É interessante ver como o Departamento de Justiça dos Estados Unidos conduz um caso que vai determinar os rumos do mercado. Além da luta judicial, o órgão tem um papel essencial: desenvolver uma estratégia agressive de Relações Públicas. Parte desse trabalho ficou claro na última segunda-feira: o DoJ divulgou documentos em formato de slides que sugerem o conluio entre a empresa de Cupertino e as maiores editoras do mundo para aderir ao modelo de agência e minar o varejo, representado pela Amazon.
Os documentos são, em sua maioria, e-mails trocados entre os executivos – incluindo a famigerada mensagem de Steve Jobs: “a Amazon ferrou com tudo. Pagou o preço de atacado por alguns livros, mas começou a vendê-los por US$ 9,99. Os editores detestaram”, revelam os autos do processo. “Então dissemos aos editores: vamos para o modelo de agência, onde você define o preço e nós tiramos nossos 30%, e sim, o consumidor paga um pouco mais, mas é isso o que vocês querem de todo jeito”.
Também foram divulgadas conversas de Eddy Cue, vice-presidente senior de Software de Internet e Serviços, cargo ligado diretamente ao CEO, Tim Cook. Foram trocados e-mails com Brian Murray (HarperColllins), Carolyn Reidy (Simon&Schuster), Arnaud Nourry e David Young (Hachette), John Sargent (MacMillan), David Shanks (Penguin), dentre outros.
“Achamos que tais termos do modelo de agenciamento cumprem com os objetivos que nós dois temos”, diz um trecho. “Todos os revendedores de novos títulos precisam estar no modelo de agência”, informa outra parte anexada aos documentos do processo. Tudo foi montado para dar a entender que aí tem algo. Os documentos publicados, por si, não provam muita coisa, apenas que a Apple manteve negociações com as editoras.
Mas aqui entra a intenção do DoJ em divulgar os documentos. Primeiro o formato: slides. Todos foram montados para enfatizar alguns pontos dos trechos originais, que ficam ilegíveis da maneira que foi publicado. De acordo com a Reuters, a manobra do DoJ serve para transmitir mais confiança à população na condução de casos antitruste, após um fiasco em 2004, quando o órgão foi incapaz de impedir que a Oracle adquirisse a PeopleSoft. Dessa vez, sob todos os holofotes, o Governo quer conduzir o caso com uma estratégia agressiva não apenas nos tribunais, mas também na mídia.
Com informações do PaidContent