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A saída para o mercado editorial: tentativas, erros e aprendizados

27/06/2013
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Como leremos em 2020? Se parar para pensar, é um intervalo muito curto de tempo, mas a revolução digital não pretende respeitar os 500 anos nos quais predominou a indústria editorial. As práticas de leitura e o mercado já enfrentam profundas transformações às quais muitos podem não resistir. Para responder à pergunta inicial, o pesquisador Sílvio Meira, fundador do C.E.S.A.R (Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife) palestrou durante o 4º Congresso Internacional do Livro Digital, que ocorreu entre os dias 13 e 14 de junho.

As possibilidades não deixaram muitas pessoas felizes. Após uma contextualização histórica – desde a conhecida revolução de Gutenberg até a leitura em modo “shuffle” da era do Twitter -, Sílvio Meira aponta para conclusões incertas: “nesse tipo de contexto, nessas novas plataformas, qual o futuro dos livros? Livros, eu acho, vão ser fluxos. Fluxos como conteúdo aumentado, compartilhado em rede como serviço”. Essa consideração, no entanto, implica em uma ampla contextualização.

A era que ele chamou de “parêntese de Gutenberg” agregou determinadas características ao livro, entre elas a grande sacada de transformá-lo em um produto e criar a indústria da informação. A composição original, a reprodutibilidade técnica, o surgimento e valorização da figura do autor, copyright, receptividade passiva da informação pelos consumidores, dentre outras. “Antes de Gutenberg, a gente tem um sistema baseado em recreação/recriação, que é criativo, coletivo, contextual, instável, baseado na performance. Dentro ou exatamente no meio de Gutenberg, nós temos o estável, o canônico, o individual, o original, o autônomo, o universo da composição. Depois de Gutenberg a gente tem um conjunto de coisas que não tem exatamente nome”, afirma.

E o que representa esse conjunto de coisas ainda sem nome ou características difíceis de mapear? “A gente faz sempre, a gente faz coisas e remistura, a gente toma coisas emprestadas, a gente reformata, a gente se apropria. Estamos vendo um universo que, no futuro, talvez seja chamado de percomposichange – um universo de performance, composição e mudança simultânea”, descreve. Tudo isso, pouco necessário lembrar, é um tiro fatal na atual visão de copyright das editoras, livrarias, agentes e autores.

Práticas de leitura

De acordo com Sílvio Meira, a leitura está se tornando cada vez mais fragmentada e menos canônica. Para exemplificar, ele citou o livro “O manuscrito encontrado em Accra”, de Paulo Coelho. “Certamente não é uma composição. É um conjunto articulado de citações, uma espécie de indexador da literatura universal”, analisa. Isso colocaria a obra em cima do parêntese citado anteriormente, na borda entre a ruptura entre a indústria editorial e o universo do “percomposichange”.

Mas essa não é o único sentido no qual a leitura irá ser impactada – talvez seja o menos significativo. Os leitores já participam ativamente do processo, de modo que o “Livro” é cada vez menos um produto final a ser entregue em uma embalagem e mais uma espécie de serviço com muitos outros valores e ferramentas agregados. E não é apenas isso: o livro, a partir de agora, deve ser visto como um elemento integrado à World Wide Web.

Ecossistema de leitura

“A rede como um todo é uma plataforma de compatibilidade. É uma infraestrutura, um conjunto de serviços em cima dessa infraestrutura e um conjunto de aplicações em cima desse serviço. Livros fazem parte de um conjunto articulado de sistemas e, como conteúdo, dependem dessas plataformas de compatibilidade ao redor. A plataforma móvel, digital, conectada e programável é muito mais eficaz, muito mais leve, muito mais eficiente, muito mais barata do que a plataforma física”, explica Sílvio Meira.

“Isso vai mudar exatamente o que a gente vai entender como ‘Livro’ no futuro próximo. Escrita, propriedade do material, distribuição, leitura, replicação e preservação vão mudar porque a plataforma de compatibilidade já está mudando”, alerta.

O que sobra para os profissionais?

A resposta para quem trabalha na indústria do livro é profética, mas não muito animadora. E pode ser resumida em uma sigla: TEA (tentativas, erros e aprendizado). Esqueça os acertos. Quanto mais as editoras, livrarias, autores e até bibliotecários errarem, mais tempo terão para aprender a como não agir nessa nova dinâmica do livro digital. E mais tempo terão para se recuperar diante dos seus concorrentes. “Quem não tentar agora para errar muito, acertar pouco e aprender rápido para um futuro próximo, talvez não esteja no mercado no cenário de curto prazo”, considera.

 

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