Recentemente li uma matéria sobre como a indústria editorial de livros impressos dos Estados Unidos vem tentando enfrentar o aumento das vendas de eBooks por lá. Basicamente, assim como em todo mercado em que surge um novo produto concorrente, você pode baratear o seu ou fornecer uma nova versão do mesmo. Como lá os livros já possuem preços e versões ajustados à demanda e com pouca margem para grandes descontos, a solução tem sido fazer um produto melhor.
Quem já viu um livro de capa dura norte americano sabe que, de forma geral, já é muito bem acabado e impresso, com vários recursos gráficos como hot stamping, verniz, tintas metálicas, papéis off-white super leves e cortes especiais. Artifícios que encarecem a produção mas tornam o livro mais bonito, chamativo e agradável de ler. Esses recursos também já estão sendo utilizados nas versões mais baratas dos livros, paperbacks, sem reajuste de preços, seguindo a ideia de nova versão do produto. Se vai dar certo ou não, ainda não sabemos, mas essa é a ideia quando há concorrência.
Com esse cenário podemos fazer um paralelo de forma inversa para o mercado editorial brasileiro. Por aqui são os eBooks que ainda não alcançaram as vendas esperadas e precisam ter preços mais baixos ou apresentar novas versões que seduzam o leitor, que já pagou caro pelo seu eReader e quer um eBook agradável de ler. Pra começar, PDF não pode ser considerado eBook. Quem compra um eBook e recebe um PDF, nunca mais vai querer saber de livros digitais. E, mesmo que receba um ePub, caso ele seja mal ajustado – com espaços e margens irregulares, problemas de fontes, falha no carregamento de imagens, fotos serrilhadas, planilhas truncadas e sem índice – também não vai mais querer saber de pagar quase o mesmo preço da versão impressa sem ter todo o conforto e escalonabilidade que ouviu dizer que encontraria na leitura do tal livro digital.
Nesse caso, devemos pensar como clientes e não como produtores gráficos, designers ou diagramadores. Imagino que todos que trabalham com livros, impressos ou digitais, leem livros. Se você que está produzindo não gosta do seu produto ou acredita que ele poderia ser melhor, e decide lançá-lo mesmo assim, por que acha que seu cliente pensará diferente? É claro que ele também não vai gostar. E com toda a certeza isso vai se refletir nas baixas vendas dessa versão digital.
Tenho visto grandes editoras lançando eBooks de péssima qualidade, muito ruins tecnicamente, com alguns, ou todos, os problemas que listei anteriormente. A desculpa mais comum é a de que não querem seguir o projeto gráfico do livro impresso no eBook. Se a editora não tem tempo ou verba para ajustar o projeto gráfico pensando na versão digital, o que seria o ideal, então deve, sim, continuar com a identidade do produto impresso, no eBook.
Enquanto todos nós, que trabalhamos com eBooks, não apresentarmos produtos com melhor qualidade, maior divulgação ou preços mais atraentes, teremos que continuar colocando a culpa das baixas vendas digitais no pequeno número de eReaders/tablets do mercado brasileiro e coisas do tipo.
“PDF não pode ser considerado e-book”. Eu vibro a cada artigo que tem coragem de esclarecer isso. É assustador como tem até mesmo leitores que pedem ebooks em PDF. A falta de atualização do mercado reflete na falta de informação dos leitores. Muitos ainda nem sabem o que é ePub.
Obrigado pelo artigo. Ainda temos muito o que melhorar na nossa produção de ebooks, mas esperamos estar no caminho certo.
É, infelizmente o PDF ainda é muito popular por aqui. A pergunta lançada no Twitter e no Facebook hoje foi justamente sobre isso. Recebemos o relato de uma editora que diz que seus leitores não diferenciam PDF de ePub, e nem pedem pelo ePub. Infelizmente, ainda é assim.