Traduzimos e adaptamos aqui um artigo do blog de J.A. Konrath, autor independente conhecido por experimentar muito com a venda de e-books. Além de divertido, o texto é provocador e certamente vai provocar reações, contrárias e a favor. O que nos interessa é refletir serenamente sobre o futuro digital, que agora também bate à porta dos livros.
O artigo original pode ser lido aqui.
Moderador – Bem-vindo Anônimos obsoletos! Eu chamei todos vocês aqui para dar o boas vindas ao nosso mais recente membro, a Indústria de impressão.
Indústria de impressão – Olá a todos. Houve um erro. Eu não pertenço a este grupo aqui.
(todos riem)
Indústria de impressão – Estou falando sério. Eu não sou obsoleto. Sou importante. Os livros impressos estão em circulação há centenas de anos. Eles nunca serão substituídos.
Fitas VHS – Sim, todos nós pensávamos assim uma vez.
LP – Chama-se negação. É difícil aceitar no inicio.
Fitas VHS – É fácil para você falar, LP. Você ainda tem um mercado de colecionadores de nicho. A mim eles não podem sequer vender no eBay.
Mercado de antiquário – Podemos, por favor, não mencionar o eBay? Eu costumava ter lojas em todo lugar. Foram fechando mais e mais graças a este inútil website.
CDs – Pelo menos você ainda tem algumas lojas. As lojas especializadas que me vendem estão quase extintas. Eu sou distribuído em umas poucas prateleiras na Best Buy, Wal-Mart e afins.
Indústria de impressão: Olha pessoal, eu suponho que todos pensam que os e-books vão me colocar fora do negócio. Mas isso não vai acontecer.
Telefonia fixa – Nós todos negamos no inicio. Eu lembro quando encontrava em toda a cidade um telefone público. Em seguida, chegaram os telefones celulares, merda! Você sabe que algumas pessoas não possuem sequer linhas de telefone fixo em casa? Uma vez, toda casa tinha um telefone fixo…
(a Telefonia fixa desanda a chorar. A agenda telefonica, o modem Dial-Up e a enciclopédia, com uma camiseta escrita “Odeio a Wikipedia” se aproximam. Segue um abraço de grupo.)
Video locadora – O que a Telefonia fixa está tentando dizer é que quando chega uma nova tecnologia, mais rápida, mais fácil e mais barata, a tecnologia mais velha – e todas as empresas que a apoiaram – tende a desaparecer.
Indústria de impressão – Por que você está aqui, Video locadora? Há ainda Blockbusters em todo lugar.
CDs – Uma vez havia lojas de discos em toda parte também.
Audio cassete – Claro! Vendia cassetes, também! Bate aqui!
(Ninguém dá bolas pra Audio cassete)
Video locadora – As coisas pareciam ir bem por um tempo. Eu tive uma vida decente, de vinte anos. Então eu fui atingida por todos os lados. Negócios que mandam DVDs pelo correio, filmes por TV a cabo, YouTube. Mas o prego no caixão veio nos últimos dois anos. Alguns sites que permitem streaming de vídeo instantaneamente, iTunes oferecendo downloads de filmes, máquinas de locação automáticas que ocupam pouco espaço…
Indústria de impressão – Mas os e-books são apenas uma pequena percentagem do mercado. As pessoas têm lido em papel desde Gutenberg. Eles não vão se adaptar às mudanças assim tão facilmente.
Kodak – Você está correto. Demora alguns anos para que as pessoas abraçem totalmente a nova tecnologia. Alguns nunca. Por exemplo, a Polaroid nunca me substituíu.
Polaroid – Cala a boca, Kodak. Nós dois levamos um chute na bunda das maquinas digitais. Quando foi a última vez que você vendeu qualquer filme?
Antenas de TV – Eu ainda estou em grande voga em alguns países do terceiro mundo!
Máquina de escrever – A questão é esta: quando a tecnologia melhora, torna-se amplamente adotada. Eu e a Xerox fizemos grandes sucesso! Eu colocava as palavras, ela fazia as cópias. Então a Xerox entrou pra valer no mercado, mas agora também corre perigo e não está indo tão bem assim.
Xerox – Merda de computadores!
Disquete – Isso mesmo!
Impressora de agulhas – Merda pra laser e a jato de tinta! Será que ninguém sente falta de arrancar o lado perfurado do papel? Será que não lembram da sensação e do cheiro que tinha?
CDs – Merda de internet! Vocês querem falar sobre pirataria e downloads ilegais?
(Todo mundo diz um não!)
Moderador – Todos nós lemos no blog do J.A. Konrath que o caminho para combater a pirataria é com o baixo custo e conveniência. Indústria de impressão, você está reduzindo seus preços e tornando mais fácil para os clientes baixarem seus livros?
Indústria de impressão – Na verdade, baixamos muito pouco e em alguns lugares até mesmo aumentamos os preços de nossos e-books.
(Suspiro coletivo e balanço da cabeça)
Moderador – Bem, seria melhor pra você aprender com nosso erros! Você ao menos está tornando mais fácil comprar e-books?
Print Indústria – Bem, nós começamos a publicar com intervalos, lançando os e-books meses após o lançamento do livro impresso.
(Todos levam a mão à testa)
Indústria da música – Você pelo menos tentou vender a partir do seu próprio site? Eu gostaria de ter feito isso. Mas a gananciosa da Apple veio e…
Indústria de impressão – Uh … não. Não tentamos isso. De fato, alguns ebooks – por exemplo os do J.A. Konrath, já que foi citado – não estão ainda disponíveis em todas as plataformas e nem em todos os territórios.
Moderador – O que você quer dizer? Os livros do J.A. Konrath estão disponiveis em todo lugar.
Indústria de impressão – Aqueles que ele mesmo coloca à venda. Os que nós vendemos estão faltando em vários mercados importantes, e tem sido assim há anos. Mas não tem problema. Estamos pagando royalties muito menores e elevando os preços, para que possamos fazer ainda um bom lucro. Além disso, os ebooks são um nicho de mercado. Os dispositivos para a leitura dos e-books são dedicados e caros.
Sala jogos – Eu estava costumada a ser uma indústria próspera. A criançada gastou bilhões em meus milhares de locais. Aí Nintendo, Sony e Microsoft fizeram consoles portateis, e agora as pessoas jogam seus videogames em dispositivos dedicados e caros. É um negócio de bilhões de dólares, e só posso concorrer se eu vender pizza barata e dar brinquedos de plástico para a criançada que joga futebol de mesa. Se as pessoas querem a mídia, elas compram o dispositivo caro mesmo. E ponto final.
Indústria de impressão – Nenhum de vocês estão me ouvindo. Os livros impressos existirão sempre.
Jornal de papel – Yeah! É isso ai irmão!
Indústria de impressão – Não vamos nos comparar, ok, Jornal de papel? Sem ofensa.
Jornal de papel – Nenhum problema. Hey, talvez nós possamos ajudar uns aos outros. Estou vendendo espaço publicitário barato nestes dias, e …
Indústria de impressão – Não, obrigado. Ninguém lê mais você. As pessoas buscam as notícias em outros lugares.
Moderador – Então, por que as pessoas não podem obter os seus romances em outros lugares também?
(A Indústria de impressão lavanta-se indignada, apontando o dedo)
Indústria de impressão – Olha, isto aqui não tem nada a ver comigo. Todos vocês se tornaram irrelevantes. A Tecnologia cresceu e vocês não cresceram com ela. Mas isso não acontecerá comigo. Haverá sempre livrarias e livros feitos de árvores mortas. Nós vamos continuar a vender livros de capa dura a preços de luxo, a pagar aos autores de 6% a 15% de royalties sobre o preço que nós acharmos correto. E as pessoas vão comprar os livros porque nós diremos a elas para fazer isso! Nós nunca vamos nos tornam obsoletos!
Fábrica de chicotes de cocheiro (*) – Amém, irmão! Isso é o que eu continuo tentando dizer a essas pessoas!
CDs – (sussurrando para LPs) Dou-lhe seis anos, no máximo.
* Buggy Whip Industry no original. Mesmo que exista como indústria, exemplifica um mercado que se extingue por falta de demanda, causada pelo advento de nova tecnologia (neste caso, o automóvel que substituiu as carruagens).
Nossa o artigo é muito bom, e já esta se tornando real nos Estados Unidos e daqui a alguns anos aqui no Brasil também.
Quem já leu um ebook num e-reader sabe que é muito bom e ao mesmo tempo prático.
Gostei.
Este é um artigo digno do imaginário de Monteiro Lobato. Excelente!
Quanto ao futuro do livro impresso, a resposta fica para o mercado. Pelo que pude acompanhar, em um programa da Globo News, a Editora Record vê complementaridade no mercado de “e-books”. Ressaltou a representante da Record que livro também é presente, e uma visita à loja sempre será um passeio interessante. Afinal, as pessoas gostam de passear. Ela ressaltou, também, a questão da compra por impulso, que é um fenômeno humano natural. E o livro, com suas belas capas, sempre será um ótimo presente.
De minha parte, penso que o sucesso do “e-book” dependerá muito da sagacidade de seus empreendedores. Não tenho dúvida de que o preço acessível será uma das ferramentas portentosas para derrubar as muitas barreiras, que ainda existirão no mercado do livro eletrônico.
Vida longa ao “e-book”, o mais democrático meio de difusão de cultura e de oportunidades para os produtores de conteúdo!
Adorei! Vou levá-lo para a sala de aula e trabalhá-lo com meus alunos.