Conforme noticiado na Folha de São Paulo e Revista Época, Saraiva e Cultura estão inadimplentes com editoras e distribuidoras há vários meses, relutando inclusive em renegociar suas dívidas. A dívida total da Saraiva (incluindo empréstimos), levaria 12 anos para ser integralmente paga, mantidas as condições atuais da empresa.
Agora que o assunto se tornou público, fico mais à vontade para comentar isto publicamente.
Para a Simplíssimo, a notícia acima não é nenhuma novidade — em 2016 e 2017, foram inúmeros os episódios de atraso, alguns com duração de vários meses. Após insistentes cobranças, ameaças, etc., as livrarias eventualmente quitaram seus pagamentos.
E como isto impactou (e impacta) na vida dos autores e clientes da Simplíssimo? Muito pouco, na verdade. Saraiva e Livraria Cultura, combinadas, não respondem por não mais que 10% do total das vendas de ebooks aqui na Simplíssimo. As vendas eventualmente registradas nestas lojas, são pagas regular e normalmente, dado o baixo volume. Diante da situação persistente, é possível que o fornecimento de ebooks para estas lojas seja interrompido em alguns momentos. Caso isso aconteça, os leitores continuarão atendidos normalmente pelas lojas Amazon, Apple, Google e Kobo, onde as obras seguem disponíveis normalmente (e sem qualquer inadimplência por parte destas últimas lojas, claro).
Embora a Amazon esteja atuando no mercado de livro impressos no Brasil, há alguns anos, não é “culpa” dela esta situação. O mercado como um todo enfrenta mudanças drásticas, especialmente a migração em massa dos consumidores para canais eletrônicos de vendas, em detrimento das lojas físicas — fenômeno visto de perto nos EUA e Europa desde o início da década de 2010. Saraiva e Cultura se prepararam mal, ou talvez devagar demais, para uma mudança rápida de comportamento dos clientes. Combine isso com a crise econômica do Brasil, iniciada em 2014/2015, que derrubou as vendas de livros, e você começa a vislumbrar a dimensão do problema. A Livraria Saraiva já fechou várias lojas em 2018. A Livraria Cultura, dispensou 160 funcionários em julho de 2018. É possível que as duas redes saiam da crise. Mas será muito, muito difícil. E sairão da crise, bem menores do que entraram. Qual foi a última vez que você entrou em uma livraria? Comparando com 10 anos atrás, você continua frequentando as livrarias com uma frequência igual ou maior do que antes?
Por outro lado, há algumas luzes no fim do túnel. Várias livrarias pequenas, independentes, estão surgindo nas capitais. Editoras novas estão experimentando novos formatos de venda e abordagem dos leitores. As livrarias passam, mas, pelo menos por enquanto, os livros ficam.