Mal foi anunciado o Kindle Owners’ Lending Library e a polêmica já tomou conta do mercado editorial americano. São vários os pontos onde existem obstáculos à aderência de todas as editoras no programa, e todo mundo já deu seu pitaco. Vamos ver o que estão falando.
O Wall Street Journal ressalta que nenhuma das seis grandes editoras dos Estados Unidos está dentro desse novo programa. Segundo eles, o projeto pode prejudicar vendas futuras de antigos títulos ou ferir parcerias com outras livrarias digitais.
Mas nem todos estão bravos. Arthur Klebanoff, CEO da RosettaBooks LLC, acha uma boa ideia, uma vez que procura exposição e divulgação de seus títulos. Ele acha que todas as promoções do site, principalmente as relacionadas a títulos da backlist, melhoram as vendas na Kindle Store, e por isso ele está com 200 de seus livros nesse programa.
“Nossos eBooks tiveram um bom retorno no Kindle e esse é um ótimo jeito de mostrar nosso conhecimento em viagens para uma audiência ainda maior” afirmou John Boris, vice presidente executivo da Loneny Planet, que irá fornecer conteúdo na série Chapters.
David Nussbaum, da F+W, completa no site Digital Book World: “Nos interessamos por qualquer campanha que ajude os leitores a descobrir nossos autores e seus livros. Achamos que isso vai levar as pessoas a ler mais livros da F+W, e trará mais renda a nossos autores.”
George Burke, CEO e fundador da eBookFling, uma start-up americana que permite aos usuários emprestar eBooks uns aos outros, declarou que alguns editores podem simplesmente não estar preparados para esse modelo de publicação. A eBookFling possui 12 mil livros em seu catálogo. “Como sabemos, a indústria do livro é um tanto quanto antiga e muito vagarosa nas mudanças”, ele diz. “É apenas uma questão de tempo antes que mais editoras subam a bordo.”
Russel Grandinetti, vice presidente de conteúdo para Kindle da Amazon, ressalta que na era digital os editores de livros deveriam procurar por mais e novos canais de renda e que o modelo Amazon Lending Library não é muito diferente do jeito que outras companhias monetizam seus produtos.
“Às vezes eu vou ao cinema e pago pelo ingresso, e às vezes eu assisto um filme pela televisão a cabo. Quando você vai para casa e assiste um filme dessa forma, é gratuito ou você está pagando por isso?” declara ele, em uma alusão ao sistema de assinaturas à qual a TV se adaptou (e também outros mercados, como o do jornal).
Burke também concorda com isso: “Tanto a indústria do cinema quanto a da música foram por esse caminho. Spotify e Rhapsody possuem assinaturas fixas que funcionaram com as empresas fonográficas. E o Netflix paga taxas fixas para as empresas de filmes para acessar seus catálogos.”
Aqui a coisa fica um pouco mais complicada. O site FutureBook informa que editoras e agentes estariam reclamando que a Amazon está colocando para empréstimo eBooks que não foram autorizados por seus proprietários.
A Amazon informou que os títulos na Biblioteca de Empréstimos vêm de uma “variada gama de editoras sob uma variedade de acordos” e adiciona: “Para a maioria do catálogo disponibilizado a Amazon chegou a um acordo com editoras para incluir títulos a uma taxa fixa. Em alguns casos, informa que estará comprando cada exemplar alugado gratuitamente pelos usuários Prime, para mostrar aos editores que esse programa pode aumentar as vendas e a exposição.”
Há cláusulas nos contratos com a empresa que permitem que a Amazon dê os livros gratuitamente se desejar, caso pague o preço dos mesmos. Ou seja, mais uma vez a Amazon está tirando do próprio bolso para mostrar que o negócio no geral pode trazer lucro. Ela já fez isso outras vezes, principalmente em relação ao mercado do Kindle.
A Associação dos Representantes dos Autores diz estar preocupada com o modo que autores individuais receberão pelos empréstimos dos livros para os quais a Amazon não paga a taxa de venda. De acordo com nota no blog Aardvark existem preocupações sobre como os editores que recebem um montante fixo pela Amazon pelos títulos incluindo irão agirna hora do pagamento aos autores.
Em outro ponto, é questionado o fato de que essas “vendas” podem ser consideradas um outro tipo de cessão de direitos, nas quais os editores teriam que pagar uma taxa de royalties maior, algo acima de 50%, explica Joe Wikert do O’Reilly Radar.
Do jeito que está o acordo, o que parece é que não importa o quão popular (ou impopular) o título de uma editora é, ela recebe uma taxa fixa pela participação na biblioteca. A solução, de acordo com Wikert, seria recompensar autores e editoras por nível de uso, e não por taxas fixas.
Esse é um novo tipo de negócio, já utilizado com certo sucesso em áreas como a musical e a cinematográfica, mas editoras e autores ainda irão penar um pouco para negociar melhores termos ou se adaptar aos que estão em voga. A solução, no caso, é que as editoras e autores consigam se virar sem essas grandes empresas como a Amazon, Apple ou Google, que colocam seus próprios termos. É necessário se informar a respeito dos erros cometidos pelas outras indústrias, e se utilizar disso para contruírem um mercado mais lucrativo e útil para todos, não esquecendo aí do leitor.