Iniciamos aqui uma serie de artigos sobre o ePub enfrentando o argumento de modo mais técnico, mas com linguagem simples. A intenção não é ser exaustivo, mas introduzir melhor este formato de e-book do qual tanto se fala.
Existem muitas opiniões, do tipo é bom, é ruim, é feio, é o padrão… e poucas explicações sobre o que realmente é o ePub.
Afinal como é feito um e-book em ePub? O significa que é um formato aberto? Realmente tem potencialidade para ser um padrão? E sobretudo, é possível fazer um e-book bonito?
Estas e outras perguntas vamos tentar responder nesta série de artigos.
Inicio enfrentando um argumento que na realidade deveria ser a conclusão do percurso. A ideia de iniciar invertendo a ordem me veio da conversa com profissionais da área preocupados com o rumo que o e-book esta tomando no Brasil.
As conversões mal feitas para o formato ePub estão levando a pensar que a culpa seja do formato, que não permite a gestão do design do livro nos padrões que até agora estávamos acostumados (ao menos em parte, porque sobre a beleza dos livros impressos temos muito o que discutir)!
Mas a primeira sensação é aquela que fica, e realmente muitas vezes nos deparamos com e-books, mesmo aqueles vendidos por grandes lojas, mal feitos e feios. Os motivos para isso são inúmeros, entre eles:
Quem trabalha com design de livros sabe bem que preparar um produto de qualidade tanto graficamente quanto textualmente requer tempo e tem seus custos.
Além disso um dos fatores que devem guiar quem quer produzir bons e-books é lembrar que não são simples arquivos eletrônicos, mas são livros de fato e com a dignidade de tal categoria. A diferença é que são livros realizados em suporte digital. Portanto a atenção, e eu diria até mesmo o carinho, no momento de projetá-los, devem ser os mesmo usados para os livros impressos ou até maiores!
O que muitos designers comentam é que o ePub parece não dar muitas opções quanto a criação de uma gráfica bonita e comunicativa.
Realmente tenho que admitir que o formato ainda esta na adolescência e enfrenta as dificuldades tipicas neste período de crescimento. Não oferece ainda suporte a tantas tecnologias que a internet nos acostumou a usar, e parece remeter ao inicio da web, onde os sites não passavam de textos com alguns elementos decorativos.
Ninguém nega que livros impressos bem feitos são quase insuperáveis, mas assim como a tecnologia do livro cresceu e melhorou, acontecerá o mesmo com este formato, de modo muito mais rápido.
O ePub é formado basicamente por aquivos XHTML conectados a arquivos CSS. Quem cria paginas de internet sabe bem que com estes dois instrumentos é possível realizar sites muito bonitos. O problema principal do ePub são os programas de leitura, que interpretam cada um a seu modo as informações do arquivo. Voltando à comparação com a web, é como o problema de visualizaçao das paginas HTML, interpretadas de modo diferente nos diversos browsers.
Sei que isto desmoraliza muito quem quer fazer bons livros e leva as vezes a adotar a solução que aparentemente parece a melhor: o PDF.
Diante das dificuldades iniciais de realizar um ePub de qualidade a ideia que se difunde é que o PDF é melhor. Afinal ele reproduz de modo fiel a gráfica que queremos pro nosso livro e em qualquer aparelho usado, será lido fielmente, como acontece com o papel.
As vantagens do PDF são muitas e todo mundo conhece: é fácil de se fazer, todo computador abre, é um padrão reconhecido etc. Isto sem contar que muitos não usam todas as potencialidades deste formato. São realmente poucos os e-books em PDF que usam recursos de interatividade, menu de navegação, os links hipertextuais, os recursos de busca e as tags internas. Faço notar que estas características positivas não existiam no inicio da historia do PDF, mas foram acrescentadas ao longo do tempo.
Por incrível que pareça, o defeito do PDF é aquilo que, para muitos, é a sua vantagem: a estaticidade.
Ler um PDF em uma tela pequena é uma experiencia horrível, e os recursos de flexibilidade são realmente mínimos. Alem disso existem muitos PDFs mal feitos, construídos a partir de um simples arquivo word, sem um minimo de design e isto praticamente zera as vantagens do formato, aliás, denota mais a preguiça de quem o fez do que uma real “escolha de formato” estratégica.
Quantos PDF vendidos são na realidade “sobras” de um livro preparado para a impressão?
Preparar um e-book em PDF que seja bom (não digo ótimo) requer trabalho e se o objetivo é atingir um publico amplo seria necessário produzi-lo em formatos de tela diferentes, adaptado para os diversos leitores digitais (iPad, iPhone, PC, netbook, etc), mas isto obviamente aumenta muito os custos.
O ePub pode resolver o problema da mobilidade, porque, graças à sua total flexibilidade, ele se adapta a qualquer tamanho de tela, desde os smartphones ao PC. Oferece ao leitor a possibilidade de adaptar o livro às próprias necessidades, por exemplo, aumentando ou diminuindo o tamanho das fontes, ou até mesmo mudando de fonte.
E o design? O design do ePub é a sua flexibilidade. Mas este argumento merece mais explicação.
O que gostaria de concluir aqui é que nem todo o livro pode ser feito em ePub. Livros que fazem recursos a muitos elementos gráficos, ainda encontram mais vantagens no PDF do que no ePub. Portanto não vejo eles como concorrentes, mas como complementares.
Como afirmava antes, o design do ePub é a sua flexibilidade. É através desta ótica que vamos conseguir produzir um ePub de qualidade.
O primeiro passo para a qualidade e a beleza é ter um texto em XHTML com as tags colocadas nos lugares certos.
Para quem tem familiaridade com internet, não é difícil entender que a boa formatação do texto é requisito fundamental para a criação de um bom design.
Seria importante que os editores começassem a pensar o próprio livro já usando ferramentas que permitam a manipulação do texto através do uso de tags, como o XML. Isto permitirá usar o conteúdo, adaptando-o aos diferetes formatos e instrumentos. Portanto não mais uma produção baseada no wysiwyg (O que você vê é o que você obtem) ao qual estamos tão acostumados, mas sim no wysiwym (O que você vê é o que você pensa) e isto significa simplesmente dividir as informações da formatação.
Tratando-se de um “mini site”, o visual do ePub é controlado pelo CSS e as possibilidades de formatação são varias. Para ter uma ideia do que estou dizendo, visite o site do ePub Zen Garden, que mostra diferentes “looks” possíveis para um e-book em ePub. A possibilidade de integrar as fontes dentro do próprio arquivo, permite ao designer trabalhar com este elemento gráfico tão fundamental para o design de um livro.
Outro elemento que pode fazer a diferença de qualidade é o uso de imagens em formato SVG (Scalable Vectorial Graphics), os gráficos vetoriais escaláveis. E’ uma linguagem XML para descrever de forma vetorial desenhos e gráficos bidimensionais. A grande vantagem é que a imagem se adapta à tela sem perda de qualidade, além de ser um formato aberto e livre para ser usado por quem quiser.
O futuro próximo nos reserva surpresas. Entre elas a possibilidade do uso do HTML5 no ePub, o que vai significar um salto de qualidade para os designers e para quem quer produzir ePub com funções mais avançadas.
O ideal, e espero chegarmos lá, é que o ePub seja ainda mais flexível, reconhecendo o aparelho no qual está sendo exibido. Assim, se quero ler o meu livro no Cool-er, que permite uma ótima visualização de texto mas não de vídeo, o formato mesmo colocará a disposição somente o texto, enquanto no meu iPad aparecerão os vídeos e outros elementos interativos.
Bem, enquanto isso temos que usar os recursos que este formato possui e que, se bem usados, permitem fazer ótimos e-books. É preciso investir em qualidade e em formação para quem trabalha no setor, evitando conversões automáticas baratas, que se por um lado permitem o ingresso rápido no mercado, por outro, tornam este ingresso de péssima qualidade. Este é um problema sério que até mesmo grandes empresas, como o Google, não estão enfrentando da melhor forma. Nos admiramos dos grande números de livros que ela está disponibilizando em formato ePub, mas ninguém coloca em evidencia a péssima qualidade destes ePubs. Ver pra crer!
Bons e-books vão incentivar a qualidade dos livros. Para que os livros impressos possam concorrer com os livros eletrônicos, não vai mais ser suficiente um computador e uma gráfica de fundo de quintal. Profissionalismo e qualidade serão elementos imprescindíveis.
Para concluir esta introdução ao ePub não posso deixar de citar uma ideia da designer Stella Dauer no seu blog “Abrindo o livro” e que partilho plenamente:
Inclusive, essa é uma ótima oportunidade para o Designer de Livros mostrar a que veio. Conhecida como “a arte invisível”, o Design de Livros é o ato de deixar a interface o mais transparente possível e tornar a leitura agradável e clara. Ter tantas restrições de criação ajudará o designer a pensar melhor no que realmente interessa em um livro.
Nos próximos artigos vamos aprofundar a análise do formato ePub, para endendê-lo melhor.
Obrigada!!!
Acho que o maior obstáculo para os designers de livros tradicionais é a quase obrigatoriedade de se mexer no código para resolver problemas que, para eles, são simples de se resolver na versão impressa e muito complexos (relativamente) em um ePub. É um conjunto bem diferente de competências que se precisa ter. O designer é primordialmente uma “criatura” visual e acredito que muitos, principalmente os mais conservadores, tem verdadeira aversão a entrar nesse mundo. Mas não há como deter essa “maré”.
Sou Diagramador e responsável pelo fechamentos e aprovações dos livros na gráfica. Gostaria de indicações de cursos para aprender sobre e-books, epubs e webdesign no Rio de Janeiro, Obrigado. Fernando.
olá tenho 10 anos de experiência em editoração de livros revistas e jornais, trabalho desde o pagemaker, depois quark e agora com o idolatrado adobe indesign, mas infelizmente ainda nao tive contato com informações a respeito da produção de e-book gostaria de saber onde consigo mais informações e ou cursos a respeito do assunto em BH-MG. desde já agradeço a atenção dispensada.
Olá, sou de Belo Horizonte, trabalho com diagramação e tenho conhecimento avançado no InDesign e gostaria de saber se vocês têm curso para tablet Androide. Obrigado e aguardo o retorno.