A escritora Lucia Etxebarria

Autora Espanhola Deixa a Escrita em Protesto Contra Pirataria

23/12/2011
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Já são muitos os casos de sucesso de livros pirateados que acabam explodindo em vendas. Existem até mesmo os autores que se promovem colocando seus livros escritos em sites de torrents e outros sites de download ilegal, justamente para serem pirateados e ganharem reconhecimento. Mas essa felicidade não é para todos, e a pirataria não é uma arma do bem para todos.

Essa semana foi divulgada a história de Lucía Etxebarria, premiada autora espanhola, que anunciou que não irá mais escrever livros, após perceber que haviam mais downloads ilegais de suas obras do que compras de seus títulos. Segundo a matéria publicada no The Guardian, ela resolveu trocar de profissão por considerar que as autoridades não podem (ou não querem) fazer nada a respeito desse problema.

Em seu perfil no Facebook, desabafou: “Dado que eu vi hoje foram baixadas mais cópias ilegais de meus romances do que foram comprados, anunciou oficialmente que eu não voltarei a publicar livros em uma temporada muito longa. Não, pelo menos, até que esta situação seja regulamentada, de alguma forma. Sou que eu não quero passar três anos trabalhando como uma louca para isso. Se eu quiser dar romances, vou fazer cópias para meus amigos.”

A repercussão do problema foi imediata. Centenas de pessoas comentaram em seu perfil, e logo iniciou-se uma discussão. Outros desabafos vieram: “Como anunciei ontem, minha intenção, por enquanto, é não escrever romances por alguns anos. Me surpreende muito que muita gente não entendeu e que, para piorar, me critica, por conseguinte. Eu não sei em que trabalha esse povo que se sentiu tão ruim com o que eu disse. Não sei se os pais os mantém ou se eles herdaram uma fortuna. Não tenho nem pais e nem marido para me manter e, portanto, eu tenho que trabalhar para ganhar a vida. Porque eu mantenho minha casa e minha filha.”

“Em teoria eu recebo entre €2 a €2,9 por cópia. Mas com desconto do agente e do gerenciador de finanças. No bolso eu recebo muito menos, às vezes, 5%, às vezes menos. Em versão impressa eu levo 10% para cada livro. No líquido, depende dos acordos. Por que é isso? Gostaria de encontrar um editor que me explicasse, porque eu não sei muito bem, ninguém nunca ofereceu mais. Também não compreendo por que o eBook é tão caro, nem qualquer editor explicou-me até hoje.”

A autora acaba chegando no preço dos impostos sobre o livro digital, que são bem altos na Europa: “Os livros eletrônicos são caros porque o governo instituiu um IVA de 18% por eBook. O IVA do papel é apenas 4%.”

Segundo o Estadão, “Etxebarria cogita aceitar uma proposta de emprego e afirmou que os criadores (escritores, músicos, cineastas) enfrentam uma grande dificuldade por conta da pirataria. Ela ressaltou a posição da Espanha no ranking mundial de downloads ilegais: ‘Estamos atrás apenas da China e da Rússia em total de downloads ilegais, mas ganhamos de todos em downloads ilegais per capita.” E defendeu a lei francesa, tida como uma das mais duras do mundo.”

Seu último título publicado, El contenido del silencio, foi distribuído apenas na versão impressa – custando mais de €20, consta-se – para coibir a pirataria, mas o efeito foi contrário. As vendas foram menores do que os outros títulos e é muito fácil encontrar o arquivo de seu livro para ser baixado na internet. “Decidimos contra a publicação do eBook porque isso é fácil de piratear. Teria sido como jogá-lo direto para os leões,” Etxebarria disse.

 

  1. Com um agente desses, eu também pararia de publicar livros. Como uma autora premiada se rende e entrega quase toda a receita da sua obra para outras pessoas?

    Ela diz “Ninguém nunca me ofereceu mais”. Excelente exemplo para outros autores: se você mesmo não se dá valor, ninguém irá dar valor para você.

      1. Ainda não há solução 100% segura para impedir a pirataria. A meu ver, a melhor solução é prover aos consumidores um vasto acervo, a preços justos – nem baratos demais, nem caros – e fácil de ser comprado. Algo como mais ou menos acontece na Amazon.

  2. Antes desta onda de pirataria começar (veja como ela é lucrativa), eu chamava atenção dos colegas autores para novos modelos que tornariam o livro muito mais acessível e ainda assim garantiria bons ganhos para quem produz. A Internet possibilita uma distribuição e divulgação tão grande que mesmo vendendo com margens míninas de lucro é possível cobrir gastos e ganhar bem. Muitos viam aí sua carta de alforria de um modelo que é massacrante pra quem cria e investe no livro. Só que aí chegaram os piratas…

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