Artigo de Moises Zylbersztajn, publicado originalmente em seu blog.
Ontem visitei um das grandes editoras do didático, participando de um encontro de escolas particulares na discussão do avanço do livro didático digital. Recebemos semana passada, de outra editora, várias coleções já na versão para tablets. Engraçado como o avanço das coisas revela facetas novas que só o tempo pode fazer-nos aprender.
Imaginávamos inicialmente que qualquer esforço na direção do livro digital, mesmo que numa versão .pdf poderia ser vantajosa, pois é menos peso, mais motivação, …Eles me colocam na mão um material para tablet que complementa a coleção impressa. Bem bonito, diagramado igualmente ao impresso, mas eu me peguei apertando os ícones (que remetem ao livro impresso, caderno de atividades…), tentando escrever nos quadros de preenchimento, apertando meus dedos contra o vidro à toa. Imaginei o que os alunos fariam, tentando interagir com aqueles elementos.
Alguém disse, deveríamos compreender o que manter no formato impresso e produzir no digital aquilo em que o digital realmente excede. Óbvio, mas tão elementar que parece inalcançável. Estamos inebriados pela perspectiva do digital total, tudo encapsulado, carregaremos somente um tablet e uma maçã para a escola pela manhã, talvez o celular fosse ainda melhor, tudo pequeno, cabendo no bolso direito.
Navegar num material bonito num tablet e não ter nada para clicar é um desperdício, não acham? Os dedos ficam nervosos. Por que gastar dinheiro à toa? Outra iniciativa interessante é permitir que o professor se aproprie da imagem do livro e na lousa digital ou na projeção simples, possa aproveitar das imagens ampliadas, dos vídeos e inserir anotações, ideias, sugestões…
Isto na minha opinião valoriza o livro do aluno (pô, meu professor trabalha seguindo o livro direitinho) e pode resgatar um pouco do carinho que o aluno um dia teve pelo livro didático, mas continua ainda um subaproveitamento. Em seguida outra iniciativa louvável, a de aproximar a rede social das coleções didáticas, permitindo que o professor produza uma discussão coletiva junto da versão digital do livro. Discuto se o aluno abandona o facebook, para discutir aí dentro. A rede social oficial vai sempre fazer menos efeito.
Bom, e como (e quando) vai sair o livro verdadeiramente digital? Aquele que composto de um livro-texto com remissões ao aplicativo no tablet, mescla vídeos especialmente produzidos, simulações, discussões coletivas, produções coletivas,…. Será que as editoras vão compor equipes ecléticas, com tempo e recursos técnicos para discutir-se, dissolverem-se das versões digitais, reprogramarem-se, desenvolverem um biblioteca de estratégias didáticas novas, testarem, voltarem, publicarem e continuar republicando continuamente.
Quanto custa isto? Dá retorno? Quem paga? Quem compra? Se olharmos as iniciativas do governo, veremos um nivelamento rasteiro, que classifica tecnicamente um conjunto de objetos de aprendizagem digital que devem acompanhar os impressos em 2014, que tornar-se-ão de domínio público a partir de então. Por que rasteiro? Por que singelas animações bem feitinhas, contendo os elementos e critérios estabelecidos no edital darão conta do recado e serão aprovados (e também como eu editor vou gastar muito para publicar algo que torna-se público em seguida?) e o ciclo torna-se vicioso, como já aconteceu há 20 anos com o chamado edutainement, um ciclo que produziu jóias como Simcity ( e toda uma família de produtos da Maxis – como SimAnt, Simlife, SimEarth), Civilization, e alguns outros em cuja ficha técnica se via a composição de equipes como nos filmes de Hollywood. São superproduções, envolvendo dezenas de profissionais, custa caro isto!
Quem pode investir nisso? Fundos de investimento? Quando conseguiremos romper este ciclo?
Moises Zylbersztajn é educador paulistano, dedicado à tarefa de transformar a escola em um espaço de estímulo à cultura, à inovação, ao equilíbrio necessário na formação do jovem contemporâneo.