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O livro didático digital e o Grande Irmão

05/12/2012
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Enquanto os livros didáticos digitais ainda engatinham aqui no Brasil, nos Estados Unidos já se discute a questão da privacidade na utilização dos didáticos digitais – especificamente, o uso que poderá ser feito da análise de comportamento e padrão de leitura dos estudantes, a partir das informações obtidas remotamente com o uso dos ebooks didáticos.

Em artigo na Folha de SP do dia 03/12, o colunista e pesquisador visitante da Universidade Stanford, Evgeny Morozov, levanta a seguinte questão:

Nem todo mundo tem condição de ostentar independência e recusar a leitura de um livro didático insultuoso ou mesmo entediante; às vezes, a resistência é passiva e menos heroica. Livros didáticos que reportem os hábitos de leitura dos usuários não os forçarão magicamente a ler o conteúdo –a não ser que o movimento dos olhos do aluno seja monitorado pelo aparelho, o leitor continuará tendo o direito de virar páginas sem lê-las.

O fato de que os dados de uso serão computados para calcular um “índice de envolvimento” também pode ter efeitos adversos; alguns alunos talvez já conheçam a matéria e por isso não tenham a necessidade de ler todo o capítulo. Seu “índice de envolvimento” será previsivelmente baixo, mas não serviria como indicador de seu conhecimento real da matéria. Além disso, assim que “índices de envolvimento” vierem a ser incorporados aos esquemas de avaliação de aprendizado das escolas e das autoridades da educação, haveria forte incentivo para manipular o sistema –talvez convencendo os estudantes a folhear o material o maior número possível de vezes.

Isso resultaria em índice de envolvimento teoricamente mais elevado, mas nada nos diria, uma vez mais, sobre a qualidade da educação. Qualquer que seja o problema de nossas escolas hoje em dia, certamente não envolve uma falta de metas e objetivos quantificados.

(…)

Tudo isso pode se provar útil em curto prazo, mas parece que os estudantes –os supostos beneficiários da “era digital”– estão perdendo a batalha pelo poder contra os professores e dirigentes escolares. Os dias em que os alunos estavam autorizados a pesquisar o que quisessem em seus iPads –por exemplo, o significado de uma palavra ou dados sobre uma figura histórica– podem estar chegando ao fim.

Veja o texto original, completo, no site da Folha.

 

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