A mais badalada empresa de vídeo sob demanda, a Netflix, também sofre com um tipo de “pirataria” – quando a senha para acessar filmes e programas é compartilhada entre várias pessoas de uma mesma família. Ao invés de simplesmente implementar algum tipo de restrição ou punição aos usuários, o presidente da companhia reconheceu o óbvio: o compartilhamento é um fato da vida online, veio para ficar. Este raro pragmatismo apontou para uma solução darwiniana – adaptar-se. A história toda mostra três lições que o mercado de eBooks pode aprender.
A Netflix é uma empresa de sucesso incontestável; para isso, basta apenas conferir os seus últimos resultados trimestrais. O preço de cada ação teve uma alta de 19%, cotado a US$ 207,39; no período, foram 2 milhões de novos clientes no mercado onde atua, segundo o relatório da própria companhia.
Os usuários do serviço adotam uma prática que pode parecer contrária aos interesses da empresa: como é pago um valor fixo e a plataforma permite acessos simultâneos, os clientes compartilham suas senhas com outras pessoas que não são clientes, portanto não pagam.
Esse não é um fator para ser desprezado: segundo o site de negócios Bloomberg, cerca de 10 milhões de pessoas assistem filmes do catálogo da Netflix sem pagar um centavo. Em termos absolutos, a companhia deixa de arrecadar US$ 80 milhões po mês. Isso pode representar um perigo para os negócios? Depende da maneira como se encara o problema.
Reed Hastings, CEO da companhia, não ficou tão preocupado. “Nós realmente não acreditamos que as pessoas pensem: ‘eu vou compartilhar minha senha com todos os meus conhecidos'”, disse, durante a reunião de apresentação dos resultados. Ele acredita que “o compartilhamento de senhas não é algo apropriado”, e que essa prática normalmente se dá dentro da própria família.
Em vez de simplesmente proibir e cortar os acessos simultâneos – algo que certamente será feito – a Netflix irá propor um “plano família” para os clientes: uma única conta poderá ter vários perfis separados. A solução vale para os dois lados: a empresa ganha mais – visto que o valor do plano custaria US$ 12 – e os clientes terão suas preferências segmentadas por perfis, impedindo que apareçam recomendações de filmes adultos para um adolescente, por exemplo.
O que o mercado de eBooks pode aprender com isso?
Primeiro: o controle absoluto é inviável, estressante e improdutivo. Não importa qual o DRM ou trava anti-pirataria utilizado; baixar um eBook pirata é uma tarefa de cinco minutos. É necessário levar em consideração as necessidades informacionais das pessoas, e o que as leva a se comportar dessa maneira. A pirataria pode ser menos um problema de segurança do que de falta de soluções adequadas.
Segundo: o compartilhamento não é algo necessariamente ruim para os negócios. Quanto mais pessoas são impactadas pela informação, mais clientes em potencial a empresa – seja editora ou eBookstore – pode ter. É uma questão de saber como utilizar essa vantagem de forma estratégica.
Terceiro: as pessoas gostam do seu produto e estão dispostas a pagar. É alto o índice de analfabetismo absoluto e funcional, mas o mercado editorial é estimado em R$ 4,8 bilhões. O crescimento da população universitária impulsionou a venda de títulos da categoria CTP (científicos, técnicos e profissionais), que teve um faturamento de R$ 910 milhões em 2011 – embora as demais categorias tenham registrado queda. Alguma editora já pensou em uma ação transmídia, onde um livro adquirido dá direito ao eBook pela metade do preço ou mesmo de graça, via QR Code?
Com informações do Estadão e GigaOm
Com colaboração de Eduardo Melo
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