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Colunista do Publishnews polemiza: “ebook é um fracasso”

21/06/2016
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A edição de 21/06 do site Publishnews conseguiu um feito raro: a unanimidade entre os variados profissionais que trabalham com livro digital.

Em texto pontuado por erros factuais e confusões sobre o mercado digital, o colunista Paulo Tedesco afirmou que “autores e editores aperceberam-se do engodo que é o tal livro digital”. Seus argumentos? O “modelo atual” de ebooks alija “boa parcela da uma indústria milenar (sic)”, entregando “boa parte da tarefa editorial e livreira” para “conglomerados estrangeiros e agentes de negócios”. Ele argumenta que um leitor poderia perder seus ebooks porque “o aparelho quebrou ou um bug arrebentou com os arquivos”. Em dado momento, afirma:

“Que me perdoem os mais afoitos, mas o modelo de e-book é um fracasso, e não passa de uma versão requentada para dizer que o livro poderia sair mais barato porque dispensava o custo de papel e o frete, além de impostos. O que é uma besteira das grandes. O passar dos anos mostrou claramente: as editoras, os autores e até os editores, ao verem os preços dos livros em formato e-book não ficarem muito distantes do papel, aperceberam-se do engodo que era o tal e-book.”

“A boa nova é que os amantes do livro não caíram no engodo do descartável, e o leitor, o principal alvo disso tudo, não se deixou levar pelo afã midiático e tecnológico. Prova maior é a estagnação das vendas de e-books e o fato de que os principais defensores do fim do livro hoje assumem: o tal e-book é nada mais do que uma opção à leitura diante do livro em papel, e jamais o substituirá.”

(Fonte: coluna de Paulo Tedesco, 21/06/2016, Publishnews)

O texto causou perplexidade na principal comunidade de profissionais do livro digital, o grupo do Facebook Amigos dos Editores Digitais. Comentando o texto, Júlio Silveira, diretor da Imã Editorial, afirmou:

“O argumento é tautológico: e-books não vão funcionar porque não existiam antes, enquanto o livro (que não é seu concorrente) existe há milênios. O CD não acabou com a indústria da música, acabou com a indústria do plástico fonografado. A publicação digital não vai acabar com a indústria editorial, que trata, na essência, do imaterial (ideias, narrativas); ela vai encontrar seu caminho e sua lógica econômica, por outros canais, a despeito da pressão reacionária (que acabou por sacrificar a indústria fonográfica). Não quero me colocar como exemplo, mas vendo mais e-books que livros impressos, eu ganho bem mais retorno com publicação digital que em papel e todos os livros que li este ano foram e-books — de edições estrangeiras, onde o preço de capa, ao contrário do jaboticabal brasileiro, é menor que o da edição em papel.”

Felipe José Lindoso, jornalista e consultor, também no AED, comentou que a ideia de que os ebooks deveriam “substituir” ou “acabar” com o livro impresso “é uma discussão completamente superada. Forma não determina o conteúdo e vice-versa. Essa coisa de fazer cavalo de batalha sobre nocas formas de expressão já cansou faz mais de um século, desde quando diziam que a fotografia iria matar a pintura, o cinema o teatro e daí em diante. Coisa antiga”.

Para além das opiniões, os argumentos de Tedesco não se sustentam em dados reais. A afirmação de que existe “estagnação das vendas de ebooks” é simplesmente errada. Em outros países, talvez, mas como o eBooknews publicou alguns dias atrás, o faturamento com ebooks no Brasil cresceu mais de 20% entre 2014 e 2015, segundo a pesquisa mais confiável do setor editorial. Os dados se referem apenas a ebooks de editoras, sem considerar títulos de autores auto-publicados – cuja tendência, há anos, é de crescimento no mundo inteiro.

Em um contraponto mais completo às afirmações de Tedesco, André Palme (diretor da Kappamaki Digital e O Fiel Carteiro) publicou uma resposta, com mais dados e embasamento – confira neste link.

 

  1. Pingback: Quem decide é o leitor - eBooknews

  2. Pois é, Paulo Tedesco. Também disseram que a TV seria um fracasso total; afinal, quem gostaria de ficar um longo tempo sentado, olhando para uma caixa eletrônica? O homem jamais pousaria na lua. Jamais uma máquina pesadona seria capaz de alçar voo. Telefones móveis através dos quais as pessoas conversavam e viam umas às outras só existiam nos desenhos animados dos Jetsons. Graças a Deus, para cada mente retrógrada, existem centenas de mentes inovadoras.

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