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As outras livrarias vendem menos que a Apple – veja alguns motivos

18/12/2012
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A colunista Raquel Cozer ecoou novamente o que as editoras percebem desde o final de outubro – que a Apple é a maior vendedora de ebooks no Brasil, com folga, desde a abertura da sua loja brasileira. Segundo a colunista da Folha, a Apple vende mais (“E muito mais”), a loja Google Play também vende bem, a Amazon vende menos que a Saraiva em alguns casos, e todas estão à frente da Kobo, parceira da Livraria Cultura.

Todo mundo esperava a Amazon chegando com tudo, a Kobo concorrendo ali-ali cabeça-a-cabeça… nada disso aconteceu. Já vimos alguns motivos para a Apple estar na frente. A explicação disso parece estar em problemas curiosos, como a afobação no lançamento (caso da Amazon), em alguns problemas pós-lançamento (caso da Kobo), e na ignição do marketing de ambas, que recém começo.

Google, o come-quieto

Das empresas que estrearam suas vendas em dezembro, o Google foi o único a ter bons resultados imediatamente – pudera, com a enorme base de dispositivos Android no Brasil, o Google pode se dar o luxo de comer pelas beiradas.

Amazon, a estreia que ainda não estreou

Todo mundo esperava que a Amazon chegaria arrebentando. E a Amazon está perdendo para a Saraiva, “em alguns casos”. Vejamos. A Amazon está fortemente associada, aqui no Brasil, aos seus dispositivos, especialmente o ereader, cuja venda ainda não começou. O marketing da Amazon não faz questão de enfatizar muito que os livros podem ser lidos em tablets e smartphones, porque gera divulgação indireta dos dispositivos/sistemas da concorrência (da Apple, do Google). Nada disso colabora para as vendas da Amazon.

E além disso, os usuários brasileiros da Amazon se viram diante de uma sinuca: para comprar boa parte dos ebooks em português, têm de migrar da loja americana para a brasileira, acarretando a perda de acesso a uma série de facilidades e serviços – inclusive perdendo acesso a conteúdos já comprados anteriormente. Isso acontece por conta de restrições territoriais – editoras e fornecedores de conteúdo estrangeiros não possuem o direito de vender conteúdo para usuários brasileiros, logo, se a conta de um usuário passa da loja americana para a loja brasileira, aquele conteúdo não pode seguir acessível.

E por fim, há a questão levantada há poucos dias pelo Radar Online: os usuários brasileiros estão perdendo acesso às compras de outros produtos da Amazon americana, inclusive os livros impressos (muitos consumidores da Amazon importam livros em inglês, mais baratos que nas livrarias brasileiras).

Convenhamos: é um balde de água fria atrás do outro.

Kobo e os “livros secretos”

A Kobo e a Livraria Cultura tiveram a maior cobertura da mídia, apareceram nos jornais, fotos do Kobo Touch foram estampadas em toda parte. E mesmo assim, está atrás de todo mundo nas vendas. Atrás inclusive do Google, que lançou sua loja no mesmo dia, mas praticamente na surdina.

A base de aparelhos Kobo vendidos e de aplicativos Kobo instalados em tablets e smartphones, ainda deve ser muito pequena. O tempo (e o marketing) resolvem isso. Mas há alguns problemas técnicos com a Kobo. Um deles, especialmente sério, posso dar testemunho pessoalmente, porque acontece com a Simplíssimo.

A Simplíssimo vende algumas edições de domínio público a preços bastante baixos, algumas dezenas de ebooks de autores independentes, e também alguns ebooks grátis. A Kobo recebeu o catálogo completo (cerca de 80 ebooks) há vários dias, mas nenhum ebook apareceu nas categorias da livraria, ou nos resultados das buscas. Só estão acessíveis se o link direto for visitado. Segundo a Kobo, este problema poderá demorar semanas para ser resolvido. Não é à toa que a Kobo esteja atrás de todas as outras livrarias.

Na Apple, a Simplíssimo vende em média 100 ebooks por semana, entre títulos de domínio público e autores independentes, desconhecidos. Entre os eBooks gratuitos que a Simplíssimo oferece, são 700 downloads semanais, em média.

Resumindo

Tanta gente desqualificou a loja de ebooks Apple, por vender em dólares, só com cartão internacional e gerando 6,38% de imposto para os consumidores… mas os consumidores realmente não ligam para isso. E as editoras também ficam contentes, pelo mesmo motivo: porque funciona e pronto. A loja mostra os livros que possui à venda, com um visual agradável – tanto no iTunes, quanto nos iPads e iPhones da vida. Você faz uma busca, e a busca apresenta resultados. Toca na tela, efetua a compra e inicia a leitura.

Como diz o Carrenho, num texto que pegou o mesmo gancho da Folha, nos próximos seis meses tudo isso pode mudar. Eu concordo, é possível que mude. Mas por enquanto, e até aparecer algum competidor com o mesmo nível de serviço, o Brasil está no bolso da Apple. Literalmente. A Apple é a empresa que melhor remunera as editoras, seguindo o mesmo regime adotado nos aplicativos para iOS – a mordida é de apenas 30% das vendas.

Difícil imaginar leitores, e editoras, desejando outro líder para este mercado.

 

  1. Eu migrei meus kindles para a conta brasileira, Eduardo, e gostaria de comentar sobre o que foi dito sobre a amazon:

    – Questão da estreia: concordo que foi feita às pressas e estou, como tradutor, pasmo com a inconsistência terminológica na tradução da palavra “review” bem como com erros crassos nesta tradução. Vejam as palavras que são usadas pra “review”, muitas vezes na mesma página do site: resenha, avaliação, comentário, avaliaçãoes (exatamente assim). Além disso, ainda não é possível comentar uma resenha, como na amazon.com.

    – Marketing não divulgar que é possível ler em outros dispositivos: discordo totalmente, visto que na home do site tem esta propaganda: http://tinyurl.com/czrftjb

    – Perda de conteúdo: ainda é possível comprar audio books no audible e, por não ser mencionado na migração, presumo que naõ se perca audibooks comprados, justamente por ser um serviço a parte de uma outra empresa da amazon (audible.com). Esta questão de compra de livros foi um problema técnico, como diz no próprio artigo e confirmaram nos comentários do artigo. O que se perde mesmo são as publicações, e isso realmente é uma pena para quem usava (mas é avisado na migração). Quanto aos e-books em si, que é o que mais importa, não achei um livro que tivesse disponível pra nós brasileiros na loja americana e naõ estivesse disponível na brasileira. Se alguém souber, favor informar, pois eu gostaria de saber.

    Já comprei dois livros pra minha esposa na Amazon brasileira e tudo funcionou como deveria, com a entrega imediata.

    Acredito, por fim, que a Apple esteja na dianteira por que tem uma base maior de usuários que não se importam em ler no ipad. Eu, por outro lado, tendo Ipad, odeio ler nele.

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