Em vários países, o número de livrarias independentes está encolhendo a olhos vistos. No Brasil, o número de livrarias encolheu 12%, segundo recente pesquisa da Associação Nacional de Livrarias (veja a fonte no final do texto). Aí começa a se pensar que a pequena livraria está ameaçada, pode desaparecer, etc. Esta semana, porém, uma nova livraria independente abriu em São Paulo, com um modelo de negócios interessantíssimo, que pode mostrar um caminho para salvar as pequenas livrarias da extinção – embora não os livreiros.
Maria Fernanda Rodrigues (no Estadão) conta a história por trás da inauguração da Intermeios, livraria aberta na última segunda-feira, 22/04. Os idealizadores, Joaquim Pereira e Vanderley Mendonça, são pequenos editores. Um deles, ao participar da Feira de Frankfurt, na Alemanha, achou o stand do Brasil muito democrático: oferecia uma prateleira para cada editor. É uma experiência bem diferente das outras livrarias, nas quais as grandes editoras pagam cinco mil reais ou mais por espaços de destaque, e as pequenas são negligenciadas. Os dois editores imaginaram uma livraria que aplicasse este conceito, uma prateleira para cada editora. Conquistaram a adesão de outras editoras independentes e viabilizaram o negócio.
Já cansei de ouvir consultores e painelistas de eventos defenderem que as editoras deveriam se unir e vender o seu próprio conteúdo. Aquelas editoras cujas vendas dependem das livrarias, evidentemente, concorrer com quem vende seus livros. O que não é o caso destas editoras pequenas – as livrarias não pagam as contas delas:
A venda de livros pela internet, aliás, tem sido a estratégia das pequenas [editoras] para continuarem vivas. “Mas quisemos ter um lugar físico por uma questão simbólica. E esperamos que isso seja um incentivo para que outras sejam abertas”, comenta Vanderley.
A pequena editora tem pouco, ou mesmo nada a perder, apostando na inovação e fazendo parcerias com seus colegas. E isso vale, inclusive, para o digital. As editoras nacionais ainda têm o conteúdo de boa qualidade nas mãos. Assim como podem se associar para abrir uma livraria de calçada, ou negociar em conjunto com as empresas de tecnologia, nada as impede de abrir uma livraria digital para vender seus ebooks por conta própria. É evidente que é difícil e caro fazer isso, mas rachando a conta entre vários bolsos, 50% do problema está resolvido. Continua difícil, mas já deixa de ser impossível financeiramente. Já imaginou se a Libre tivesse uma livraria online, capaz de comercializar tanto impressos quanto ebooks? Quando eu imagino, vejo uma potência. E o cavalo passando encilhado.
Quem não deve ter ficado nada feliz com esta notícia, certamente, são os livreiros.
Globalmente, o mercado dos livreiros está encolhendo. Eles se vêem diante da necessidade de diversificar os produtos, para manter a relevância junto ao público – precisam vender produtos de informática, eletrônicos, brinquedos. As pequenas editoras começaram a enxergar as oportunidades, e abrem livrarias em sociedade. Até as escolas já ameaçam as livrarias, a ponto de a Associação Estadual das Livrarias do Rio de Janeiro iniciar uma campanha contra a venda de livros nas escolas. E o livro digital começará a roer os ganhos dos livreiros, de forma crescente, ao longo dos próximos meses e anos – a esmagadora maioria dos livreiros ainda está fora deste negócio.
É o apocalipse apontando no horizonte dos livreiros brasileiros. Desculpe o tom dramático, mas eu realmente acredito nisso. Ao menos, para os livreiros dos centros urbanos, repletos de concorrentes não-livreiros e que não se prepararam para atender um nicho específico de clientes. Ora, se os livros continuam sendo vendidos, apenas não mais pelos livreiros, o que resta para eles? Perdem relevância a cada dia que passa. Não estou tomando uma posição a favor disto, estou fazendo uma constatação. Parece que o copo dos livreiros vai transbordar a qualquer momento, que eles tentam salvar uma represa cheia de furos e danos estruturais, prestes a arrebentar. As livrarias talvez se salvem, mas os livreiros, eu vejo a represa levando.
Fontes: Editoras independentes inauguram livraria em SP – cultura – geral – Estadão – Brasil tem redução de 12% no número de livrarias – O Globo
Sou proprietária de uma livraria. Só que nossa proposta é uma livraria diferente denominada Livraria Móvel. Composta de livros diversos sob um carrinho de livros e saímos para frente de escolas, faculdades, praças, eventos. Porém, também estamos sentindo a crise do fim dos livreiros. Como os governantes defendem o slogam: “o habito da leitura se dá na infância”. Mas, como podemos mudar o cenário da falta de hábito de leitura dos brasileiros se os governantes contribuem para o fechamento das pequenas livrarias. Tudo é muito caro para quem está começando. Sabe-se que mesmo com o mundo digital em países desenvolvidos demonstram que é possível sim ter o mundo da leitura impressa e o mundo da leitura digital. Portanto, livreiros precisamos nos unir CONTRA o fim das livrarias físicas.