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Massimo di Felice: “As editoras devem sair da sua situação de conforto”

11/06/2013
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O Revolução eBook teve a satisfação de entrevistar Massimo di Felice, palestrante do 4º Congresso do Livro Digital, que acontece nesta quinta e sexta-feira em São Paulo. Sociólogo pela Universidade La Sapienza de Roma e doutor em Ciência da Comunicação, Massimo é professor da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Confira:

O livro digital já faz parte de uma cultura digital integrada por pessoas conectadas ou ainda precisa encontrar uma maneira de se adequar às novas práticas de leitura, de aquisição e de compartilhamento de informação e conhecimento?

Muda ainda de lugar a lugar, mas é claramente uma tendência irreversível… os hábitos mudam, e estão mudando rapidamente. Muitas coisas estão a favor do livro e da leitura digital: em primeiro lugar a facilidade de sua aquisição, num contexto no qual pela grande distribuição é cada vez mais difícil encontrar o livro que se quer, como também a facilidade de aquisição de obra em outros idiomas, práticas hoje comuns num contexto globalizado. E, também, não por ultimo, o menor custo e a praticidade de ler e poder levar consigo um grande número de livros num único, leve e prático, suporte de leitura. Tudo isso nos diz com clareza que o processo é irreversível e rápido.

Um dos maiores entraves para a consolidação do livro digital é encontrar a solução para o compartilhamento e a pirataria. Essa seria a resposta de ouro para as editoras. O uso de DRMs é comprovadamente ineficaz. Como utilizar a cultura dos “shares” como aliada estratégica dos negócios, e não como inimiga?

É preciso pensar mais seriamente e profundamente sobre o que é chamado de “pirataria”, o formato digital altera todas as fases do processo tipográfico: da produção, à distribuição e o consumo, nada ficou como era. Este é um ponto fundamental, as editoras deveriam refletir mais seriamente sobre o que está acontecendo desde um ponto de vista social e cultural e não apenas desde um ponto de vista econômico, uma vez que o tipo de produto que elas produzem é um produto particular, que tem a ver com a cultura, seu acesso e sua divulgação. As editoras devem sair da sua situação de conforto e adquirir uma postura mais empreendedora. O que a digitalização dos livros (de seus textos e do seu processo de produção, distribuição e consumo) vai a provocar é algo próximo ao que aconteceu com a invenção de Gutenberg no século XV. Nada vai ficar igual, trata-se de algo qualitativo e não apenas de uma simples adaptação. As universidades, as escolas estão sendo alteradas por este processo, consequentemente, as editoras devem passar a repensar a si mesmas não apenas como produtoras de livros, mas como produtoras de conteúdos, isto é, de formatos informativos digitais. Quero sublinhar este aspecto: volto a remarcar que se trata de uma questão cultural e social de um lado e empreendedora do outro. As duas questões estão ligadas e não em contraposição, como geralmente se acha. Um dos lados mais interessantes da história da cultura empreendedora é a sua propensão a assumir riscos, como faziam os primeiros mercadores e como devem fazer as editoras hoje… deixar de pensar apenas em seu próprio umbigo, assumir riscos e mostrar grandeza, é esta a natureza da questão digital, como a de todas as inovações, perante as quais, historicamente, somos chamados a assumir uma posição: a de recusa ou a da aceitação do desafio que esta nos impõe

Uma das principais preocupações das editoras, plataformas e livrarias virtuais é encontrar um modelo de negócios não apenas viável, mas também lucrativo para o livro digital. As vendas estão crescendo, mas em um ritmo não muito acelerado – no Brasil, a oferta de títulos digitais é de apenas 25 mil ebooks. O que falta é o modelo de negócios certo ou uma mudança de comportamento, mais alinhada com a realidade digital?

Acho que é só uma questão de tempo. A Amazon acabou de chegar no pais, em todos os países onde chegou demorou dois ou três anos para transformar por inteiro o mercado do livro. No Brasil não será diferente.

Você defende que a leitura digital é mais sustentável em relação aos impressos – não apenas no sentido da economia de papel, mas na redução instantânea dos custos de distribuição e transporte. Mas a produção de tablets e eReaders em larga escala também não seria insustentável por utilizar fornecedores que exploram mão-de-obra barata, por exemplo? Por outro lado, a distribuição de conteúdo digital está centrada na capacidade dos datacenters, grandes consumidores de energia. Como assentar esse ecossistema digital sobre paradigmas realmente sustentáveis, que não gerem passivos ambientais?

Discordo completamente. A cultura digital, a da conectividade, é responsável pela criação e pela difusão da cultura da sustentabilidade. No meu último livro, Redes Digitais e Sustentabilidades, (S. Paulo 2012, Ed. Annablume) abordo esta temática com precisão. A cultura ecológica contemporânea, que nos sensibiliza sobre consumo energético, impacto e pegadas é resultado do advento de uma cultura da conexão que nos brinda com a difusão do conceito de rede. Este conceito, responsável pela difusão de novas praticas, faz com quem nós hoje passemos de um modelo ecológico separatista e dialético (homen-natureza) para um modelo ecológico conectivo e reticular. A exploração de mão de obra barata como o grande consumo de energia não são os elementos constituidores e estruturais do processo mas apenas aspectos negativos que mostram o seu mal funcionamento. A energia pode ser renovável, e as relações de trabalhos melhoradas. A questão é: quem contribui mais para que isso mude, os jornais, a mídia tradicional, ou as redes digitais e os social networks?

Se temos uma maior consciência mundial ecológica hoje, devemos isso à circulação de informações nas redes digitais e a cultura da conectividade que aprendemos a desenvolver nelas. A sustentabilidade é um produto da cultura digital.

 

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