Conteúdo digital não tem data de validade. Bits não se estragam com o tempo, enquanto houver um suporte de hardware – este sim, composto por átomos, deteriorável – o digital continua o mesmo. Então qual o motivo de empresas do porte da Amazon acreditarem que a venda de eBooks usados poderia ser uma boa ideia?
Primeiro as primeiras coisas: uma empresa chamada ReDigi começou a vender música digital ‘usada’ em 2011, utilizando uma tecnologia proprietária para evitar a pirataria. No modelo de negócios, 20% do valor das vendas é repassado às gravadoras, artistas e autores das obras. A empresa, que também planejava revender eBooks, enfrenta um processo movido pela Capitol Records. Por enquanto, a Justiça entende que não é crime um usuário vender o que ele mesmo comprou – o que está em questão é se isso também vai valer para conteúdo digital (veja aqui a história completa).
Mas a ReDigi não é a única de olho no mercado “secundário” de conteúdo digital. A Amazon, com todo o seu poder de fogo, já patenteou uma tecnologia para permitir que proprietários de livros adquiridos na plataforma possam revendê-los apenas uma vez. O modelo de operação da tecnologia baseia-se na cópia de um dispositivo para outro, e extinção no primeiro. Já a ReDigi utiliza um método diferente:
A tecnologia da ReDigi emprega um “Motor de Verificação” e “Transação Atômica”, resultando em um mecanismo apenas de transferência. Isso significa que todos os bens digitais primeiro são verificados para garantir que podem ser revendidos legalmente. Uma vez que o original é verificado, é transferido do computador do usuário para a nuvem da ReDigi (marketplace). Com o método, apenas o bem “original” é transferido instantânea e automaticamente do vendedor para o consumidor sem nenhuma cópia.
Apesar das diferenças tecnológicas, o princípio é o mesmo. Por enquanto tudo depende de uma decisão judicial que deve se tornar jurisprudência para outros casos – e possibilitar a formação de um mercado.
Agora voltando: podemos ver, em breve, sebos online de eBooks usados? Para solucionar essa questão, é necessário olhar dois lados: o potencial do “aftermarket” de livros digitais e um pouco de filosofia sobre o assunto.
O aftermarket (ou “second market”) é uma área um pouco nebulosa, sobretudo quando se trata de livros – embora seja uma prática popular em outros segmentos, como peças de carros ou mercado de ações (intangível, porém altamente regulado). Não há estudos que indiquem quanto dinheiro circula pela segunda mão, embora vender livros usados seja um bom negócio para vários livreiros. No mercado de eBooks, é ainda mais difícil saber se essa ferramenta funcionaria – ao menos na venda de músicas usadas, a ReDigi está crescendo. Atualmente a empresa conta com cerca de 25 funcionários, tem filiais em Boston e New York e planeja entrar em breve na revenda de games e software.
Números à parte, qual o sentido de um conteúdo digital usado? Átomos se deterioram, perdem valor de mercado, e constituem bens tangíveis. Bits são reproduzíveis, copiáveis e duram tanto tempo quanto seu suporte – ou até que alguém aperte o “delete”. Suprimir essa característica e acreditar que os usuários em massa irão utilizar de boa vontade a venda de eBooks usados quando podem comprar novos – ou piratear novos – é subestimar as demais possibilidades.
Você acredita que o mercado de eBooks segunda mão pode prosperar? Ou mesmo compraria um livro digital “usado”? Deixe sua opinião sobre o assunto nos comentários abaixo.
Com informações do PublishersWeekly
Acredito que quem manda ainda é o dinheiro. Não temos como medir o “eBook gasto” (rsrsrs) mas, se esse for revendido a um preço menor que o “novo”, com certeza esse mercado irá prosperar. Mas ainda é necessário tem ferramentas anti-pirataria muito eficientes.
Se for mais barato do que a cópia vendida nas grandes lojas como a amazon, eu compraria sim, apenas não entende porque seria mais barata, já que não há nenhum desgaste.
Seria mais barata para facilitar a venda. Por exemplo: eu compro um ebook, leio, e vendo-o posteriormente pois não tenho interesse em ler ele novamente.
Só que para vendê-lo teria que fazer por um preço menor que nas livrarias, por que senão o interessado não irá comprar de mim.
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Bom dia!
Posso vender livros de domínio público sem a necessidade de autorização ?
Obrigado1
Olá Rafael. O livro estando de fato em domínio público e respeitando a regra vigente, pode publicar sem autorização — é o caso atualmente de Monteiro Lobato, George Orwell, entre outros. Leve em consideração, porém, que as regras de domínio público se aplicam ao trabalho intelectual original. No caso de Orwell, por exemplo, a obra 1984 está em domínio público. Mas isso se aplica somente ao original do livro, em inglês. Para as traduções, muitas delas bem mais recentes que a obra, o prazo só conta a partir da publicação da tradução em si, e não do original. Neste caso, as traduções não entraram em domínio público, só o texto original em inglês. Isso permite, por exemplo, que qualquer pessoa faça sua própria tradução de 1984 de publique. Mas não permite pegar a tradução feita por outra pessoa, e republicar — isso só seria possível após 70 anos da morte do tradutor, e não do autor, pelas regras vigentes no Brasil.