Falar dos “papéis” de cada um nessa seara pode soar um trocadilho bem infame, mas quiçá o título sirva como isca e fomente a discussão.
Muito temos discutido sobre os aspectos envolvidos na produção de eBooks. Ás vezes reprisamos argumentos, mas constantemente surgem mais elementos relevantes e complicadores desse caldo no qual decidimos navegar. Esta semana, o KindleCastBR conversou com o Eduardo Melo sobre os meandros da editoração de eBooks – softwares, disponibilidade de profissionais, etapas do processo – e acabamos falando de várias outras vertentes do processo de publicação e do cenário para este segmento no Brasil.
O resumo da ópera? eBook de qualidade não é barato de se fazer; tem muita coisa no mercado que desestimula os novos consumidores, pela falta de cuidado; as editoras no Brasil ainda não “compraram” a ideia do eBook; sim, o preço dos eReaders ainda é um mega-limitante na expansão das vendas de livros digitais. Nada disso é novidade para quem circula por aqui, eu sei, mas penso que é sempre útil ordenar os dados do contexto para ver se podemos olhar para eles e concluir por novos caminhos.
Uma das discussões que rendeu no programa poderia ser ordenada sob o título proposto para este post: os papéis envolvidos no percurso entre a ideia (antes mesmo de existir a obra) e a venda de um eBook.
Em uma ponta temos o autor, que pode ou não saber alguma coisa de editoração e tem alternativas relativamente simples quando o assunto é “parir” o eBook: desde aprender a gerar um livro digital com boa aparência e funcionalidade até contratar o serviço que lhe entregará o arquivo no(s) formato(s) desejado(s). Aqui já podemos ter desdobramentos (o formato se presta a todos os modelos de leitores possíveis? o preço do serviço, se contratado, é adequado? O ISBN é fundamental?), mas optemos por uma análise simplista. Produzir um eBook com boa qualidade é viável e nem tão caro assim, para um autor hoje no Brasil. Existe uma lista grande de prestadores de serviço nesse ramo. Em geral oferecem mais do que efetivamente podem entregar, pois gerar o eBook está muito distante de ser sinônimo de alcançar leitores, mas isso já seria outra discussão.
Seguindo o caminho, vem uma etapa que hoje ainda não está funcionando de modo fluído no Brasil: a disponibilização do eBook para venda (não estamos ainda falando de promoção, visibilidade, resenhas, etc). A menos que o autor siga o conselho dado pelo Eduardo (que vêm de experiências práticas) e coloque seu livro à venda na Amazon, a teia pode dificultar os movimentos do eBook. As livrarias nacionais como Saraiva, Cultura e similares foram relativamente rápidas em incorporar o livro eletrônico ao seu portfólio, mas talvez não estejam sendo muito diferentes na relação com as editoras e autores do que vêm sendo no mundo do impresso. Trocando em miúdos, é quase impossível para o autor ou para a editora (as menores, ao menos) conseguir acompanhar as vendas realizadas.
A promoção dos títulos então, é um capítulo (problema) à parte. O volume de conteúdo gerado têm se multiplicado enormemente. Muitos são os autores que, fascinados pela “facilidade” de produção em eBook, apressam-se em publicar o seu, depois ele é jogado em alguma plataforma de vendas e, em geral, nunca mais sai dali. Como quebrar essa realidade? A discussão ainda não nos levou a uma ideia mágica que deslinde os meios para fazer a venda de eBooks no Brasil chegar aos patamares (mesmo que respeitando as proporções de população e hábitos de leitura) dos EUA, mas quem sabe tenha nos deixado mais atentos a não tomar caminhos equivocados que nos afastem do objetivo.