As respostas para essas questões são variadas. Para o ex-diretor-presidente das Livrarias Saraiva, Marcílio Pousada, a resposta era “um pouco mais baixo que o livro impresso, mas não muito”. O palpite? Um valor cerca de 30% menor que o livro impresso. Isso me fez lembrar de duas tirinhas do Dilbert, que falam sobre a “terra das presunções irrealistas” e se aplicam perfeitamente nesse caso:
(fontes: https://dilbert.com/strip/2006-02-17 e http://dilbert.com/strips/comic/2006-02-18/
A vida do editor é complicada!
Criar conteúdos adicionais que atraiam o leitor, inclusive “extras” gratuitos dentro do livro, é uma ideia com resultados incertos — se o “extra” fosse bom mesmo, ele seria vendido separadamente, certo? Se não está sendo vendido, então não deve ser tão bom assim (é um raciocínio que ocorre para muitos consumidores). É uma estratégia de resultado incerto – afinal, os leitores querem de fato algo extra, além do próprio livro? Exemplo análogo: alguém compraria um DVD ou Blu-Ray em função dos extras? Eu não compraria. E hoje em dia, alguém ainda compra DVDs???
Qual a saída então? Inovar, lógico. Se vender um ebook 30% mais barato que a versão impressa irá espantar o consumidor brasileiro, então é preciso ir além do feijão-com-arroz e oferecer valores agregados.
Um primeiro passo é oferecer o eBook em ePub, formato compatível para leitura, no presente e no futuro, com uma diversidade de aparelhos. Isso é vender um eBook de verdade, uma vez que eBooks em ePub podem ser lidos no iPhone e outros celulares (notadamente os que usam sistema Android), no iPad, no computador e em vários eReaders. Usar o ePub, portanto, valoriza seu livro eletrônico.
Invista em uma diagramação caprichada do formato ePub. Compre livros em ePub você mesmo, compare sua qualidade, pesquise as reações dos leitores. Vender um produto bem acabado valoriza muito seu produto. Qualquer pessoa é capaz de criar um arquivo PDF; mas poucos sabem produzir um ePub bem acabado.
São ações simples, que permitem obter um valor melhor para seu eBook. Lembre-se que o leitor não quer comprar arquivos, ele quer tecnologia, conveniência, qualidade, facilidade. Se ele não quisesse isso, não assistiríamos a ascensão meteórica dos eBooks. A ideia é agregar valor à cadeia do livro, um valor que seja palpável e facilmente percebido pelos leitores.
A questão do preço é complicada pela natureza de certos conteúdos. Existem livros que são mais caros por serem técnicos, literatura especializada, e para esses livros um desconto de 30% pode ser francamente assustador (e impensável). Em compensação, também existem obras de ficção que geralmente têm custos menores. Essa podem ter descontos até maiores nas versões eBook, sem risco de prejudicar o retorno da editora.
Convém lembrar que preços menores não significam prejuízo automático, afinal, podem ser compensados por volumes de vendas superiores. Faça os cálculos. Se as pessoas não compram livros porque “livros são caros”, tire esse argumento delas. Venda barato. Pelos preços praticados internacionalmente, best-sellers são vendidos de US$ 9,99 até 12,99. Fica realmente difícil justificar a venda de eBooks de autores pouco conhecidos, por mais de R$ 29,00 no Brasil, se ele pode comprar um best-seller por um preço equivalente. É preciso levar em consideração que os early-adopters lêem em Inglês, também. Para esse tipo de consumidor, que está o tempo todo na Internet, não vale a justificativa que o mercado externo e o brasileiro são diferentes – para ele, você, Saraiva, Amazon, Google, todos que estão na rede competem entre si.
Além disso, preços não precisam ser estanques. Faça promoções, ofereça alguns títulos com descontos vantajosos, pesquise ações de outros editores. Faça testes, experimente com os preços. Testar por conta própria é a melhor maneira de descobrir como os leitores se comportarão com os ebooks, e quais as melhores formas de precificar esses livros.
Concordo e digo mais: querem vender? Imitem a Amazon! eBooks dispostos nas nuvens, self-publish a partir de U$ 0.99, alguns livros grátis (não estou me referindo a livros de domínio público) ofereçam samples, e por favor, ofereçam um bom serviço (por exemplo, o software da Saraiva para Android é uma piada).
Afinal, porque eu iria deixar de comprar na Amazon que oferece todas estas vantagens para comprar em uma livraria que nem o atendimento ao cliente é satisfatório?