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A Penguin no Brasil: Uma Entrevista com Pedro Mezgravis

29/12/2011
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O site do Instituto Cultural Aletria publicou uma interessante entrevista com Pedro Mezgravis, um dos participantes mais ativos no Twitter do Revolução (@revolucaoebook). Confira:

Quando falamos em crescimento econômico, especialmente nos últimos anos, temos de compreender que isso implicará em uma integração com os mercados tradicionais da Europa e Estados Unidos. A chegada do capital estrangeiro já era pauta em outros setores e voltou a ser pauta, com força, com a chegada de uma das maiores editoras do velho mundo: a Penguin. Ela já estava atuando no país, em parceria com a Companhia das Letras, e estreitou essa parceria adquirindo parte da editora brasileira. O impacto da chegada da gigante provocou debates, mas até agora tudo que podemos fazer é dizer: o Brasil precisa estar preparado para o resto do mundo.

Conversamos com Pedro Mezgravis, mestre e doutorando em Geografia Humana pela FFLCH-USP, pesquisador do processo de inovação tecnológica no mercado editorial brasileiro, sobre a chegada da Penguin, leia aqui a entrevista e quem desejar acompanhá-lo no twitter basta seguir @mezgravis ou @redemis.

Aletria: A Penguin está chegando no mercado brasileiro, que não é exatamente um mercado marcado pelo grande número de leitores, ou até mesmo de leitores muito assíduos, e que inclusive vende mais livros para o público do que a média de cerca de 2 livros lidos por ano que as pesquisas de mercado indicam. Qual pode ser o impacto da chegada desta gigante no nosso mercado, especialmente considerando que ela está se unindo a uma editora líder, como a Companhia das letras?

Pedro Mezgravis: O impacto da chegada da Penguin ao Brasil será muito maior nos bastidores do mercado editorial do que diretamente ao leitor. O modelo de gestão Penguin exercerá uma influência positiva ao mercado brasileiro com suas práticas comerciais e modelo editorial. A Companhia das Letras é a editora que mais se aproxima deste padrão da Penguin. O leitor verá duas ótimas editoras trabalhando em consonância e com ótimos títulos.

Por outro lado, a Penguin integra o grupo Pearson, um dos maiores grupos editoriais do mundo, que trabalha desde sistemas educacionais, passando por livros TCP (técnicos, científicos e profissionais) e das informações financeiras (é proprietária do Grupo Financial Times). Portanto a integração da Companhia das Letras pela Penguin significa uma ampliação dos interesses do Grupo Pearson no Brasil, tanto do mercado consumidor em geral (o público leitor) quanto atuar mais fortemente junto às compras governamentais. A ser observado.

A fusão da Companhia das Letras à Penguin em termos financeiros significa que mais um grupo editorial altamente capitalizado expande seus negócios em um mercado potencial que é o Brasil. É mais um caso concreto do processo de concentração econômica no mercado editorial brasileiro, envolvendo grandes aportes financeiros, que visam os diferentes potenciais existentes aqui. O ritmo de aquisição de editoras, de todos os tamanhos, por grandes grupos editoriais e financeiros será maior nos próximos anos.

O caso Penguin/Companhia das Letras foi o primeiro que manifestou claramente a questão dos livros digitais (ebooks), que é um dos nichos do mercado que ainda tem imenso potencial a ser explorado. A chegada da Amazon e do Google Ebooks ao Brasil dão dimensão do potencial a ser explorado ainda. E do modelo de negócio que serão majoritários na comercialização dos ebooks no Brasil. A experiência da Penguin com os livros digitais com certeza expandirá possibilidades comerciais futuras da Companhia das Letras.

Aletria: A maioria dos livros é comprada pelo governo, que de certa forma pulveriza suas compras entre editoras grandes e as pequenas. Isto poderá impedir que a Cia./Penguin controlem uma grande fatia do mercado?Ou a preocupação de editoras menores com união definitiva das duas empresas é justa?

Pedro Mezgravis: A preocupação deve existir. Porém, o regime de compras governamentais têm sido bastante equilibrado nos últimos anos. O que justifica esta preocupação não é a Penguin/Companhia das Letras especificamente, o que seria injusto inclusive. A preocupação deve partir justamente do movimento de concentração que está ocorrendo de maneira geral no mercado editorial. As compras governamentais são um aspecto, extremamente relevante, mas não é o único. E as condições de compra governamentais são dadas pelo próprio governo, conforme são apresentadas conforme cada um de seus planos (como, por exemplo, o PNLD) e órgãos relacionados (Fundação Biblioteca Nacional, como outro exemplo).

A preocupação principal, no meu ponto de vista, são os modelos de negócios para os livros digitais: a propriedade intelectual (em menor grau) e a propriedade dos arquivos digitalizados para comercialização. O medo de pirataria trouxe um imenso atraso ao desenvolvimento do mercado brasileiro de ebooks. Temos duas empresas gigantescas, altamente capitalizadas, com interesses bastante distintos, uma chegando (Amazon) e outra expandindo suas operações (Google), com propostas que sinalizam para a concentração da distribuição e da comercialização dos ebooks. Existem iniciativas brasileiras muito competentes e sérias que trazem oportunidades alternativas e mesmo de integração a qualquer uma delas. Outra preocupação das pequenas editoras deve ser a participação delas junto aos grupos e sistemas educacionais, especialmente em formato digital. Muitos dos grupos educacionais integram grupos editoriais (por exemplo, a recente aquisição do Anglo pela Abril Educação) e são também os criadores dos sistemas educacionais. Como uma pequena editora que enquadra nesta realidade?

Aletria: A Penguin não só é estrangeira, como também vem de um mercado europeu que mostra sinais de decadência (fechamento de bibliotecas, queda de índices de leitura). Apostar na união com um modelo estrangeiro que no momento está em declínio pode ser um erro da Cia.das Letras? Quais os possíveis aspectos negativos desta união?

Pedro Mezgravis: O que está em crise é o sistema econômico como um todo. As condições econômicas de investimento em educação na Europa estão apenas temporariamente em desequilíbrio, não pode ser comparado diretamente com as condições brasileiras. A realidade brasileira é vista como potencial, pois há muito a ser feito em torno da leitura e da formação de leitores. Há muito ainda ser feito pela educação no Brasil. As razões da Companhia das Letras para a fusão com a Penguin foram melhor discutidas nas respostas anteriores. Pelo meu ponto de vista, são duas ótimas editoras que passarão a trabalharem juntas, isso será muito benéfico ao leitor.

Aletria: Por outro lado, a Penguin já tem tecnologia e conhecimento no mercado de livros digitais. Este seria o principal fator positivo da união? Quais outros?

Pedro Mezgravis: Sim, este é o principal positivo da união. Conforme já relatei, o medo de pirataria trouxe grande atraso ao desenvolvimento dos ebooks no Brasil, com tecnologia e modelos de negócios essencialmente brasileiros. As iniciativas atuais existentes passarão a sofrer grande pressão concorrencial de duas gigantes que, conforme seus interesses específicos, implementarão seus respectivos modelos de negócio. O modelo Penguin de ebooks trará autonomia de distribuição e comercialização à Companhia das Letras.

Aletria: Parte das reações iniciais reflete a discussão em torno da proteção das empresas nacionais, que não são tão competitivas. Mas também a proteção da cultura nacional, especialmente da produção literária nacional, que certamente não é uma preocupação da Penguin. Qual a sua visão sobre esse tema? Acredita que exista uma forma de equilibrar as forças para não perdermos a troca com o estrangeiro e nem enfraqueçamos a industria nacional?

Pedro Mezgravis: É uma injustiça muito grande acusar a Penguin de não ter preocupação com a produção literária nacional. A decisão dela de fundir-se, não apenas aquirir as ações, com a Companhia das Letras demonstra claramente suas intenções e zelo pela produção literária nacional. Efetivamente, nem precisaria da Companhia das Letras para tanto, bastaria fazer uma proposta muito melhor aos autores. A Penguin viu seu padrão de qualidade e zelo editorial, elevadíssimos, na Companhia das Letras.
É preciso distinguir as questões existentes neste debate. Uma coisa são as condições de concorrência entre as editoras, distribuidoras de livros e sistema de venda ao consumidor. Outra são os interesses dos autores. Existe relação entre as duas coisas, mas não de forma direta. Um autor consagrado tem total liberdade de negociar com a editora que fizer a melhor proposta para os seus interesses pessoais. Os autores iniciantes e menos conhecidos ainda terão os mesmos desafios, salvo decidam-se pela autopublicação (self-publishing). Para mim, as questões principais estão na concorrência entre as editoras, distribuidoras e os canais de venda ao consumidor e modelo de negócios que está surgindo no Brasil para os ebooks.

 

 

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  2. Stella, fui verificar se valia a pena seguir o twitter do revolução ebook, mas o perfil que vc passou no texto não existe (@revolucaoebook).

    Pesquisei e achei o perfil @revebook. É esse? Se for, infelizmente não me agradou, não costumo seguir perfis que só tuitam os links pros textos do blog.

    Minha esperança é que vc esteja se referindo a algum outro perfil, e no caso, qual seria?

    1. Olá Eloy, tudo bem?

      Infelizmente, é esse mesmo que você encontrou, o @revebook. Nós nos comunicamos com os usuários que perguntam coisas, esclarecemos dúvidas e também colocamos lá as perguntas da semana.

      Temos planos de diferenciá-lo ao longo do ano, mas não é para já. Obrigada pela sua opinião sincera, anotei.

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