Publicamos aqui um artigo do blog da Stella Dauer. A Stella é designer e trabalha com design, publicidade e informação além de fazer diagramação de livros em formato impresso e e-book.
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Pode confessar: eu sei que você tem um pouco de preconceito daquele seu primo que é webdesigner. Você, como designer gráfico ou designer de livros, se acha muito mais designer por ter que pensar em coisas mais “artísticas”, em papéis, acabamentos, tintas, tons, etc. É muito mais tradicional, muito mais puro, muito mais clássico. Pouco interessa quem é o autor do texto que irá caber nas páginas perfeitas que você irá moldar. O que importa é a arte, o cheiro, o ambiente, tudo, menos o conteúdo.
Só que agora você está olhando arregalado para o trem que vem vindo em sua direção, o livro eletrônico. Ele ainda não assusta tanto assim, mas as pessoas têm falado dele mais do que você gostaria. E, de repente, a cadeira em que você está sentado parece um pouco desconfortável. O desconhecido assusta todo mundo, e você não sabe bem o que é um livro eletrônico e nem como ele é produzido. Como assim um mesmo arquivo de livro tem que caber em uma tela colorida de toque com 3 polegadas e em uma preta e branca, fosca, de 6 polegadas? Não existe rodapé? Podemos aumentar e diminuir o tamanho da fonte? Não tenho que me preocupar mais com viúvas? Que mundo é esse?
Se você trabalha com o inDesign, deve saber que um dos recursos dele é o “Export to Digital Editions”. E sabe o que ele faz? Ele transforma o texto que você acabou de diagramar em uma página de internet, um arquivo em HTML. Códigos e tags se misturam, e o arquivo ficou uma porcaria, nada parecido com o que você acabou de fazer. Sim, o arquivo gerado não estava adequado ao seu navegador ou ao aplicativo especial da Adobe para ler eBooks. Como é?
Imprimir um livro é, vendo desse aspecto, relativamente simples. Ele é retangular, costuma caber sem problemas em um variado tipo de mãos. Mulheres, crianças, adultos, engenheiras, donos de casa, motoristas, etc. E quando o livro é muito grande ou muito pesado, basta mantê-lo sobre uma mesa e não levar na bolsa. Já um arquivo de livro eletrônico deve ser pensado e feito levando em consideração uma série de plataformas. Desde o navegador, passando por aplicativos para computadores como aparelhos diversos como iPod, Kindles, Cool-ERs, iPads e uma série de outros que você nem conhece ou que ainda nem existem.
O desafio do ePub, formato de arquivo que está se firmando como o padrão mundial em livros eletrônicos, é produzir um arquivo que consiga ser aberto e manipulado de forma fácil e funcional em uma série de lugares. O acesso a seus recursos deverá ser rápido e simples, significando que o designer deverá realizar uma inversão na ordem do seu pensamento e da sua organização de prioridades porque, dessa vez, o CONTEÚDO É REI.
Essa é uma lição que bons webdesigners sabem há muito mais tempo do que eu e você. Para termos um bom arquivo em ePub pouco importará a cor do fundo, os grafismos no final da página, as aberturas de capítulos ou os símbolos usados embaixo dos números da página. Se você não prestar atenção e não indexar corretamente todos os títulos e subtítulos, o livro eletrônico já não terá uma de suas melhores funções funcionando, o sumário.
Ou seja, é como mandar o designer não pensar no design do livro. É maluco, mas só será assim se você não enxergar que funcionalidade, usabilidade e praticidade são formas de design. Eu caminho no meio de dois mundos, já que sou designer de interfaces por formação e deisnger de livros por paixão, e acho que posso me adaptar a isso muito mais facilmente.
Em um livro, o importante sempre foi sua beleza. Imagens, fonte, diagramação, arte. Um designer realizado é aquele que olha pro seu livro feito e vê beleza nele, em suas cores, impressão, imagens, formato, olhar. O que deve ser incorporado ao designer gráfico agora é a priorização da funcionalidade. Não importa se o livro é só texto preto no fundo branco, sem a menor possibilidade de edição de fonte ou versalete. Sua beleza e o bom serviço do designer residirão no sucesso de abertura em todos os aparelhos, no tamanho reduzido do arquivo e da ausência de problemas.
Quando pensamos em um bom site, o sucesso é exatamente pelos mesmos termos. Se os usuários não reclamaram, se conseguiram alcançar seus objetivos no site, é porque ele está bom. O resto, a arte e outras preocupações, vêm depois, bem depois. E se quando o arquivo for aberto os acentos estiverem trocados, o sumário não funcionar e as fontes não aumentarem, isso significará que você falhou, mesmo com belas imagens, uma capa linda e enfeitezinhos fofos no começo do capítulo.
É cruel, mas ninguém falou que seria fácil. E pra complicar mais ainda a vida você já sabe: vai ter que aprender a mexer em HTML e CSS. Quiçá em Javascript. Pé-de-pato-mangalô-três-vezes, mas é verdade. O deisnger bom, aquele que daqui a algum tempo terá mais oportunidades, será aquele que sabe caminhar entre os dois mundos, e que poderá facilitar a vida do produtor editorial, gastar menos dinheiro da editora e entregar DOIS trabalhos bem feitos. E lembre-se de sempre levar esses dois produtos juntos. Apesar de serem coisas totalmente diferentes, eles devem ser produzidos e planejados em conjunto, e não um após o outro.
Stella, parabéns pelo artigo. Sou editor e designer editorial, tenho uma editora “pequena” que “sobrevive” no mercado há 6 anos e com, por incrivel que parceça, chegando aos seus 100 titulos.
Há algum tempo venho me privando de aprender HTML, hoje, sei que preciso aprender esta linguagem.
Qual dica que você me dá para começar os estudos. Sendo que meu foco é aprender as linguagens para conversão dos livros.