Este blogueiro escreve, no mais das vezes, ouvindo uma rádio da internet que só toca trilhas sonoras. São 24 horas por dia, todos os dias, executando trilhas de filmes estadunidenses. Realmente, podemos ter as objeções que quisermos sobre os EUA, mas uma coisa temos que reconhecer: eles sabem ser profissionais. Imaginemos um músico que recebe a encomenda de uma trilha sonora. Ele não pode descumprir o prazo e depois dizer ao diretor do filme: “ah, sabe o que houve? Não me veio inspiração, por isso não vou poder cumprir o prazo contratual”. Não existe essa opção. Imaginemos um diretor de cinema, que recebeu um prazo do produtor do filme. Ele tem uma produção a dirigir, incluindo atores, cenários, câmeras, iluminadores, criadores de efeitos especiais, músicos. E um prazo a cumprir para entregar ao produtor a sua obra. E ele, em geral, entrega a obra no prazo.
A cantora Gal Costa, numa entrevista, há muitos anos atrás, confessou que não canta em casa. Disse que, na verdade, não gosta de cantar. Que o faz profissionalmente. Para alguns pode ter sido um choque. Gostamos de imaginar o artista como alguém que ama o que faz. Mas tentemos imaginar uma cantora, um cantor, que já vem pela estrada há 20, 30 ou 40 anos. Alguns cantando as mesmas músicas. Ele ou ela só poderá seguir pelo profissionalismo, e não porque aquelas músicas ainda causem algum frisson, alguma emoção a mais.
O brasileiro é um sonhador. E isso é bom, desde que se trabalhe ativamente para transformar o sonho em realidade. Na área de livros, o que ocorre é que muitos autores iniciantes levam anos para escrever seus livros. E isso não é viável, nem para um iniciante, nem para um veterano. Não é viável economicamente, exceto se o autor tem outras fontes de renda. Então, não é um autor profissional, mas um autor eventual
Há coisas que levam anos para se completarem. Robert De Niro, com sua empresa Tribeca Productions, produziu um grandioso show em homenagem a Fred Mercury, que estreou em 2002. A preparação do show levou seis anos. De Niro justificou: “Esse é o tempo normal que esse tipo de coisa leva para ser feita”. Só que, durante essa preparação, os produtores estavam investindo dinheiro e, portanto, De Niro, sua empresa e sua equipe estavam recebendo seus proventos mensais. Hoje, com a crise nos EUA, talvez já não fosse possível esse prazo de seis anos…
Se o escritor iniciante vive de outra coisa, então, como dissemos, ele não é escritor profissional. Não vive disso. E talvez não se importe se o seu livro vai vender muito ou pouco. Um profissional não pode se dar ao luxo de não se importar. Ele tem que se preocupar com a venda do livro, pois disso dependem seus ganhos.
Existem poucos escritores profissionais, no Brasil e no mundo. É uma questão a ser discutida. Mas o fato é que, num mundo capitalista, o artista tem duas escolhas: ser um amador que, como o próprio nome diz, ama o que faz, mas não ganha dinheiro com isso. Ou ser um profissional que se impõe prazos e metas, e consegue auferir seus proventos a partir de sua arte.
Artigo escrito por Roberto Locatelli, que lida com qualidade de vida, computação gráfica, ficção científica, autoconhecimento e evolução da humanidade. É proprietário da RLocatelli digital e mantém o site Criar eBook.