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Produzir eBooks é Mais Difícil do Que Parece

27/06/2012
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Quem não quer pagar R$10 por um eBook, sempre acha que o eBook é fácil de ser produzido e distribuído. Que basta pegar o arquivo digital do livro impresso e transformar em PDF. Que não há custos com papel, com caminhões, entregas e nem com revisores ou editores, já que tudo isso também é feito na versão impressa

Andrew Zack, um agente editorial, publicou um artigo no site Huffington Post sobre o quão enganados estamos quando achamos que é fácil fazer um livro digital. Zack cita todas as etapas de um livro em que o eBook pode “empacar”, como a fonte utilizada, arquivos antigos e não mais compatíveis com novos aplicativos e plataformas, direitos autorais que não foram previstos para o digital

Capas também pode precisar serem refeitas, e acrescento aqui também a revisão para o acordo ortográfico – problema exclusivo do Brasil e de Portugal – e a atualização de informações antigas, muito presente em livros técnicos.

A publicação de um eBook custa um novo ISBN, um profissional para acertar os metadados, as taxas de distribuição, de publicação – elas existem –, de proteção e da venda de um título em uma livraria online. E, obviamente, o autor também tem que ganhar, e têm ganhado porcentagens mais altas com o eBook. Marketing, propaganda, divulgação, alguém para cuidar de redes sociais… tudo isso custa.

No Brasil, há algumas diferenças. Além da correção ortográfica, o país ainda não popularizou os livros digitais. Assim, é como vender carros: quando você vende menos carros, fica mais barato ou mais caro produzir um? Sei que falamos aqui de arquivos digitais e infinitos, mas o mesmo pode ser aplicado a um blog que, com poucas visitas, não consegue anunciantes, mas o custo com servidores e redatores continua o mesmo.

Existem muitos livros gratuitos para que leitores experimentem o digital, não é necessário pagar por isso. O que acontece é que bem poucos estão tentando ler eBooks, e isso faz com que a demanda seja baixa, aumentando o valor dos títulos. Não defendo preços altos para eBooks, apenas justos.

Zack termina de forma brilhante seu artigo:

“Da próxima vez que você pegar o seu leitor de eBooks, tenha em mente que só porque o livro não pesa quatro quilos, não significa que o autor não suou sangue e chorou lágrimas verdadeiras para escrever esse livro, que um editor não ficou até tarde da noite fornecendo notas para que o autor tornasse o livro melhor, e que copidesques e revisores de produção e outras pessoas não colocaram o mesmo esforço em um eBook como o fariam com um livro impresso. E cada uma dessas pessoas merece ganhar a vida com seu trabalho duro. Então, compre eBooks, pague um preço justo, e divirta-se!”

Veja o artigo completo aqui.

 

  1. Muito interessante esse post, Stella! Primeiro, porque se a gente fizer um levantamento, e-books vendidos, aqui no Brasil, a R$ 10,00 são a esmagadora minoria… Mas vamos lá: levando em conta que você utilizou um artigo estrangeiro para fundamentar a sua defesa dos valores abusivos dos e-books nacionais, é preciso lembrar que os valores lá, são muito, mas muito menores que os valores aqui… E, perceba, lá, eles nem têm ONG (???) que cobra R$1,20/R$1,40, por página, para fazer a conversão dos arquivos… Agora… CAMINHÃO na produção de e-books? Onde? Abraços, Paulo Roberto.

  2. Stella, mais um excelente artigo.

    Vejo como tarefa difícil, para quem não é do ‘ramo’, compreender e aceitar de imediato o que tal post aponta. Como já é sabido por muitos, sem uma análise e um estudo mais profundo, é quase impossível compreendermos qual é a situação real da produção de eBooks no Brasil.

    E, claro, poderia estar melhor! Poderia…

    Só não está, segundo me parece, porque não somos um povo que amamos a leitura acima do futebol, da cerveja, da praia, dos shoppings, etc. Não somos “ainda” um país onde sequer uma “boa parte” se interessa pelo saber, não busca se informar melhor da realidade onde está inserido, etc.

    Do meu ponto de vista, o sucesso e o insucesso dos livros digitais no Brasil, e obviamente dos livros impressos, é diretamente proporcional ao interesse de cada um, da disponibilidade dos mesmos desde tenra idade, das políticas e dos padrões condicionadores, e até do histórico nada favorável que nos remetem à “descoberta” do “Terra Brasilis”.

    E isso, de estarmos bem informados, todos sabemos, não é e nunca foi prioritário nesse país. Não para todos — E nem para muitos!

    A maioria das pessoas para quem preparei e gerei os livros que foram impressos, e para outros que estou preparando os digitais, não compreendem a complexidade e as dificuldades que enfrentamos. Não sabem o quanto nos esforçamos, gastamos e nos desgastamos para que possamos “dar asas” ao seu “projeto”. Para que estes possam ganhar o mundo físico e também o virtual.

    Quando informo os preços aos clientes e interessados, estes arregalam os olhos e tentam pechinchar tal qual numa quitanda. Alguns dizem absurdos! Quando tento explicar quantas coisas terei que fazer para que sua obra fique viável, olham desconfiados e ameaçam ‘procurar outro’.

    Paro e analiso a situação: o que isso está dizendo? O que isso demonstra? Isso pode e vai mudar? O quê e quem está ajudando nesse processo? Isso é o reflexo do quê exatamente? Onde e no que posso ajudar, e como?

    Concluo que: a adequação e os ajustamentos das editoras e livrarias do Brasil, a chegada dos “grandes” para disputar fatias do mercado, o barateamento dos eReaders, as crescentes e cada vez mais dinâmicas formas de divulgação do livros digitais, a consolidação de políticas que apoiem, incentivem e protejam as obras e seus criadores, entre outras coisas, tudo “pode” contribuir para que o nosso trabalho ‘também’ seja valorizado; para que sejamos honestamente reconhecidos.

    Independente de qualquer coisa ou circunstâncias, torço e acredito que conteúdos cada vez melhores e com muita qualidade, além de serem facilmente encontrados e acessados por todos, possam ter preços jutos e alcancem o grau e a importância que precisam ter”.

    Sim, produzir eBooks de qualidade não nada fácil!
    Quem produz, sabe!

    1. Gilmar, pode parecer que discordamos, mas na verdade, estamos de acordo… Sei o trabalho que, por enquanto, dá para converter livros impressos em digitais. O fato é que, como você mesmo relatou as editoras não estão dispostas a pagar por isso. E não estão porque há quem cobre pelo trabalho R$1,20/R$1,40 por página convertida. Quem cooptou as editoras para fazer a conversão dos arquivos cobrando esse valor irrisório acabou criando um padrão de mercado. Criado o padrão, não há o que justifique o valor cobrado pelas editoras por um e-book! Abraço, Paulo Roberto.

  3. Que existem custos envolvidos na produção de eBook isso é inegável, mas como pode o digital custar mais que o impresso? Mesmo tendo a dificuldade da demanda nacional ser pequena, não faz sentido.

    Duvido que uma cópia digital precise de mais um editor e outros revisores, se a obra já foi considerada própria para a impressão, provavelmente, não será modificada para o digital, ou será que o livro digital tem conteúdo diferente do impresso. Então tenho de ficar na dúvida de qual é a história certa?

    Sempre nessas discussões de preço do digital é colocada toda a cadeia de produção do livro, isso sempre me passa a impressão de que os eBooks são feitos como se nunca tivesse existido a versão em papel. Não existe um tronco comum na produção para depois se dividir entre impresso e digital? Ou já começa separado desde o princípio?

    Alguns auto-publicados conseguem receita favorável vendendo a US$1,00, não que esse seja o preço justo para os livros digitais, mas dá pra se pensar na possibilidade de o livro digital custar no mínimo dez reais a menos do que a sua versão capa dura. Se o Brasil manter essa estranha política, nunca os digitais vão fazer sucesso, afinal, você compraria um aparelho caro para ler livros ainda mais caros?

  4. Pode até ser que dê trabalho, mas infelizmente no Brasil todos querem cobrar a mais do que realmente gastaram, desculpa mas é dificil de acreditar que custem tanto, já que dúvido que a Amazon e a Kobo percam dinheiro vendendo e-books bons nos preços que vendem. Temos que aprender com eles e ganharmos menos mas os leitores comprarem mais.

    1. Mas a Amazon e nem a Kobo produzem livros, e muito menos eBooks, eles apenas revendem e ganham muito mesmo.. muito mais do que qualquer editora do Planeta!

  5. Vale à pena lere alguns dos mais de 70 comentários ao texto original. De modo geral, os leitores do ingles concordam que os preços podem ser bem menores.
    Nos EUA e noutros paises dos primeiro mundo as empresas e os donos de copyrights estão mal acostumados a ganhar muito com pouco esforço. Buscando mais fundo, é nossa herança Ocidental de um capitalismo predatório. Os donos da indústria do livro precisam entender que além do aspecto financeiro há a questão cultural da produção intelectual. Criar e comercializar uma obra cultural não é o mesmo que vender um automovel, um imóvel ou outro bem material. No caso do Brasil e de paises simlares, a questão é mais séria, pois a maioria da população não tem condição financeira para construir uma biblioteca digital pagando o preço que alguns livreiros querem.

  6. Produzir o e-Book (não leia-se aqui enhaced e-book) não é tão difícil. Tem um custo e um esforço, mas é irrelevante. A grande responsabilidade, e custo de fato, está na concepção do conteúdo. Enquanto nós leitores não valorizarmos o conteúdo e não segregarmos o suporte da coisa toda e enquanto as editoras não distinguirem seus custos de produção de conteúdo e de impressão e logísitica a depreciação do e-book será essa discussão retórica.

  7. vejamos na real o quanto é difícil produzir do zero um ebook ao invés de converter de antigos livros impressos:

    1) o autor escreve o livro em seu computador
    2) envia ao editor para revisão e alguma formatação
    3) este publica o arquivo numa e-store e faz o marketing
    4) usuário paga e faz download

    o que tem de difícil ou custoso aí?

    Compare isso com os custos envolvidos na antiguidade:

    1) escrever um manuscrito ou em máquina de escrever
    2) revisar e preparar typesetting para máquina de impressão
    3) imprimir grandes tiragens
    4) encadernar
    5) distribuir através da malha rodoviária
    6) arrumar espaço físico em estantes nas lojas

    Nunca, NUNCA que ebooks terão os custos comparáveis aos de livros impressos. Não há gastos com tinta, papel, cola, distribuição física, estoque ou mesmo pagar por espaço em estantes. Há custo de manutenção com servidores da loja virtual, mas esses mesmos servidores também são usados para vender livros físicos! O custo real com o download do arquivo depois que o cliente comprou um ebook é negligível, já que ebooks são arquivos minúsculos, não um filme HD.

    eu não engulo esses argumentos pró-preços autistas para ebooks, que servem a manter o status quo de intermediários encarando o fim de suas velhas carreiras. Não quer fazer um preço realista? Chora aí com pirataria.

  8. É aquela história de sempre, livros vendem pouco e, por isso, são caros. E vendem pouco por serem caros também. Da mesma forma que os livros impressos no Brasil custam o dobro dos americanos, era certo que não seria diferente com a versão digital. A questão é: será mesmo que haverá uma queda no valor dos livros proporcional ao aumento de suas vendas? Não creio. Há, no entanto, algumas razões para essa disparidade de valores entre Brasil e EUA que vão além da quantidade de títulos disponíveis no mercado. Não podemos esquecer que, nos Estados Unidos há um elemento a mais na cultura de venda que vai além da tríplice “editora – livraria – leitor”. Há a presença do autor, que tem ganhado cada vez mais poder de decisão até mesmo sobre o valor de seu livro, vendendo-o através de livrarias virtuais. Por essa razão também, as editoras foram obrigadas a rever suas políticas de venda e baixar o preço dos seus livros.

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