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Pelo fechamento imediato da Biblioteca Nacional

19/01/2013
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É impossível assistir calado a situação ultrajante vivida pela Biblioteca Nacional. E quando outra biblioteca, também pública, mostra que existe um jeito diferente de resolver o problema, a indignação aumenta. Prezado leitor, o assunto deste texto nada tem a ver com eBooks. Mas tem a ver com livros e com o destino do dinheiro que nós pagamos em impostos.

O jornal Zero Hora explicou, com riqueza de detalhes, todos os passos adotados para a reforma completa da Biblioteca Pública do Rio Grande do Sul – há 5 anos fechada e com mais 2 anos assim pela frente, no mínimo.

À primeira vista, parece ruim que a principal Biblioteca pública de um Estado permaneça fechada por tanto tempo. No entanto, as atividades da Biblioteca foram transferidas para um prédio próximo, de modo que os frequentadores foram privados somente do prédio, não dos livros, da Biblioteca. Ou seja: o fechamento causou transtornos imediatos, mas os benefícios a longo prazo são muito superiores.

As paredes externas tiveram todas as camadas de tinta removidas para que uma nova, de cor amarela, muito próxima à original, pudesse ser aplicadaFoto: Tadeu Vilani / Agencia RBS

Bbilioteca Pública do RS – fechada há 5 anos, segue assim até 2014. Reforma completa irá deixar o prédio em excelentes condições para o público. Foto: Tadeu Vilani / Agencia RBS

Tenho poucas razões para ter orgulho da minha cidade, e do meu Estado. Sou muito crítico. Os leitores habituais do Revolução, além daqueles que me conhecem pessoalmente ou participam dos cursos da Simplíssimo, sabe bem disso. Mas esta reforma da Biblioteca Pública do RS, realmente, é digna de elogio. Vidros, resgate de detalhes históricos, restauração de pinturas, tudo está sendo feito com muita pesquisa e atenção aos menores detalhes. É lento, mas entre a lentidão do capricho, e a rapidez do malfeito, eu fico com a primeira opção. A foto de ZH, que reproduzimos aqui, não tem Photoshop. O prédio está realmente sem pichação, e isso que os tapumes da fachada foram retirados há meses. Até os pichadores respeitam a Biblioteca.

Quanta diferença, comparada à Biblioteca Nacional, no RJ.

Perto do prédio histórico da Biblioteca Nacional, a Biblioteca Pública do RS é café pequeno – muito menor em área construída, acervo e complexidade. E mesmo assim, a Biblioteca do RS ficará fechada pelo menos 7 anos, na previsão mais otimista, até ser devolvida em excelentes condições para a população.

Só que a Biblioteca Nacional, maior e mais complexa, está caindo aos pedaços, literalmente. Quantos anos de reforma a Biblioteca Nacional terá que enfrentar, para ser devolvida à população, nas mesmas excelentes condições que a Biblioteca Pública do RS será devolvida? Ar refrigerado de primeira. Piso, pintura, iluminação, alicerces, telhado, aberturas, tubulações, hidráulica e elétrica, tudo completamente novo e reformado? A julgar pelos relatos das deploráveis condições em que se encontra, após anos (décadas?) de abandono e descaso, alguém arrisca fazer apostas?

A última notícia foi que o Ministério da Cultura iria destinar R$ 70 milhões para reformas emergenciais na Biblioteca Nacional – quase 5 vezes mais que o orçamento da reforma total da Biblioteca do RS. Depois de conhecer em detalhes como foi conduzida a reforma gaúcha, eu não acredito em qualquer reforma que mantenha o prédio original em uso. Fazer remendos apenas posterga os problemas.

Mas não é assim que pensam os gestores da Biblioteca Nacional. O Jornal Nacional, em 17/01, trouxe a fala da diretora-executiva da Biblioteca Nacional, explicando que pretende resolver o problema do sistema de refrigeração, precário desde (pelo menos) maio de 2011, em um prazo curto:

“Curto que signifique até seis meses para a gente ter construído uma situação emergencial para poder diminuir a sensação de desconforto para usuários, para funcionários, para os pesquisadores”.

Agora você, leitor, após a comparação com a reforma do RS, consegue ver alguma seriedade na atitude da diretora-executiva? Claro que não. Uma pessoa que propõe “diminuir o desconforto” está zombando dos usuários, dos contribuintes e da população. Como assim, “diminuir” o desconforto? Que ideia ridícula é esta? O objetivo primário da ação dos gestores da Biblioteca Nacional deveria ser ELIMINAR qualquer desconforto!

Mais uma vez, fica evidenciada a ausência de planejamento na Biblioteca Nacional. O olhar curto, rasteiro, com que tratam os problemas gravíssimos do prédio histórico. Não querem resolver nenhum problema. Só querem dar uma ajeitada. Como se amenizar resolvesse. Amenizar não resolve, sra. diretora executiva. Está muito, muito longe de ser o mínimo que se espera. A atitude séria, ao contrário, seria reconhecer que os problemas são graves e não podem ser “amenizados” – precisam ser resolvidos.

Claramente a Biblioteca Nacional não tem as mínimas condições de uso ou de trabalho. A primeira providência a ser adotada deveria ser o fechamento imediato, total e definitivo da Biblioteca, até que ela fosse completamente restaurada, em condições de abrigar acervo, funcionários e usuários. Essa atitude sim, seria o primeiro de muitos passos para uma solução real.

Nos próximos seis meses, ao invés de inventar uma gambiarra de centenas de milhares de reais, ou até milhões, para um sistema de refrigeração provisório e improvisado, os administradores da Biblioteca Nacional deveriam se preocupar em definir um espaço alternativo para instalar provisoriamente a biblioteca, pelos próximos 7 ou 10 anos. Deveriam passar 2013 planejando uma reforma total do prédio, organizando projetos e orçamentos para captar recursos em 2014 e tentar iniciar obras naquele ano. Mas não pensando em remendos.

Deveriam, enfim, respeitar a história cultural do Brasil – já que respeitar a instituição ou as pessoas não parece ser o forte.

 

  1. Apoiado! Entretanto, tem tudo a ver com os livros digitais do futuro. Afinal, os atuais arquivos e livros impressos possivelmente serão digitais.

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