artigo por Caio Ranieri.
Você já deve ter ouvido alguém dizer que ler livros por meios digitais, como no computador, num tablet ou mesmo num celular simplesmente não é tão bom quanto num livro “de verdade” (sigh… como se um livro digital fosse “de mentira”), feito de papel. Daí quando você pede uma justificativa, a resposta padrão é que você pode pegar o livro impresso você pode pegar, sentir (coisas que também dá pra fazer com um computador, por sinal). É uma resposta bastante vaga, não?
O que a sensação de pegar num livro tem a ver com a leitura? De que forma ela pode fazer o conteúdo do livro melhor?
Se você acredita que a experiência de ler um livro impresso é superior a de ler um livro digital, bem, você está se preocupando com coisas que não deveria; ao pensar assim, você está se importando mais com o meio pelo qual o conteúdo é transmitido do que com o conteúdo em si.
E o conteúdo deveria ser a única coisa que importa. Se o conteúdo é transmitido com eficiência, então o meio pode ser ignorado. Tanto faz se você está lendo em um objeto feito de papel ou em um aparelho eletrônico ou se o livro lhe está sendo transmitido por telepatia – o que, infelizmente, não é possível.
Imagine um escritor que publica seus livros através de uma editora, que imprime milhares de cópias antes de saber se o livro vai mesmo vender isso tudo (às vezes se vender cem é sorte), e outro que publica todos os seu livros apenas no formato digital – e o faz com o objetivo de salvar algumas árvores. É um absurdo dizer que o primeiro é melhor do que o segundo só porque publica em mídia impressa, e um absurdo maior ainda dizer que o segundo deveria deixar de lado a ideia de salvar algumas árvores e fazer livros “de verdade” se quiser ser realmente um bom escritor.
Os defensores do livro de papel, é claro, ignoram que estão dizendo esses absurdos.
É óbvio que isso tudo também vale para livros em áudio. Não seria uma atitude estúpida dizer que um cego não pode aproveitar tanto a leitura quanto uma pessoa que enxerga perfeitamente? Pra mim isso não parece muito diferente de dizer que o cego, apenas por ser cego, não pode aproveitar a vida tão bem quanto uma pessoa com visão.
Então fica minha dica para vocês. Preocupem-se sempre com o conteúdo, e nunca com o meio pelo qual ele é transmitido.
Caio Ranieri é microcontista. Poeta. Contista. Desenhista. Futuro romancista. Metido a artista.