Ao que parece, o mercado de eBooks usados está mesmo a um passo de se tornar realidade. De acordo com o The New York Times, o Escritório de Patentes e Marcas Registradas dos Estados Unidos publicou uma aplicação da Apple de uma patente para criar um ‘market place’ de livros, apps, músicas e filmes “usados”. Com a Amazon apta para lançar um sistema similar e a ReDigi em plena operação – embora apenas com músicas da iTunes – em breve veremos vários “bazares digitais” pela web.
Na última quinta-feira (7), uma empresa de tecnologia e mobilidade do Reino Unido apresentou um sistema alternativo e mais “social” para a venda de eBooks usados.
Segundo a análise da reportagem, esse mercado alternativo pode gerar problemas de inovação. A venda de eBooks (e produtos digitais, em geral) usados, é bom em um curto prazo para os leitores e autores que querem se tornar conhecidos. Mas em um longo prazo, pode tolher o processo de inovação e lançamento de novas obras por um fato simples: o preço do eBook novo poderia despencar, e mesmo assim os novos seriam incapazes de concorrer em valores com os “usados”.
Na prática, os usuários teriam à disposição uma vasta linha de opções de eBooks exatamente iguais aos originais por um preço bem menor. Para os autores, editoras e agentes literários, é mais cômodo viver dessa “renda” do que ter o trabalho de produzir outros títulos e não ter lucros significativos. Com o tempo, a literatura poderia ficar cada vez mais empobrecida.
Essa cadeia de eventos poderia não ser nada boa para as livrarias. Cada leitor poderia ser um revendedor, imagine um leitor compulsivo e acumulador que quer liberar espaço no iCloud ou simplesmente vender seu acervo. “Quem gostaria de ser o otário que compra um livro ao preço normal quando uma semana depois o mesmo pode ser adquirido por alguns centavos?”, questiona Scott Turrow, escritor e presidente da Author’s Guild, em resposta ao NYT.
Há mais de um século a Justiça tem sido leniente com a venda de livros usados, algo que já foi visto como um problema por editoras. Em 1908, uma editora processou a rede de livrarias Macy’s, que passou a vender livros usados por menos de US$ 1. A causa foi vencida pela parte acusada, e desde então essa jurisprudência tem sido adotada: o dono dos direitos pode controlar apenas a primeira venda. Daí em diante, o mercado é livre.
Se esse mesmo entendimento for estendido ao digital, como é esperado no caso entre a Capitol Records e a ReDigi, será o empurrão que falta para o “aftermarket” de eBooks (e aplicativos, músicas e filmes) deslanchar.
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A questão óbvia é: o processo na justiça estadunidense em 2008, decidido em favor da livraria, acabou com o mercado editorial de livros novos?
Evidente que não.
Logo, podemos especular que um mercado secundário de e-books usados não vai acabar com o mercado primário.