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O Mercado não é o Único a Discutir Sobre eBooks

10/02/2012
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artigo por Danusa Oliveira.

Os livros digitais, assim como os eReaders e os tablets, estão se tornando, cada vez mais, o assunto do momento. Há dois anos, mesmo com o lançamento do iPad, a busca pela palavra eBook em sites brasileiros não trazia tantos retornos e resultados. Podia-se contar nos dedos os sites e blogs interessados no assunto e dispostos a discuti-lo. Mas, atualmente, há mais pessoas dispostas a debater sobre os livros digitais, estejam elas vinculadas ao mercado editorial ou não. Em uma simples busca pela web surgem, de forma impressionante, agências com menos de um ano de existência que já se intitulam especialistas em conversão de livros, mesmo com o mercado apresentando inúmeras dúvidas e discussões em relação à produção e à comercialização de eBooks.

Algumas empresas apenas falam em conversão, outras em produção e qualidade (uma das preocupações e um dos comprometimentos que a própria Simplíssimo apresenta ao capacitar profissionais de todo o Brasil para a criação de eBooks). Portanto, há uma movimentação significativa de determinadas empresas e de diferentes setores dedicados ao livro em torno desse tema. Afinal, a inserção dos eBooks no fluxo de trabalho das editoras realmente provoca mudanças, seja na produção, distribuição e comercialização dos livros digitais, trazendo impasses quanto a valores, preços, direitos autorais, etc.

Mas uma questão que também merece atenção é a presença dos eBooks como objeto de pesquisa dentro do universo científico. Se a discussão no mercado como um todo se mostra calorosa, a academia também não deixa de lançar um olhar atento, tanto em relação às transformações do modo de leitura e do livro como suporte, quanto à transição do mercado em si. No entanto, é relevante saber se há pesquisas ou pesquisadores interessados na produção de conteúdo digital dentro das Universidades? Sim. É relevante. Até pelo fato de ser a academia uma importante instituição fomentadora de ideias e de projetos. A possível mudança na configuração do mercado editorial frente aos livros digitais tem sido pauta em alguns congressos e eventos ligados às universidades brasileiras. Talvez alguns apontamentos ajudem a exemplificar tal fato.

Em uma busca por estudos relacionados ao livro digital na Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD), é possível encontrar uma média de 27 trabalhos (de pós-graduação), sendo todos escritos a partir de 2005. Antes dessa data, também se encontram outros trabalhos. Contudo, muitos se utilizam do termo “livro eletrônico” e não se encontram à disposição na forma íntegra para leitura, apresentando apenas o resumo da pesquisa.

Mas, dos 27 projetos, um deles data de 2011 e três datam de 2010, ano em que ocorreram muitas novidades no Brasil, como a venda do iPad e como o crescente número de eBooks comercializados. A princípio, o pequeno número de teses e dissertações encontradas pode contradizer a ideia de que a academia se interessa em estudar as transformações do mercado editorial. Contudo, não se está levando em conta nessa busca o número de monografias, artigos e resenhas relacionadas ao assunto, nem o número de palestras, eventos e congressos que tiveram grande repercussão ao discutirem a produção dos livros digitais.

Só em 2011, ocorreu o 2º Congresso Internacional CBL do Livro Digital, em São Paulo, contando com palestrantes de diferentes locais e com uma sessão exclusiva para apresentação de trabalhos científicos envolvidos com o tema. Da mesma forma, no Estado do RS, especificamente na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), foi apresentado o Congresso Brasileiro do Livro Digital, tendo como uma das palestrantes a escritora Lúcia Santaella, cuja abordagem trouxe reflexões quanto às mudanças causadas em nossa cultura pelas tecnologias digitais.

Em 2011, também ocorreu mais um INTERCOM – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação – um importante encontro de professores, pesquisadores e estudantes da área de comunicação que apresentam seus projetos por Grupos de Trabalhos (GPs). O GP de Produção Editorial, por exemplo, recebeu 30 trabalhos para apresentação, sendo que cinco deles estavam relacionados às transições do impresso para o conteúdo digital. Sem contar os eventos anteriores do INTERCOM que também já apresentavam artigos sobre os livros digitais. Pouco? Talvez. Mas o suficiente para abrir espaço para novas discussões.

Além desses eventos, é possível citar outros tantos vinculados a essa debate e ligados não somente a área da Comunicação, mas também da Biblioteconomia, do Design, de Letras, da Psicologia, da Economia, etc. Seria possível montar tabelas e gráficos na tentativa de demonstrar, em números, que há sim interesse por parte da academia e dos seus estudantes em compreender as alterações e medidas tomadas pelas editoras, pelas livrarias, pelos escritores ou pelos leitores. Ou seja, compreender as possíveis transformações para também contribuir com debates e com propostas junto daqueles que são responsáveis pela existência do mercado editorial.

No entanto, talvez, o mais pertinente seja oferecer um breve relato pessoal de quem está produzindo uma dissertação relacionada aos livros digitais. Além do meu projeto de mestrado, mais dois colegas, inseridos no mesmo grupo de pesquisa a que pertenço, também estão desenvolvendo dissertações ligadas ao eBook, totalizando três trabalhos com esse foco. No Programa de Pós-Graduação em que estudamos apenas essas três pesquisas apresentam tal interesse. Mas já ouvi de diferentes amigos de outros Programas sobre trabalhos e pesquisas atuais de outras áreas e de outras universidades, da região Sul, que também abordam os eBooks.

Portanto, tenho expectativas positivas quanto ao debate que pode ser formado e a certeza de que as discussões sobre o conteúdo digital serão cada vez mais enriquecedoras quanto mais os estudantes e os universitários se interessarem por esse universo – sejam como leitores, escritores ou pesquisadores. Debates, discussões e trocas produzem estratégias mais eficientes. E esse resultado certamente é muito positivo não somente para as universidades, mas também para o próprio mercado.

Danusa Almeida de Oliveira é graduada em Publicidade e Propaganda. Atualmente é mestranda em Jornalismo e Processos Editoriais pela UFRGS. Além de atuar como Instrutora em empresas de TI, ministrando cursos de design gráfico, trabalha com design editorial de livros, encontrando nos eBooks um universo a ser pesquisado e explorado.

 

  1. Olá!
    Primeiramente felicitações ao empenho da articulista e louvor a atitude de pesquisa tão escassa no Brasil. Acrescento apenas uma correção ao artigo da Danusa, o Congresso realizado na PUCRS o nome deste é relacionado a Leitura Digital, e não ao Livro Digital.
    Grato.
    Rafael Martins Trombetta
    Curador do Congresso Brasileiro da Leitura Digital

      1. Oi Stella,
        Estou me reunindo com parceiros e potenciais patrocinadores para preparar o evento deste ano. Existe meu empenho/vontade e desta vez quero que ocorra com uma infra-estrutura melhor do que a edição de 2011 (que foi realizada praticamente em regime de crondfunding) da qual ainda estou bancando alguns custos.

        OBS: Esta ocorrendo um erro com o plugin da Face para responder.

  2. Olá Rafael, agradeço a correção, assim como agradeço ao Revolução pelo espaço disponibilizado. Também fico feliz com a possibilidade de ocorrer mais um evento que permite toda essa discussão em relação ao digital.

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