Vale a pena ver a transcrição completa dos comentários de Benedicte Page, no The Bookseller, que está cobrindo a The Book Industry Conference 2010. Uma tradução rápida revela como os livros, ou melhor, os e-books, se inserem dentro da estratégia de cada empresa:
Apple, Google e Amazon não são livreiros e suas ações sobre os livros e os editores deve ser entendida nos termos dos seus objetivos estratégicos, anos-luz além dos objetivos dos livreiros tradicionais.
Benedict Evans da empresa de mídia e tecnologia Enders Analysis apontou a diferença de escala dessas empresas para a indústria do livro, assinalando que a receita dessas companhias: Apple em US$41.7 bi, Google em U$$26.5 bi e Amazon a US$ 5.6 bi.
A Apple deve ser entendida como uma empresa de hardware baseada no negócio da “gilete reversa” – o modelo baseado em vender barbeadores baratos com lâminas caras, só que ao contrário, já que a Apple vende iPhones e iPads caros com acesso a conteúdos baratos. Daí o “gilete reversa”.
O objetivo estratégico da Apple, portanto, é
“criar uma ótima experiência de conteúdo para impulsionar o consumo de seus aparelhos eletrônicos”, disse Evans.
Sobre o Google,
“garantir que todo o conteúdo esteja disponível no Google, de modo que você inicia sua jornada de compra a partir dele e o Google ganhe dinheiro vendendo propaganda. Daí seu objetivo de oferecer tudo grátis”
E sobre a Amazon, Evans argumentou que ela não é uma empresa de livros, mas uma empresa de logística, agregando produtos físicos através do seu site para obter economia de escala e ganhar poder de barganha e baixar preços com fornecedores.
“Para eles os -ebooks são uma forma de atrair dirigir as pessoas para o site”, explica Evans. Se você compra um e-book barato, pode ser que volte e compre mais itens, talvez mais caros, na próxima visita. “Mas a Amazon não consegue adicionar valor vendendo e-books, porque não há logística envolvida – essa é a razão para as agressões que vimos a Amazon cometer contra outros players”, comentou Evans.
Basicamente, para as três gigantes, os e-books são apenas mais uma, entre tantas formas de incrementar as vendas de aparelhos (Apple), publicidade (Google) ou produtos em geral (Amazon). Essas empresas querem ganhar dinheiro, algo absolutamente justo, e nessa perspectiva devemos encarar a aposta delas nos e-books. Se os livros são oferecidos trancados, ou livres, para ler em um só aparelho ou em toda a Internet, é apenas para atender as estratégias globais das empresas. Os consumidores, editores, livreiros… são meros coadjuvantes, nesse ponto de vista.
Fazer negócios com os grandes pode ser bom no começo, mas é preciso ter muito cuidado. Afinal, se um dia eles decidem que você não faz mais parte dos planos estratégicos deles, como fica?
É sempre bom não perder a perspectiva sobre as reais motivações dessas grandes corporações. Como revela o documentário “The Corporation”, a empresa capitalista é amoral, ela faz o que tem de ser feito para alcançar os seus objetivos primários.