Esse artigo foi publicado na Revista do IDEC, do mês de abril. Reproduzimos aqui na íntegra.
Eduardo Melo*
A leitura eletrônica é tentadora. Os e-books tendem a custar menos que os livros impressos, é possível carregar centenas deles em um aparelho que pesa menos de 300 gramas, entre outras vantagens. Só que existem alguns poréns, que poucos vendedores e editoras discutem em público.
Quando você adquire um livro impresso, ele é uma propriedade sua e pode ser emprestado, revendido, copiado para uso pessoal, sem que você precise pedir permissão a ninguém. Com os e-books, a coisa não é tão simples. Temendo a pirataria, editores e vendedores empregam o chamado DRM (Digital Rights Management), uma tecnologia cara que “embala” os e-books em um código, conhecido apenas pelo vendedor. Cada vez que o livro é baixado em um aparelho, o vendedor precisa autorizar o seu uso por meio do envio de um código pela internet. Dessa forma, limita-se o número de cópias.
Esse controle sacrifica a liberdade do leitor. E-books “protegidos” só podem ser abertos em determinados aparelhos e programas autorizados. Trocar de aparelho ou de programa pode significar perder acesso aos livros. A necessidade eterna de autorização prévia, via Internet, para ler o e-book, é mais perversa: se a empresa sair do ar, o e-book nunca mais será liberado, tornando-se um arquivo inacessível. Isso já aconteceu, nos EUA, com a empresa Embiid, que quebrou e deixou seus leitores na mão.
Na prática, o DRM não protege os livros dos verdadeiros piratas, que no começo de 2009 descobriram como eliminar o DRM de livros vendidos pela Amazon e outras lojas. Muitas versões ilegais que circulam na rede não se originaram de e-books, mas de livros impressos scaneados. Por isso questiono se uma proteção frágil, que encarece os e-books e atrapalha a vida dos leitores, merece investimento. Editores e autores devem se proteger da pirataria, não dos leitores. Dificultar a experiência de ler o e-book estraga a festa de quem quer ler onde, como e quando desejar, e por um preço baixo.
Já existem alternativas para conter a pirataria, inclusive no Brasil, que não punem os leitores honestos. A loja de e-books Simplíssimo, por exemplo, que será inaugurada em algumas semanas, venderá e-books sem DRM e em formato ePub, padrão internacional de formato e-book, oferecendo também versões para o Kindle. Será uma experiência de leitura diferenciada, pois o leitor poderá ler seu e-book onde e como preferir. Aos editores receosos, a loja vai oferecer a inovação de uma marca d’água eletrônica (chamada Social DRM) única para cada leitor e inclusa em todos os e-books. Se um e-book for distribuído ilegalmente, o pirata será identificado pela marca d’água. É uma nova forma de combater a pirataria, sem penalizar os leitores com bloqueios e amarras eternos que desrespeitem seus direitos.
* Historiador e mestre em letras, também é fundador da Editora Plus.