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Arquivos Digitais Não São Eternos

18/05/2012
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Quando o assunto é o modelo de armazenamento e comercialização de ebooks, é impossível que a discussão não vá parar na famosa nuvem. Confiar seus arquivos à nuvem traz uma série de vantagens: o espaço é ilimitado, é possível atualizar os arquivos rapidamente e sem incômodo para o leitor, além de acessá-los de qualquer lugar. O que parece não ter se tornado uma preocupação para a maior parte das pessoas é a segurança dos arquivos digitais – seja na nuvem, num servidor ou em qualquer outro sistema de armazenamento virtual. É este aspecto da publicação digital que a pesquisadora Barbara Galletly discutiu ontem no Digital Book World:

“A publicação digital não apenas parece diferente da publicação em papel; ela é, por natureza, menos estável. As máquinas, sistemas operacionais e softwares de gerenciamento de direitos digitais que usamos para acessar os ebooks estão constantemente evoluindo, assim como as coisas que podemos fazer com eles, como eles foram escritos, editados e codificados, o que podem suportar em termos de mídia. Assim como todo o resto, tudo o que é digital eventualmente se desfaz.

(…)

Se modelos de assinatura continuarem a decolar, se bibliotecas continuarem sem conseguir comprar acesso permanente de ebooks para seus usuários, se até a Biblioteca do Congresso e repositórios de arquivos não são capazes de acessar ebooks originais e guardar cópias para a posteridade, podemos perder algo de grande valor.”

A questão central aqui é que, ao contrário do que se costuma pensar, arquivos digitais não são eternos, nem mesmo se armazenados na internet. Lembram de quando o GeoCities fechou, levando consigo milhares de sites? O Internet Archive conseguiu preservar muitos deles, mas não todos (felizmente, a página que eu criei quando era criança foi-se para o limbo). No caso dos livros, além do problema da incompatibilidade de arquivos antigos com os softwares atuais – quantos livros por aí estão na fila para serem convertidos para ePub porque foram diagramados em Quark ou Pagemaker e têm problemas quando abertos no InDesign? -, ainda está fresca a memória de quando a Amazon apagou livros dos Kindles de seus clientes.

Não precisamos nem ir tão longe: aqui no Brasil, recentemente experimentamos essa falta de segurança dos arquivos digitais com o “apagão” de ebooks na Cultura. A pergunta que eu faço é a seguinte: se uma das nossas maiores livrarias foi afetada de forma tão grave por um problema no armazenamento de seus arquivos (alguns dos quais estão indisponíveis até hoje), será que as editoras brasileiras possuem um sistema de backup eficiente para o seu próprio controle? Barbara Galletly ainda se pergunta no final do texto: “Imagine se ninguém tivesse guardado edições originais da Bíblia de Gutenberg ou dos Contos de Canterbury ou do Dom Quixote; quão menos saberíamos sobre a nossa herança literária?”. Será que, quando um ebook recebe atualizações ou correções, a editora preserva também o arquivo anterior e se preocupa em manter os metadados atualizados? Ou será que essa preocupação com o passado tende a perder importância? Essa é uma questão que precisa ser pensada com mais cuidado – e não só em momentos de desespero com um servidor que nos deixa na mão.

 

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  1. Bom, é um ato de ingenuidade pensar na publicação digital como algo eterno; ela tem seus limites, como o papel também tem. A questão central é planejar a preservação… Arquivos digitais podem ser muito mais seguros que o papel, é uma questão de bom planejamento de preservação digital. A insegurança em relação a forma digital tem motivação no seu deconhecimento, tanto das tecnologias como nos métodos de planejamento da preservação digital.

  2. Pois é, esta é uma das razões pelas quais a “Revolução E-Book” não me empolga. Há um perigo muito grande de que o conhecimento real seja substituído por dados inseguros. Não legaremos bibliotecas ao futuro, acabaram as coleções de manuscritos dos autores, a filologia e a crítica literária não terão mais “baús de inéditos” como os de Fernando Pessoa.

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