto que desejo falar.

Quero, por meio desta, deixar claro para o senhor que a entrada dos livros eletrônicos com custo significativamente menor do que a versão em papel no Brasil é uma ótima notícia para o brasileiro, já que este, quando vai a uma livraria, se depara com livros que, na grande maioria das vezes, custam, no mínimo, 30 reais (um preço absurdo, na minha opinião, já que o livro é produzido em território nacional). Tomando como base esta situação, creio que o senhor não pode usar o fato de que o Brasil possui um baixo índice de leitura como argumento, já que os preços abusivos dificultam o estímulo à leitura. Os ebooks de baixo custo teriam esse papel no mercado de livros brasileiros, trazendo ao cidadão a possibilidade de ler pagando menos. Medidas como as que o senhor sugeriu (a exemplo dos 30% de diferença entre os preços) apenas dificultam o acesso ao material literário.

Como foi mencionado no material, duas a cada três cidades brasileiras não possuem livrarias. É preciso, também, levar em conta que 48% das cidades brasileiras tem acesso à internet, e, por conseguinte, aos ebooks. Por isso, o mercado brasileiro deve se modelar para atender melhor ao consumidor. Sugiro, então, que as medidas favoreçam o uso dos livros digitais, e não o contrário. Um bom exemplo de que tal adaptação é benéfica é a Barnes & Noble, livraria americana que hoje vai muito bem, e elaborou, inclusive, o seu próprio leitor de livros digitais.

A respeito dos prazos sugeridos pelo senhor, gostaria de dizer que os mesmos são desconexos, não há porque aguardar para lançar um livro no formato digital, já que ele é exatamente igual à sua versão física. Não se pode, então, comparar tal prazo ao período existente entre o lançamento de um filme e a sua versão em DVD. A comparação correta seria entre um DVD e um Blu-ray, já que se encontra o mesmo conteúdo, só que disponível em mídias diferentes.

Me arrisco a afirmar que, se tais medidas forem aplicadas, será um grande passo para a pirataria, que poderá evoluir, já que a procura por versões “genéricas” de livros irá aumentar, devido aos preços abusivos e aos tempos de espera até que os ebooks cheguem às prateleiras. Peço, então, que o senhor repense tudo o que disse na carta aberta que escreveu, já que tais sugestões poderão prejudicar a muitos.

Atenciosamente,

Gabriel Lecomte Pinho e Souza

 

  1. Exatamente!
    Se tivermos que esperar 120 dias antes de poder comprar um e-book nacional, muita gente vai: (a) comprar um e-book em inglês, bem mais barato, ou (b) procurar um arquivo pirata na internet.
    Por outro lado, se os e-books forem lançados ao mesmo tempo que as versões físicas E a um preço bem mais barato que elas, o leitor vai comprar o e-book (ganha-se na quantidade vendida) e depois pode até comprar o livro físico para sua coleção, já que muitos leitores gostam de ter o livro na estante, mas preferem ler um livro volumoso como as Crônicas de Gelo e Fogo em versão digital, pela praticidade e para não carregar um livro pesado. Pessoalmente, já comprei as edições em papel de vários livros que já havia lido no computador, pois gosto de tê-los na estante para reler mais tarde. Detalhe: tenho comprado no The Book Depository, pois não me importo de ler em inglês e os livros são muito mais baratos que as versões nacionais.
    Portanto, são vários pontos que os senhores da ANL poderiam levar em conta ao tentar se adequar ao novo mercado literário brasileiro.
    Abraços!

  2. Gostei, uma boa resposta. Imagino que este mesmo cidadão que escreveu a carta para o governo provavelmente pediria as mesmas coisas se estívessemos na época em que surgiu o formato brochura, muito mais barato, e que diziam que iria prejudicar o modelo de negócios nos eua.

  3. Bom texto. No tocante à questão política, apenas um acréscimo: uma coisa que toda e qualquer empresa — incluindo livrarias, claro — deveria fazer, é protestar contra os impostos e tributos em geral e contra a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), que não é senão uma excrescência advinda da Era Vargas, um código de leis totalmente chupado da Carta del Lavoro de Mussolini. Qualquer empreendimento no Brasil é extremamente complexo e arriscado devido a um EXCESSO de Estado, e não exatamente por causa da concorrência. O Estado, com suas leis trabalhistas literalmente fascistas e com sua sugação de dinheiro, é que impede o bom andamento dos negócios e a real satisfação dos consumidores. Precisamos de um Estado mínimo. Empresários precisam parar com essa mania de recorrer ao governo cada vez que há um problema — o Estado é que é o problema!

    Outra coisa que me chamou a atenção na carta da ANL é a ausência de menções aos escritores. Ora, as editoras e livrarias são um meio para conectar o autor ao leitor. O autor e o leitor é que são os pólos fundamentais da “questão” livro. Escritores não ganham mais que 10% (às vezes até 20%, se for um bestseller) do preço de capa do livro há séculos! Os ebooks permitem ao autor ganhar entre 35% e 70%, uma revolução. E, se o preço do ebook é menor, tanto melhor: porque as vendas são maiores, afinal, há quem compre o livro apenas para “ver qual é”. Eu mesmo já fiz isso. Se o ebook é bom, ótimo, se não o é, não há grande prejuízo. Ademais, qualquer escritor iniciante pode publicar de imediato, sem precisar passar pelo crivo do editor, que, no fundo, nunca foi um crivo baseado num critério estético, mas comercial. (No filme “Livro de Cabeceira”, o editor também exige que o escritor se deixe sodomizar por ele! Uma ótima metáfora, porque é assim que os autores recusados se sentem!) Editores não querem falir, não querem prejuízo, não querem ver a edição encalhada. Mas o ebook acaba com esse problema! E cabe aos críticos e leitores dizer se vale ou não à pena adquiri-lo. Se o ebook não vender, não ocupará mais que 1MB num servidor, não será como uma edição de 10.000 livros entulhando uma sala. E esse problema com as editoras não ocorre apenas com escritores iniciantes. Fui secretário e webmaster da escritora Hilda Hilst, que, na época, tendo mais de 70 anos e mais de 40 livros escritos, não conseguia uma editora para publicá-la e distribui-la a contento. Assinou com a Editora Globo apenas uns dois ou três anos antes de falecer, quando já devia mais de 800.000 reais de IPTU. O conselho da Hilda aos jovens autores era: “Escreva em inglês” — porque em português você pode acabar na miséria… (Com o ebook, há uma chance!)

    Quanto ao medinho de não se encontrar livros de papel, besteira: nenhuma mídia nova jamais acabou com uma velha. Há rádio até hoje! Se gostar muito do ebook que comprou, compre o livro impresso e coloque-o na estante. Se for de um autor não editado por uma grande editora, compre o livro numa editora que imprime sob demanda. Essa gente está esperneando, mas as coisas estão bem melhores agora.
    Abraços!

  4. Adorei essa resposta a carta aberta da ANL. A ANL esta tentando protege APENAS, e somente apenas as livrarias. Não estão pedindo nada que favoreça o leitor. Atitude lastimável. Parabéns ao leitor Gabriel que respondeu.

  5. Hollywood, Estados Unidos, anos 30: “Calma gente, o cinema falado é só uma moda que não vai pegar. Nada vai conseguir superar o bom e velho cinema mudo.”

    Internet, Brasil, início do Séc. XXI: a ANL tem um pronunciamento a fazer…

    Quem não conhece a história está fadado a repiti-la 🙂 hehehe

  6. Parabéns pela carta, a preocupação das livrarias é com o lucro que me fez pagar mais de 100 reais por anos em livros da minha área, ou que me obrigou a esperar dias e dias quando da importação, sem contar alguns livros com traduções sofríveis em alguns casos.

    1. Protecionismo de mercado no que diz respeito a informação ou aos meios que levam esta para as pessoas é uma tremenda sacanagem do jeitinho brasileiro de ser incompetente como empresário e manipulador de massas FDP enquanto político.

  7. Essa medida proposta pela ANL é completamente sem sentido.
    Lembro quando saiu o Harry Potter 7 nos EUA e o tempo entre o lançamento lá e o lançamento aqui. Como fã da série, eu estava muito ansioso para saber o final e um grupo de internautas lançou uma tradução paralela para download bem antes de sair o livro oficial aqui. Eu baixei e li essa versão.
    Mas fiz questão de comprar a versão oficial assim que saiu para, inclusive, reler com a tradução profissional.
    Essas medidas protecionistas só servem para afastar mais ainda as pessoas da leitura.

  8. Gostei, uma boa resposta. Imagino que este mesmo cidadão que escreveu a carta para o governo provavelmente pediria as mesmas coisas se estivéssemos na época em que surgiu o formato brochura, muito mais barato, e que diziam que iria prejudicar o modelo de negócios nos EUA.

  9. A ANL só pode estar desesperada, com tanto medo que pirou de vez. O livro digital é uma maravilha, mas para causar tanto alvoroço ainda vai demorar. Quantas pessoas no Brasil tem tablet? Quantas dessa pessoas lêem nos tablet’s? Gente o Ebook não é a panacéia que estão pintando. Temos que pensar primeiro em formar leitores e para isso é necessário que os autores e as editoras se preocupem em fazer bons livros. Encontrar atualmente um bom livro de escritor brasileiro por R$ 30,00 reais é milagre! Comprei dois livros, que lí primeiramente em PDF, um foi 43 e outro 48 e ainda tive que encomendar! Sendo que os livros importados são em media 29 reais. E acho que o livro digital custa 70% do livro físico é MUITO CARO, sou vou ler uma vez, não posso emprestar e não posso trocar. Acho que deveria no máximo custar 30% do valor de capa. O Brasil já tem poucos leitores e poucos que tem a ANL ainda que acabar …

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