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O maniqueísmo em torno da Amazon

19/04/2013
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>>> Debate durante a London Book Fair polariza o papel da varejista no mercado editorial: mas quais são as verdadeiras questões?

Nos negócios existe o bem e o mal? Uma empresa pode ser simplesmente reputada como boa ou má? Dessa maneira foi debatido, durante a Feira do Livro de Londres, o desempenho da Amazon no mercado editorial. De um lado, aqueles que defendem lealmente a companhia como bons vassalos; do outro houve quem atirasse pedras. Uma pesquisa de opinião realizada durante o evento mostrou que 61 votantes acreditavam que a Amazon era uma influência positiva, enquanto outros 85 votaram contra essa visão.

O debate foi moderado por Michel Healy, diretor do Copyright Clearance Center: de uma lado – a favor – estavam os editores Jennifer 8. Lee e Eoin Purcell. Do outro, estavam o autor Robert Levine e Tim Godfray, CEO da Associação de Livrarias do Reino Unido.

Na encenação tribunalesca, um lado defendeu que a varejista apenas tirava proveito das possibilidades oferecidas pela web para crescer: “a Amazon atuou em um espaço que estava esperando para ser desbravado. E eles estão sendo recompensados”, disse Purcell. Já Lee acredita que a companhia foi a principal responsável por criar uma massa de leitores digitais: “eles fizeram da leitura digital algo corriqueiro, de um modo que a Sony e outros concorrentes anteriores não fizeram”, disse. Outro avanço teria sido o estímulo ao selfpublishing, onde o autor assume as rédeas da edição – cujo próximo passo é adquirir qualidade em escala.

Por outro lado, foi apontado que a atuação da companhia tem prejudicado a competição no mercado editorial, uma vez que o objetivo da gigante é centralizar o ecossistema em torno dos seus aparelhos e serviços. “A Amazon é tão grande que não está mais competindo, e sim destruindo a competição. Os números favorecem esse argumento: 95% dos eBooks adquiridos no Reino Unido vieram da Amazon, e dos 13 milhão de eReaders adquiridos na véspera de natal, 92% eram Kindles (pobre Nook). “A Amazon utiliza seu poder de mercado para derrubar os preços dos eBooks aos consumidores, e então os tranca em seu próprio sistema”. Já Levine destaca que a política de derrubar os preços é insustentável para a indústria. “A Amazon diz que as úincas coisas que precisamos é de um leitor e de um autor. Então se você não é um leitor, nem um escritor, e está aqui nesta sala agora, você não tem lugar no mercado editorial”, dispara.

Além das paixões e do maniqueísmo, há alguns fatos que devem ser relevados:

– A adoção do padrão ePub: sim, foi dito que a companhia utiliza formatos proprietários, mas quem nunca? O problema é não dar abertura para a utilização do formato ePub – aberto e desenvolvido pela indústria do eBook – nos dispositivos Kindle. O Éden particular da Amazon não permite que seus usuários leiam seus livros em outros formatos. Péssimo para o estímulo à adoção.

– O mercado do livro digital ainda não conheceu seu auge. Apesar do crescimento nas vendas, e nas projeções para superar o livro físico, os players estão apostando todas as fichas na “invenção” desse mercado, no represamento de toda a sua lucratividade. São criados novos modelos de negócio, de distribuição, de pagamentos dos royalties, mas sempre em um ecossistema fechado. A grande sacada do livro digital não é a tecnologia em si, mas a sua conveniência de preço e comodidade para o leitor e autor.

– O meu livro é realmente meu? Um caso emblemático envolvendo a Amazon ocorreu em 2010, quando a companhia acionou os seus backdoors nos aparelhos Kindle de todos os usuários para retirar um título da “prateleira”: “1984”, de Eric Arthur Blair (a.k.a George Orwell). O recado foi bem claro: você compra, mas a empresa tem acesso ao seu aparelho e pode ignorar a sua privacidade. E o que acontece quando o titular da conta morre? Os livros não ficam para os herdeiros.

Seria interessante se os países adotassem códigos de legislação para o universo digital – como o Marco Civil brasileiro – e regulamentassem a prática perpetrada por grandes companhias, como a Amazon. Por enquanto, jurisprudências vagas, são suficientes para julgar casos envolvendo multinacionais dotcom. Mas uma legislação sólida pode determinar os direitos de um leitor sobre os ditames dos colossos do mercado.

Com informações do Publishers Weekly

 

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