Há cerca de uma semana, a Amazon mudou as regras para venda de livros impressos em seu site. A partir de agora, vendedores terceirizados podem “conquistar” o botão de compra dos livros, desbancando a Amazon (e as próprias editoras), quando um livro ficar “fora de estoque” na própria Amazon.
Esta sistemática já é aplicada em praticamente todos os outros produtos vendidos na Amazon. Se a Amazon vende um produto e fica sem estoque, outro vendedor terceirizado, que possua o produto em estoque, “conquista” a primeira opção de venda na página do produto, tornando-se a opção padrão do botão de compra (posição disputadíssima entre os vendedores). Até semana passada, os livros impressos nunca tinham entrado neste sistema, e isso subitamente mudou.
A mudança espalhou uma onda apreensão entre os editores norte-americanos, que enxergaram na iniciativa da Amazon, mais uma tentativa de minar suas posições em negociações futuras. Os vendedores terceirizados oferecem exemplares mais baratos, geralmente por conta de pequenos defeitos e/ou obtidos em “encalhes” de outras livrarias, a preço de banana — o que permite pedir um preço menor pelo livro e considerá-lo como “novo” (no sentido de “nunca usado”).
O medo das editoras, obviamente, é deixar de faturar com as vendas de suas próprias obras. Conforme explica o editor do site News Republic, por trás da mudança podem estar várias razões. A primeira, e mais lógica, é que a Amazon não quer gastar dinheiro estocando livros que não vendem, incentivando vendedores terceirizados a assumirem custos de armazenamento e logística dos livros que vendem menos, como já ocorre com outros produtos. Outra explicação, bem mais maquiavélica, é fazer da mudança um “incentivo” para as editoras utilizarem o serviço de impressão sob demanda da Amazon. Qual a lógica: não haveria custo com estoque, pois os livros seriam impressos à medida que fosse comprados; o estoque nunca terminaria, pois não existiria estoque. O problema é isso tornaria as editoras excessivamente dependentes da Amazon, afinal, entregar a impressão das obras para a Amazon fragilizaria ainda mais a posição negocial das editoras.
Vamos imaginar um mundo onde a Amazon pudesse imprimir os livros à medida que fossem comprados. A Amazon teria mais controle sobre o processamento logístico do livro, permitindo um tempo de entrega ainda menor para os leitores. Por outro lado, as editoras veriam uma sistemática de negócios que tem funcionado por décadas (a negociação antecipada de lotes de livros) mudar completamente, em pouquíssimo tempo. Não rola.
A julgar pela filosofia da Amazon, que deseja ser “a loja de tudo” (The everything store), faz bastante sentido incentivar a impressão sob demanda. Para os leitores, seria ótimo — livros sempre disponíveis, em qualquer formato. Porém, para as editoras, parece uma ameaça às suas margens de lucro, até mesmo ao seu modelo de negócios.
A verdadeira Nêmesis das editoras, nunca foi o ebook… mas o avanço tecnológico dos sistemas de logística e, principalmente, da automação de processos, que até pouco tempo atrás nem se imaginava serem possíveis de automatização total. E a Amazon é uma empresa que desfaz barreiras tecnológicas, numa velocidade tão impressionante, que nenhuma pessoa sensata consegue arriscar qual será o limite destes avanços.