O problema com os eBooks é que eles são só eBooks.
Hoje abordaremos a questão dos padrões, ou sua falta, para publicação dos eBooks. Para quem já vem acompanhando esse “post picado”, estamos falando do item “c” de nosso artigo original:
c) os padrões de formatação ainda não são de fato padrões, com espaço para crescimento de formatos marginais e inclusive, (porque não) o ePub.
Este foi um dos itens mais instigantes quando iniciamos essa série de artigos, dado que quando comentamos sobre “padrões de formatação”, temos que forçosamente entrar em um dos temas que mais adoramos tricotar relacionados a futurologia dos eBooks: Em nosso ponto de vista, por definição nunca haverá padrão.
Muitos são aqueles que creditam ao fato de não haver um padrão comum para visualização, o “não deslanchar “ dos eBooks, acreditam alguns, está na fauna de formatos concorrentes como o ePub, Mobi, PDF, entre tantos outros (como não falar do próprio HTML). Este portanto seria um dos mais impactantes núcleos duros da não-disseminação dos eBooks. Nós não acreditamos mais nisso.
Como já comentado anteriormente, os livros em formato PDF já são há muito tempo distribuídos e comercializados. O próprio padrão ePub hoje aceito é muito bem distribuído, sem contar o interminável conjunto de conteúdos em HTML distribuídos pela rede.
O problema novamente reside no rótulo do que é um eBook, ou seja, quando que um produto editorial passa a ser chamado de eBook? Este é o ponto. Para responder essa questão, vamos voltar a bater em uma tecla que persistimos desde o início de nossas atividades com conteúdos editoriais eletrônicos (alguns gostam de chamar de eBooks).
Abaixo, segue nosso “mantra” interno sobre o tema:
UM LIVRO É UMA IDÉIA, QUE POR ABSOLUTA FALTA DE ALTERNATIVAS, SEU AUTOR INTELECTUAL TEVE QUE DISPONIBILIZÁ-LA NO FORMATO TEXTO. POR SUA VEZ, INFELIZMENTE ESSE CICLO SE REPETIU QUANDO ESSA IDÉIA TAMBÉM TEVE QUE SER “FORMATADA” E “DISTRIBUIDA” EM FORMATO LIVRO.
PORTANTO, OS LIVROS SÃO A ÚNICA FORMA FACTÍVEL QUE SEUS AUTORES CONSEGUIRAM PARA EXPRESSAR SUAS IDÉIAS EM UM DETERMINADO INSTANTE.UMA TRISTE (até o momento) CONSTATAÇÃO.
Notem: o livro em síntese não passa de uma idéia.
Mas essa idéia poderia ter sido expressada em muitas outras formas de comunicação: peça teatral, programa de televisão, filme, áudio e outros. Mas na maioria dos casos a “ideia” do autor não pode (ou não conseguiu) expressar-se de outra forma. Daí teve que virar livro.
Muitos advogam que uma das premissas do livro é justamente instigar a imaginação de quem lê, criando cenários e possibilidades imaginativas infinitas, onde cada um que lê construirá um universo de cenários, cores e matizes totalmente distinto.
Acreditamos que isso não é causa e sim conseqaência. Como a limitação tecnológica estava (já não está mais) na base do processo a tal “ideia” teve apenas a alternativa do “Livro” como forma de expressar-se. O tempo passou e o que era apenas limitação (forma) transformou-se convenientemente em diferencial (processo imaginativo). Desta forma, apontamos que a questão do formato (o livro texto) foi uma possibilidade inicial, que teve de fato seu tempo e motivos, mas hoje essas limitações não se suportam mais.
Hoje, a maioria das pessoas que não têm o hábito da leitura, têm justamente essa dificuldade e argumento. Não gostam (ou não querem) simplesmente “imaginar” cenários, cores e formas. Até querem alternativas de possibilidades, mas não apenas partindo de um “papel em branco” ou com somente alguns elementos “em texto” que subsidiem essa imaginação cognitiva.
Pois é, caro leitor… A informação é dura, mas é clara: a nova geração de público vêm se debruçando mais e mais para as novas mídias não por modismo, mas sim por comodismo. Conveniência parece ser o nome do jogo.
O público deseja maior suporte áudio-visual em suas interações cognitivas, seja para conhecimento, lazer ou informação. Parafraseando os Titãs: a gente não quer só comida, a gente quer comida diversão, arte e (até) balé. É chegado o tempo em que o grande público não se contenta mais com a conveniente e subserviente atitude da simples leitura. Os leitores da nova geração (e olha que tem gente com mais de 40 anos nessa nova geração) não querem mais ler sofregamente 1000 páginas para construir uma percepção. O novo público quer algo mais fácil.
Aí alguém pode dizer: “… Ok. Se querem isso então que assistam um filme, joguem um game, vão ao teatro ou qualquer outra coisa, mas livro é livro e ponto final!” Dica: não é por aí…
Essa postura de “o que eu faço é isso, e ponto final” não é mais a atitude e postura que se espera de Autores, muito menos de Editores. O que se espera, é que o universo autoral e editorial tenha a suficiente percepção de que o mundo está mudando e seus leitores também. É preciso entender que, se o universo de leitores continua pequeno independente do formato do livro (papel ou eletrônico), isso decorre que muitos simplesmente NÃO GOSTAM DE LER. Mas isso não significa que não gostem mais de romances, histórias ou outros temas. Apenas não gostam de consumir essa informação em formato TEXTO. Principalmente quando esse “texto” está em formato “livro”. Esse é o recado.
Pessoalmente, quando falamos sobre esse tema, sempre gosto de comentar a infeliz postura de muitos pedagogos quando citam que as pessoas não lêem mais livros porque quando jovens não viram seus pais lendo, assim não desenvolveram o hábito da leitura e, quando adultas, têm dificuldade em alterar seus hábitos. Penso que isso não seja verdade.
No meu caso, em raros momentos na minha infância vi meus pais com livros nas mãos. O desenvolvimento do meu gosto pela leitura não foi por que via alguém lendo, ou mesmo estimulado por professores. Não, apenas gostava de ler e cada vez mais, simples assim, sem ninguém me “motivando”. Indo além, meus filhos SEMPRE me viram com livros nas mãos. Isso não desenvolveu neles nada relacionado ao hábito da leitura. Notem que tenho 3 filhos e o menor com 20 anos. Acho difícil que daqui pra frente em suas vidas venham a desenvolver esse hábito. Eles simplesmente não têm “saco” pra ler.
De novo, simples assim.
O que tudo isso tem a ver com padrões? Onde queremos chegar? Vamos para algumas respostas:
a) Os “Padrões” existentes para eBooks pecam de um mal comum: trazer a literalidade da experiência de leitura em papel, para o formato digital. Essa grande meta é sua grande ruína.
b) Esse “pequeno pecado” advém da visão equivocada que desenvolvedores das tecnologias tiveram na criação de seus “padrões”: satisfazer a cadeia de envolvimentos na produção editorial. Esqueceram-se dos leitores acreditando que pensavam neles…
c) A grande massa de leitores não quer simplesmente “ler do mesmo jeito” no digital. Querem experiências diferenciadas, com suporte multimídia de som, imagens e tudo o mais que esses ambientes podem fornecer.
d) Aqueles que querem “texto puro” ou no máximo com pequenas ilustrações sentem-se satisfeitos com a leitura “papel”. Não vêem motivos para ler a mesma coisa só que numa nova plataforma.
e) Dessa forma os padrões degladiam-se por uma mínima quintessência do mercado: os que gostam de ler. Mas a grande massa não é que não goste, apenas quer mais informação cognitiva, apenas isso.
f) O futuro dos padrões não está relacionado a melhor ou pior migração da experiência de leitura para o digital, mas sim na sua capacidade de incrementar novos conteúdos interativos.
Essas podem ser algumas respostas.
É claro que podemos até discordar se esse “conteúdo editorial digital” final será ou não um livro. Mas que diferença isso faz? Quem é escritor ficará menos ou mais diminuído? Quem é escritor é escritor ou “escritor de livros”?
Com certeza a grande tendência para aumento do número de “leitores” não é a disseminação maior do mesmo conteúdo em plataformas digitais. Isso é no máximo democratização da informação. Para aumentar o número de leitores precisamos incrementar a IDEIA inicial. É preciso ter um novo olhar sobre esta IDEIA e catapultá-la para novos patamares de expressão. É preciso que apoiemos os padrões que estejam mais e mais aderentes a essa premissa e não a simples migração das formas convencionais de leitura.
A questão não pode limitar-se a conseguirmos melhor quebra de página, mais e melhores “capitulares”, essa ou aquela tipologia, mas sim todo o conjunto da obra e suas possibilidades somando mais e mais conceitos mutimídia com o tradicional texto.
Assim, esse é mais um dos motivos para esquecermos receitas diretas sobre a venda dos (tradicionais) eBooks: as grandes receitas estarão diretamente orientadas a novos e melhores conteúdos. Conteúdos estes muito além do tradicional texto. Logo, não sabemos que o que se venderá será o que chamamos hoje deeBooks.
Analisando sobre esse prisma, é fácil ver quem é forte candidato a ganhar essa briga. Será o PDF com sua impactante distribuição? Será o MOBI com o escudo mercadológico da Amazon? Deve ser então (a lenda do) ePub 3 com suas possibilidades de áudio e vídeo…
Não… O futuro já tem dono: o HTML5.
Para pensar e comentar.
Ari, permito-me discordar de ti, apenas e tão somente baseada no seu “mantra”. Ele não é válido para todos, portanto funciona como uma premissa falsa. Eu gosto de ler. Gosto de teatro, de cinema, mas não leio apenas porque o autor não fez daquilo uma peça ou algo diferente. Leio porque realmente gosto de ler. E é isso que quero. Só. E muitos dos que não aderem ao e-book, não o fazem não é porque ele não oferece algo além da leitura, mas sim justamente porque não creem que possam reproduzir a exuperiência conhecida da leitura com um e-book. E eu que quero apenas leitura sinto-me sim satisfeita com a leitura em papel, mas nem por isso deixo de ver grandes vantagens em possuir e utilizar um e-reader. Mas claro… isso que estou colocando não tem correlação com qualquer chance de incrementar vendas desse produto, nisso concordamos um pouco.