Tenho visto e discutido alguns infográficos a respeito das supostas vantagens ambientais dos eBooks. Quase me considero capaz de neutralidade pois, de um lado, sou apaixonada pela tecnologia, e por outro, sou engenheira florestal e trabalho na indústria de celulose com gestão e redução de impactos ambientais.
Gosto de debater o tema e em geral, sou bastante cética com os argumentos de ambos os lados. Claro que o ponto central da discussão, quando se trata de ter um eReader ou não, dificilmente será o impacto ambiental.
Partilho com vocês um material produzido pela International Paper – uma parte interessada, sem dúvida, pois produz celulose e papel, mas que traz abordagens que julguei merecedoras de atenção. Segue uma livre tradução entremeada de meus próprios pitacos. O material original pode ser lido (em inglês) aqui.
O artigo aborda o seguinte fato e seus desdobramentos: qualquer processo de comunicação provoca algum tipo de impacto ambiental. Possivelmente várias pessoas já devem ter parado um segundo ao menos para ponderar que cada email enviado / recebido, implica em consumo de energia. O mesmo é válido para o envio de uma carta pelo correio. Mas para avaliar, no fim das contas, a melhor alternativa em termos de racionalidade no uso recursos naturais a análise precisa ser ampla, não pode se restringir à comparação do tempo de consumo de energia com o computador ligado enquanto se digita o email + tempo equivalente para quem lê e comparar diretamente com o tempo do escrever / receber a carta. Essa é uma visão insuficiente para se chegar a uma resposta. Há que se pensar no custo energético por trás desses atos mais simples – todos os servidores que permitem o funcionamento da web, toda a logística de transporte que envolve a distribuição física da comunicação.
Ao iniciar a discussão do que pode ser considerado sustentável, o material começa com a defesa da inerente sustentabilidade da indústria de celulose e papel, uma vez que toda a madeira utilizada (no caso da International Paper e da imensa maioria de indústrias do ramo) vem de plantações florestais, ou seja, são árvores plantadas com a finalidade de suprir as fábricas e não extraídas da natureza, de florestas nativas. Alguém haverá de retrucar que esse tipo de plantação tem os seus impactos. Sim, tem. Hoje em dia, muito menores do que já foram há trinta anos atrás, porque as técnicas de cultivo evoluíram, mas eles existem (boa parte do meu trabalho é buscar meios para que eles sejam cada vez menores, mas nunca serão nulos, em nenhuma atividade produtiva).
A argumentação segue com o lembrete de que um computador requer recursos oriundos de mineração e da indústria química. Muitos minerais e metais, incluindo ouro, prata assim como grande quantidade de plásticos e solventes – todos recursos não renováveis.
A vida útil de um computador (e isso se estende para tablets, e em certa medida eReaders) pode ser considerada curta e tem contribuído para o crescimento da geração de resíduos do mundo todo.
Diz o material que o impacto em geração de CO2 é 30% menor para uma leitura diária de 30 minutos no jornal impresso em comparação à leitura de notícias online. Outro ponto discutido na “competição” entre as formas de disseminação de conteúdo (impressão x eletrônico) é a questão do potencial para reciclagem. Apesar de haver certas ressalvas quanto à viabilidade de reciclagem e o impacto ambiental do processo para certos tipos de papel, não há como negar que é muito mais frequente e viável do que a reciclagem de componentes eletrônicos. Entretanto, ambos ainda devem melhorar, e muito.
O artigo conclui de maneira um tanto óbvia, defendendo que a “briga” entre qual o melhor meio em termos ambientais não é o caminho, mas que devemos buscar o balanço ideal e tratá-los como meios complementares.
E como não se trata tanto de concordar ou discordar, apenas acrescento que considero enganoso e dispensável argumentar a favor de um ou outro com base no argumento ambiental. Há tantos outros aspectos relacionados com o interesse e conforto do mercado que delinearão os rumos do tema, que poderíamos gastar horas debatendo, mas eu vou economizar um tantinho de energia aqui do computador e vou ler meu Kindle na frente da lareira que o inverno pegou novamente.
Pixels x papel – Empate Técnico?