No começo desse ano eu ouvi dizer que 2011 seria o ano dos livros digitais. Os revolucionários eBooks trariam a mais pura “inovação” até a tela dos nossos computadores de uma maneira nunca antes vista. Uma onda de notícias empolgadas com o tema começou a pipocar em vários sites e blogs, todos alegavam que os livros digitais seriam a sensação do comércio.
Os entusiastas dessa nova tecnologia diziam que você não mais precisaria suportar o peso de carregar os livros para onde quer que você fosse, agora tudo estaria em um única tela, pequena e leve. O preço também seria um grande atrativo, cerca de 80% menor que o livro de papel. Até os ecologistas ficaram felizes porque a farra do papel iria acabar…
Agora convido o leitor a parar para pensar, será mesmo que esses pequenos arquivos digitais revolucionaram tanto assim a indústria do livro? Eu mesmo já pude comprovar por experiência própria e por resenha de outras pessoas que os benefícios que o livros digitais oferecem estão bem aquém do que ele é capaz de oferecer. Listei aqui algumas das principais:
Preço – O preço, que estranhamente deveria ser no mínimo 50% menor que o de um livro de papel, afinal, praticamente não há custo de matéria prima ou de distribuição, quando chega a custar 15% menos, o consumidor pode comemorar, é um verdadeiro achado.
Entrega – Se um livro digital tem a vantagem de ser entregue na hora da compra, o de papel não fica muito atrás, em média, para sites brasileiros, o prazo de entrega costuma não exceder 5 dias, e olha que ultimamente os sites estão me surpreendendo, entregando em no máximo 2 dias úteis. (Sim eu sei, há algumas exceções).
Armazenamento – Se o eBook tem o benefício de armazenar vários livros em um único lugar, posso dizer que atualmente estou guardando 150 livros em uma estante que mede pouco mais de 1 metro de comprimento e que fica presa na parede do meu quarto, um espaço que eu não utilizaria para mais nada. Sem citar ainda que estou muito feliz com o efeito de decoração que eles me proporcionam.
Além de tudo eu não corro o risco de ser assaltado ao levar meu livro para ler na rua, no parque ou no ônibus, diferente do que aconteceria se eu levasse um iPad ou um Kindle.
Esses entusiastas se contentam em dizer que com um eBook você pode marcar partes do texto e que depois você pode até publicá-las no seu Twitter. Que piada!
Então o que falta para os livros digitais realmente encantarem?
Estou lendo o livro do Steve Jobs e posso afirmar para vocês o quão bom seria se eu pudesse ver os comerciais, anúncios e fotos citadas no livro sem ter que precisar parar a leitura parar ir até o Youtube. Por que a editora não adquire esses direitos autorais de exibição (não deve ser difícil, afinal os vídeos e fotos já estão todos na internet) e publicam no livro digital?
Por que o ebook não contém depoimentos de personagens descritos no livro? Por que ele não exibe gráficos do qual o próprio autor poderia explicar o seu ponto de vista e bastidores? Por que não há mais vídeos de época para dar mais realidade ao que está escrito? Isso sim justificaria o seu preço atual!
Tudo isso é possível, então por que eles não fazem?
Infelizmente eu não tenho as respostas para essas perguntas, sinto-me apenas na obrigação de reclamar da falta de inovação desses produtos que são chamados de revolucionários por uma grande quantidade de pessoas mas que de revolucionários não tem NADA!
Sei também que inevitavelmente a tecnologia vencerá e que mais cedo ou mais tarde a troca pelo digital acontecerá, porém, o que eu insisto em afirmar é que pro atual livro digital ficar RUIM é preciso melhorar MUITO.
E você, qual a sua opinião?
Diego Andreasi é administrador formado na Universidade do Oeste Paulista, com MBA em Marketing e Gestão de Vendas pela Faculdade Antônio Eufrásio de Toledo. Aprendiz em estudos sobre Economia Comportamental e sobre assuntos que envolvem o comportamento do consumidor. Post original aqui.
Boa reflexão, e acredito que o problema não esteja nos livros e sim na visão ou abordagem que ainda está impregnada no processo editorial. Uma comparação seria a do surgimento da televisão. No início os programas eram os de rádio, mas com câmeras filmando, não se tinha a compreensão do que se poderia fazer ao transmitir som e imagem. A abordagem era apenas relativa ao som, a imagem no início era um acessório.
Com os livros digitais percebo que ainda estamos com a visão do livro em papel. Essa falta de inovação se deve ao fato de engatinharmos na produção nessa plataforma. Com a compreensão, por parte de autores, editoras e demais profissionais envolvidos na área. Será mais fácil explorar as possibilidades. Mas isso também envolve um trabalho de evangelização de consumidores, mostrar o que se pode fazer (seja criando livros conceito ou palestras).
Um abraço e novamente, excelente reflexão.
Ótimo texto, concordo que esse é o ponto nevrálgico da coisa. Mas acho quase impossível que as grandes editoras nunca tinham pensado nisso. Claro que sim, mas acho que no momento não interessa a elas o livro digital. Sorte de quem sair na frente.
Concordo com as observações, mas sinto dizer que somente agora no final do ano que a maioria das editoras estão pensando nas milhares de oportunidades que um único livro pode ter. Nos diversos projetos que podem gerar… Então, acho que o gigante adormecido está abrindo um dos olhos agora…só agora….
Exatamente! E espero que 2012 desdiga tudo o que está escrito!
Concordo com você.
Creio que, no caso do livro do Steve Jobs, um dos motivos para não terem agregado todos esses adicionais ao texto foi a pressa na publicação. Esse é um livro de momento. Não poderiam se dar ao luxo de lançar mais para a frente.
E quanto ao custo de produção, apenas os custos variáveis (papel, tinta, distribuição e etc) são praticamente nulos, porém, os custos fixos(revisão, diagramação, tradução, capa e etc) são iguais ou até maiores que o custo do livro físico. Mas concordo que, no final das contas, o livro digital deva ser mais barato. No entanto, também não podemos ficar ancorados com a ideia de preços que a Amazon pratica.
Com certeza, os preços da Amazon são canibalizadores de mercado, e podem até estragar tudo o que já temos.
Pessoal muito obrigado pelos comentários e pela publicação do texto.
Marcelo, vi que você está por dentro do assunto, o livro do Steve começou a ser escrito a muito tempo atrás (se não me engano 2 anos), eu demorei no máximo poucas horas para assistir e pesquisar todo o material extra livro, como o comercial do primeiro MAC, apresentação e imagens dos IPOD’s, IPAD, etc… Não acredito que apenas ANEXAR um conteúdo que JÁ ESTÁ disponível na internet demandaria tanto tempo assim para atrasar o livro, se fosse algo que precisaria ser produzido aí sim faria sentido.
Já a parte dos custos, pelo que eu já li, e inclusive esse é um ponto de vista fortemente abordado pelo Chris Anderson no seu livro Free – O futuro dos preços, não faz sentido algum o preço do livro digital chegar PERTO do preço do livro físico. Para provar o quão absurdo isso é, o próprio autor faz questão de disponibilizar o seu livro (que aqui no Brasil custa em torno de $40,00) de graça na internet.
Alguns livros digitais no e-commerce brasileiro são MAIS CAROS do que os livros de papel, é um absurdo, enfiam o abacaxi na nossa garganta e damos risadas.
A única lógica para esse fato é que não há lógica alguma!
Abraços