Muita gente já ouviu a máxima moderna de que uma vez online, é público e se alguém quiser achar, vai achar. (As celebridades com fotos “vazadas” sabem muito bem disso). Pois a mesma coisa pode ser dita para os eReaders conectados à internet: sempre tem alguém olhando.
Isso acontece com muitos dos serviços mais populares da rede, como buscadores e emails, por exemplo, que “dão uma olhada” nos hábitos dos usuários para oferecer anúncios personalizados. As empresas mais importantes da área de eBooks, é claro, também usam desta prática com seus usuários.
O Wall Street Journal publicou há alguns dias um artigo muito interessante sobre o que empresas como a Amazon, a Barnes & Noble e a Kobo estão fazendo com os dados de seus usuários. A B&N, por exemplo, usa as informações para dar um feedback às editoras, mostrando as preferências dos leitores para que livros mais “atraentes” possam ser produzidos.
É claro que isso é tão interessante quanto preocupante, já que é impossível não pensar que este tipo de parceria entre o vendedor do livro e o autor poderia levar a um processo de “homogeneização da literatura”, como coloca o TeleRead, com os autores escrevendo apenas o que os leitores querem ler. Claro, isso já acontece em muitas áreas da literatura, mas não (ainda bem) de uma forma generalizada.
Entretanto, quando se fala em ler informações de usuários, o surgimento da questão da privacidade é praticamente certo. Até que se prove o contrário, as empresas só usam informações de livros comprados pelos usuários ou ainda até que ponto eles lêem determinado tipo de livro, quanto tempo cada gênero demora a ser lido e por aí vai. Mas, assim como para as outras áreas e serviços da internet que têm contato com informações de usuários, também é necessário ficar de olho nos leitores de eBooks.
Mas, como dito anteriormente, esta é uma tendência da internet e é até natural que empresas como a Amazon, B&N e Kobo também façam isso, assim como outras mais famosas, como Apple e Google, também o fazem. Na verdade, tudo fica ainda mais simples se pensarmos nestes dados como uma análise da “audiência” dos leitores, assim como é feito na TV e na internet. No final das contas, tudo pode ser usado para o benefício do usuário – e para o lucro dos envolvidos.
Quando comprei meu ereader da Sony, levei muito a sério duas considerações: 1) Não deveria comprar um aparelho que fizesse algo além de ler ebooks — acessar vídeos no You Tube? Nem pensar!; 2) Jamais compraria um ereader que acessasse a internet, principalmente através de wi-fi — ora, eu queria ler livros ou ler blogs, jornais e Wikipédia? Não! Nada de distrações. Quando quisesse ler livros, leria apenas livros. E foi o que fiz: comprei um PRS-350SC.
Mas a questão é que, para incrementar essas duas decisões, ocorreu aquele fato absurdo: a Amazon deletou ebooks dos Kindles de seus clientes sem que eles pudessem dizer um “ai” para evitá-lo! Sou totalmente a favor da vinda da Amazon ao Brasil, mas jamais manterei meu ereader online. Eu, e apenas eu, decido quais livros terei na minha biblioteca virtual. Enfim, muito pior do que saberem quais livros você lê é terem o poder de deletá-los do seu aparelho. Imagine se, num futuro não muito remoto (e hipotético, claro), o governo Chinês comprasse a Amazon: você deixaria um governo qualquer “queimar” seus livros supostamente inconvenientes? Mesmo que futuramente não fabriquem mais ereaders sem wi-fi, e mesmo que eu compre um Kindle, continuarei sempre com meu Sony Reader ilhado e sossegado, tal como toda biblioteca deveria ser.