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A leitura digital pode ressuscitar os contos?

12/03/2013
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De Machado de Assis a Julio Cortázar, a literatura de contos era uma modalidade bem-sucedida. Na verdade era o sucesso do início da indústria cultural. A revista Weird Tales, que ainda existe, lançou escritores como Robert Erwin Howard – autor das crônicas de Conan, o Bárbaro. O texano só escreveu um livro sobre o guerreiro cimério (“A Hora do Dragão”) – ainda assim, em formato de contos – e dezenas de short stories. Musashi, best-seller de Eiji Yoshikawa, foi publicado em 1013 episódios no jornal Asahi Shimbun.

Com a internet e a blogosfera, esse gênero assumiu outro formato. As revistas literárias entraram em declínio, e a web absorveu toda a produção, mas de forma praticamente gratuita ou com remuneração oriunda de anúncios. Agora os contos – ou singles – estão voltando em seu estilo clássico, só que nos eReaders, smartphones e tablets.

Essa é praticamente uma exigência dos leitores. O volume de informações consumido diariamente dispersa a atenção e altera as nossas necessidades informacionais. É preciso paciência para concluir a leitura dos cinco (até agora) livros da série Game of Thrones – depois disso, o leitor pode se considerar um doutor quando o assunto é Westeros. A tendência vai na outra mão. Com tablets na mochila e smartphones no bolso, os leitores querem uma leitura mais imediata, mas sem perder qualidade: o TED, por exemplo, lançou o TED Books, com “singles” baseados nas palestras em vídeo, escritos pelos mesmos autores.

Modelos

O TED Books trabalha com o modelo de assinatura: por US$ 4,99 por mês, o usuário recebe atualizações de novos livros a cada duas semanas; além de ter acesso ao restante do catálogo. O Kindle Singles, programa lançado pela Amazon em 2011, também segue essa maré. Uma reportagem publicada na Folha enfatiza os ganhos em royalties dos autores: até 70%, embora cada título custe cerca de um ou dois dólares.

Outra maneira de distribuir essas histórias é através das revistas digitais: em vez de vender os “mini eBooks” individualmente, divide-se em edições, com um determinado número de contos, exatamente como o velho modelo de negócios da Weird Tales. A revista The Unvited é um exemplo desse modelo. Com três contos e duas “comics” (HQs), a revista foi lançada inicialmente como um livro – já que para adotar o modelo de assinaturas, a Apple exige que pelo menos quatro edições estejam no ar. De acordo com o editor Adam Blainey, “atualmente, a receita vem das vendas do aplicativo. No entanto, estamos trabalhando para entrar no modelo de assinaturas no iOS, no máximo até o próximo ano”.

A revista por enquanto remunera os autores individualmente segundo valor fechado em contrato. “Geralmente o que eles pedem. Não temos padrões industriais, preferimos não seguir por esse caminho”, diz. O selo Pterotype Digital, pertencente ao mesmo grupo editorial (Rock Bay Media), vende títulos individuais na Amazon – histórias curtas, ou singles, com aproximadamente 30 ou 40 páginas. A remuneração, nesse caso, é feita com base nas vendas, e os autores ficam com 80% do valor.

Contos são mais fáceis de se produzir, têm uma leitura mais fluida e rápida – leitura de banheiro, de ônibus ou de sala de espera – e dá uma dose de intensidade instantânea e passageira no leitor. Como resultado, o autor não se perde em devaneios detalhistas, a fase de produção é mais rápida e eficaz e as necessidades informacionais de um público leitor é atendida. Além de tudo, é mais barato de produzir e distribuir do que uma revista literária. Essa é uma modalidade de leitura que deverá ganhar mais espaço nos próximos anos.

 

  1. Seria bacana se isso realmente engrenasse, mas sou forçada a discordar da afirmação que contos são “mais fáceis de se produzir”. E discordo em dois aspectos… produção me parece um termo mais aplicável ao processo de edição, portanto posterior ao da criação. Segundo, a criação de um conto não é necessariamente menos árdua que a criação de uma novela ou romance, quem leu qualquer dos contos de Ficções, do Borges, há de concordar.
    Esse modelo de pagamentos mensais me parece muitíssimo prático e tem ainda a vantagem de, no exemplo citado, envolver de algum modo um processo editorial que filtra conteúdo, o que ajuda o leitor a se localizar um pouco no maremoto de textos “sem noção”.

    1. Post
      Author

      Oi, Mauren… de fato, o termo “produção” nesse contexto está relacionado à edição da obra, não à criação/concepção. Com um material menor para trabalhar, a revisão é mais rápida, a construção/diagramação é mais rápida, tudo pode ser feito em um prazo menor, ao menos pelo lado da editora. Digo isso porque acabei de produzir (editar) um eBook de 253 páginas (no pdf), é um trabalho de formiga.

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