O Revolução eBook entrevistou Patricia Konder Lins e Silva, que participa do painel “O livro digital: uma aposta no didático do futuro?”, no 4º Congresso do Livro Digital, que acontece nesta quinta e sexta-feira em São Paulo. Patrícia é orientadora pedagógica, especializada em epistemologia genética, e Diretora da Escola Parque, no Rio de Janeiro. Confira a entrevista:
O formato do livro digital, em muitos sentidos, ainda é bastante assemelhado ao físico, principalmente no que diz respeito à leitura linear e exaustiva. O que muda é apenas o suporte. Você acredita que o livro digital ainda deverá evoluir para se adequar ao comportamento e às praticas de leitura dos “nativos digitais”?
O formato dos livros digitais ainda imita o livro “físico” talvez porque, como diz Nicholas Negroponte, fundador do projeto One Laptop per Child, seja uma boa “forma”, apresenta uma boa “Gestalt”. Leve e prático para segurar e manusear. A questão não é o formato, mas o que a leitura, que exige concentração, significa para uma geração que interage ativamente, o tempo todo, com o que encontra nos suportes digitais.
Acredito que, no futuro, o livro digital oferecerá som e imagem, além do dicionário e outras coisas que já oferece. O eventual cansaço da leitura poderá levar a clicar um botão e pedir para escutar ou ver o que se está lendo. Talvez se caminhe sempre na direção do que for mais rápido. A rapidez do mundo externo se introjeta no interno, dificultando ações pacientes, como pode ser a da leitura de um livro inteiro.
Como os livros digitais se encaixam em um mundo de informações rápidas, despejadas via smartphones, tablets e outras interfaces? A forma de produzir, distribuir, gerenciar e recompensar literatura também é partícipe dessa mudança de paradigmas?
O mundo continua mudando, não apenas rapidamente, mas em saltos qualitativos, provocando rupturas com o surgimento de outros referenciais e instalação de novos paradigmas. Os livros já podem ser lidos nos smartphones e tablets.
Existe leitura para adquirir informação e leitura para lazer. A questão sempre é a velocidade do acesso à informação. Os sites de busca entregam a informação quase que instantaneamente, o que não acontece na velocidade de acesso à informação encontrada num livro. A velocidade faz privilegiar os textos curtos, a imagem e o som. Já a leitura por prazer e para o lazer teve, tem e terá sempre a competição de outras formas de adquirir divertimento. Os nativos digitais estão acostumados a uma interatividade diferente daquela que os livros oferecem.
Nos novos paradigmas, será preciso criatividade dos especialistas para reinventarem a forma de produzir, distribuir, gerenciar e recompensar literatura.
A mudança de paradigmas na educação e na criação de crianças já é patente aos olhos de todos. Várias habilidades – como reconhecer formas geométricas ou até mesmo ler – estão sendo aprendidas precoce e autodidaticamente. Como os livros digitais deverão superar os velhos didáticos, que levam anos para serem atualizados, nesse cenário?
Livros didáticos são recortes simplistas do conhecimento, coisa do passado e parecem desnecessários. A informação está nos sites de busca. Enquanto a escola não se transforma radicalmente para atender às necessidades de aprendizagem da geração digital, os livros deveriam, pelo menos, trazer questões e problemas da vida real para o aprendiz exercer a capacidade de pensar e resolver problemas. É um modo de oferecer mais interatividade.
As escolas no futuro irão incluir os livros digitais no processo educacional ou deverão optar por outras plataformas, como jogos eletrônicos?
Os livros digitais devem ser utilizados para expandir conhecimento e não para recortar saberes, como nos livros didáticos tradicionais. Os chamados “conteúdos” escolares já estão nos sites de busca. A escola não é mais a grande provedora da informação para as novas gerações.
O mundo dos nativos digitais é nos suportes digitais, eles não conheceram uma vida sem eles. Portanto, não há opção entre livros, jogos e outras plataformas. Tudo serve para apoiar a aprendizagem e o desenvolvimento das crianças e jovens.
Na escola eles precisam aprender a resolver problemas reais e a viver num mundo em transformação. Precisam ler livros e saber buscar informações em todas as fontes.