artigo por Ednei Procópio, do site eBook Reader.
Também precisei pensar muito em um modo de implantar um sistema de Digital Rights Management para a plataforma de livros digitais da Livrus.net. Um sistema que não engessasse a possibilidade dos leitores lerem os seus livros em diversos hardwares [tablets, smartphones, ultrabooks, e-readers, etc,] e em diversos sistemas operacionais [como iOS, Windows Phone, Android, entre tanto outros] sem que isso desse a entender que o leitor fosse um pirata.
Ao contrário dos formatos ePub, em sua terceira versão pela International Digital Publishing Forum, e PDF, o HTML5 é um dos poucos formatos que permitiria a leitura de livros em diversos hardwares, softwares, sistema e aplicativos, sem necessariamente passar pela obrigatoriedade de instalação, configuração e customização para cada caso. O que permitiria aos leitores não só mobilidade, acessibilidade e portabilidade, mas aos autores e editoras também uma liberdade de design.
Ao mesmo tempo, ao contrário dos formatos ePub e PDF, que necessitam obrigatoriamente de um sistema que os empacote para protegê-los, o HTML5 não sofre desta carência porque se trata de um formato que já nasceu livre, graças ao visionário Tim Bernes-Lee.
E é sobre esta liberdade de que trata a defesa deste artigo.
Bem sei que para o mercado editorial brasileiro não é fácil a decisão de manter os livros livres do DRM. Mas é necessário que estejamos sempre atento ao fato de que a maioria dos players de eBooks no Brasil, desde os primeiros a se vangloriarem de um mercado inexistente até os retardatários da onda ditada pela moda, usam a solução de DRM da empresa Adobe. O Adobe Content Server, em sua versão 4, parece ser a única e verdadeira plataforma distribuidora de livros digitais por aqui. Não importa se você adquiriu um livro na Cultura, na Saraiva ou na Gato Sabido.
Ainda bem que o Google eBooks está chegando para a acabar com esta cega hegemonia.
DRM, pra mim, além de tudo é sinônimo de custo. E nem vou perder o nosso tempo postando aqui os custos que envolvem um DRM para as editoras que sonham em ter a sua própria loja de eBooks, mesmo passando pelos ‘grandalhões’ do mercado. O fato é que realmente se faz mais do que necessária uma opção de DRM ao monopólio qua a Adobe conseguiu engendrar graças ao histórico formato PDF no ramo editorial, além da lobotomia histórica do próprio ramo.
É sabido que dentro de um ePub há um arquivo XHTML [responsável pelo conteúdo] e uma CSS [folha de estilo, responsável direta pelo rico design das obras] que, se não fosse a vida útil do HTML, não teriam sobrevivido ao mundo fantasioso da tecnologia Adobe Flash, e nem das demais modas passageiras como o protocolo WAP.
Quanta perda de dinheiro, e de conteúdo, que se foi com o tempo.
Se existem hoje o império das mídias sociais, o mais óbvio para resolver o impasse entre o copyright [direitos reservados] e o copyleft [direitos autorizados] seria a utilização de um Gerenciamento Digital de Direitos Autorais baseado em um social-commerce, pois a pirataria de produtos só existe porque o comércio existe para troca de bens e serviços na sociedade. Ninguém faz pirataria de uma coisa que é livre.
O DRM precisa estar baseado em um comércio eletrônico específico para os livros digitais cuja estrutura de segurança estaria atrelada por sua vez a uma estrutura social de DRM. E não o contrário. Porque a segurança do conteúdo digital está no ato da compra, para proteger o consumidor que paga, e o conteúdo não tem de estar seguro do próprio leitor que o comprou, depois da sua própria aquisição.
Seria um contra senso como aquele de querer manter o cavalo quieto e imóvel, sem fugir, mesmo sem amarras, depois de mantê-lo a vida inteira preso a uma estaca. Pois parece que é isto o que o DRM quer, colocar um cabresto nos leitores. E os acostumá-los assim.
Sem antes transformar possíveis consumidores em verdadeiros leitores ilegais, o que o DRM parecia querer na verdade era chegar ao absurdo de um SOPA [Stop Online Piracy Act], de um ACTA ou de um PIPA da vida.
Pergunta: resolveria o problema da pirataria?
Resposta: não, não resolveria.
A este cenário haveria uma solução que poucos testaram, que se tem dado o nome de Social DRM. O mais próximo de um DRM Free que se tem notícia.
Para se ter uma estrutura de segurança para os livros digitais é preciso antes de tudo apoiar-se na rica malha já construída pela indústria de tecnologia bancária para o e-commerce. Não precisamos reinventar a roda, pois a segurança para transações comerciais na compra de um alfinete ou de uma lâmina de barbear, pela Internet, é a mesma. Aliás, o consumidor também é o mesmo.
Agora, quem não quer pagar pelo conteúdo digital, geralmente, opta pela pirataria. Então porque dificultar a vida de quem quer pagar pelas coisas digitais, se o mesmo método antiquado da pseudo-segurança não dificulta a vida de quem não quer pagar pelos mesmos conteúdos?
Isto quando há o conteúdo disponível, não é!?
Seguindo este raciocínio, para se ter a audiência necessária para o acesso e aquisição de eBooks, é preciso apoiar-se nas mídias sociais. E para fortalecer o comércio legal de livros pela Internet é preciso usufruir do poder dos metadados. Sem os metadados, os dados do usuário, não existe o Social DRM.
Se a sua editora sabe gerenciar os dados dos livros; se a sua editora sabe usar as mídias sociais para encontrar os consumidores modernos e transformá-los em leitores que pagam; se a sua editora usa e-commerce atrelado às redes sociais; então a sua editora sabe da importância urgente de investir em social-commerce.
Se tudo isto estiver entendido neste sentido, então chegamos à óbvia conclusão de que o Social DRM pode ser uma solução não contra a pirataria ou contra a aquisição ilegal de produtos digitais. O Social DRM pode ser a solução que une metadados de livros, autores, editoras e leitores aos modernos mecanismos de e-commerce em um mundo em constante mobilidade. De onde se tem o termo mobile-commerce.
A equação para a solução da pirataria é simples:
mídias sociais + mobile-commerce + conteúdo rico e livre = eBooks
Para terminar este meu artigo, quero agradecer a Adobe por cobrar caro por sua solução ineficaz de proteção. Mesmo não levando em conta a porcentagem que ela ganha em cima de cada título, minha pequena empresa não conseguiria comprar sua solução. Obrigado, Adobe. Se precisar te mando o link do ‘cracker’ que quebra a sua criptografia de milhões de dólares; mas quero agora ser eu mesmo o distribuidor de meus livros até que uma distribuição mais inteligente para os consumidores seja lançada no mercado. E gostaria de agradecer também à Apple por me ensinar o valor das coisas.
Enquanto empreendedor de uma startup de livros digitais, em um país de gente que chama livros digitais em HTML5 de site, fui obrigado a pensar em um modo mais barato, mas principalmente em uma solução open, para o DRM de livros do catálogo da Livrus.net.
Já que o formato HTML5 permite a interoperabilidade de acesso e leitura a conteúdo rico sem passar pelo cabresto de empresas como Adobe e Apple; e se o Social DRM permite transformar os leitores da tal geração Y em consumidores responsáveis, então porque não usá-los em nossos negócios editoriais?
Keep ‘open‘ in the free world!
Ednei Procópio é Coordenador Geral do Cadastro Nacional do Livro, membro da Comissão do Livro Digital da Câmara Brasileira do Livro e desde 1998, especialista em eBooks.
“. Então porque dificultar a vida de quem quer pagar pelas coisas digitais, se o mesmo método antiquado da pseudo-segurança não dificulta a vida de quem não quer pagar pelos mesmos conteúdos?”
É exatamente isso, o DRM baseado em criptografia (burra) só dificulta a vida de quem paga, quem não paga ou pirateia quebra o código com dois cliques.
Em vez de aprimorar a experiência de compra, piora-se a experiência de leitura e consumo do conteúdo. É efeito ainda da ” lobotomia histórica do próprio ramo”.
Excelente artigo e abordagem.
Muito bom Ednei, meus parabéns!
Estou procurando alguma maneira de implementar o Social DRM para os ebooks que vendo. Você tem alguma recomendação?
Abraços