Paulo Tedesco sugeriu o “banimento” dos livros gratuitos em formato digital. Para ele, este tipo de divulgação seria uma “armadilha” no caminho dos autores, pois “não promove novos leitores tampouco alavanca vendas”. Esta crítica, tão veemente, só tem um problema: não encontra base na realidade.
O livro digital gratuito, trabalhado corretamente, é uma ferramenta poderosa para divulgação de autores, profissionais e empresas. Com a vantagem de ser barata e fácil de estruturar.
Para contextualizar o leitor, aviso que trabalho com livros digitais desde 2008. Gerencio, atualmente, a venda e distribuição de mais de 500 livros digitais, dos mais variados segmentos. Esta experiência me permitiu distinguir três regras básicas, fundamentais, para fazer divulgação com livros digitais gratuitos.
Para um autor desconhecido, pode ser surpreendente ver seu livro, grátis, ser baixado por dezenas de milhares de usuários na Amazon, Apple, Google, Kobo, etc. Tenho vários casos assim e até alguns que passaram dos 100 mil downloads (como este e este). Mesmo assim, está longe de ser suficiente. Se você entrega algo relevante, que teve custo de tempo e dinheiro, é justo obter algo em troca. Se pagamento em dinheiro está descartado, o que poderia ser? Basta ver o que as livrarias online fazem, há anos. Para baixar qualquer livro, gratuito inclusive, o leitor precisa fazer um cadastro. Ter o nome e o contato dos leitores vale muito.
Obtendo este contato dos leitores, o autor terá o essencial para iniciar um relacionamento de fato com seu público. Irá expandir seu universo de seguidores. Poderá iniciar uma comunicação regular, propor ações que permitam descobrir mais detalhes sobre quem são, o que gostam… e se realmente gostarem do seu livro, terão interesse nos próximos. Poderão pagar por eles.
Para o autor, o mais simples e útil é pedir um nome e um email. Por mais que as pessoas vivam nas redes sociais, todo mundo segue usando e precisando de e-mails.
Os autores *não* deveriam publicar este livro nas livrarias online, ou em qualquer canal que não permita saber, exatamente, quem está baixando o livro. Partindo do pressuposto que o livro gratuito seja realmente encarado como ferramenta de divulgação.
Publicar um livro gratuito nas livrarias, significa “doar” dois ativos valiosíssimos – além do livro em si, também os dados dos leitores interessados. Afinal, as livrarias não compartilham os dados de quem adquire as obras.
Se o objetivo é obter retorno com um livro digital gratuito, é indispensável ter o controle do processo de entrega / aquisição deste livro digital. Este controle pode ser feito através de um site, onde a pessoa preenche um formulário e recebe depois o livro. Para quem não pode investir nisso, o autor pode solicitar aos leitores que lhe escrevam um e-mail, para daí receberem o e-book como resposta. Acha o e-mail pouco prático, ou fora de moda? Pode pedir aos interessados para curtirem ou compartilharem uma página, adicionarem na rede social de preferência, enfim… qualquer que seja o método escolhido, para descobrir e manter contato com os leitores, o fundamental é ter controle deste processo. Ser capaz de reunir e agregar estes contatos, de forma que possam ser trabalhados depois.
Um dos erros mais frequentes, por trás de toda divulgação fracassada, reside na falta de planejamento adequado, com parâmetros e objetivos claros. Para quem quero divulgar? Por quanto tempo? Em qual (ou quais) canais? Através de que meios? Por quanto tempo? Quantos downloads quero obter? Quantos contatos de leitores preciso alcançar para cumprir a minha “meta”?
Embora isso seja planejamento básico, um sem número de autores simplesmente passa batido nisso. Pensam que basta escrever e colocar nas livrarias, para a noviça rebelde surgir cantando entre as nuvens.
Se o autor não tiver resultado, será capaz de analisar o fracasso e identificar quais fatores determinaram o resultado. Poderá tentar novamente, evitando repetir os erros identificados. Isso é elementar, vale para qualquer tipo de divulgação. E um sem número de autores ainda pensa que livros se divulgam sozinhos.
O autor precisa tratar a obra gratuita como um aperitivo, caprichado, do seu trabalho. Este aperitivo precisa ser bom, para abrir o apetite do leitor, fazer ele pedir mais. Logicamente, um aperitivo de má-qualidade surtirá o efeito contrário. É preciso caprichar muito na qualidade e acabamento desta obra gratuita. Isso é ainda mais verdade, para autores que publicam séries e oferecem o primeiro volume gratuitamente…
O livro digital gratuito também pode servir a outros propósitos, que vão além da aquisição de leitores. Profissionais liberais, empresas, associações, conseguem um bom retorno de imagem através das obras gratuitas. Quem publica livros, quem transmite conhecimento, coloca-se em um patamar superior aos concorrentes, que ainda não publicaram livros. Publicar dá moral. Moral atrai clientes.
Resumindo esta explanação, vejo duas vias para oferecer conteúdo gratuito: de mão-beijada, ou obtendo algo em troca. A escolha é clara. Busque obter algo, em troca do seu livro gratuito. Tenha controle deste processo de distribuição do livro digital e faça isto dentro de um planejamento mínimo. Seguindo esta “receitinha”, será difícil sair no prejuízo com um livro gratuito digital.
Se você tiver interesse em aprofundar seu conhecimento sobre divulgação e marketing para livros digitais, confira meu curso à distância sobre este assunto.
* Eduardo Melo – Graduado em História pela UFRGS e mestre em Letras pela PUCRS, trabalha desde 2007 com e-books. É fundador da Simplíssimo, empresa pioneira na produção de e-books no Brasil, e também do serviço de autopublicação digital Revolução eBook. Liderou diversas iniciativas para a difusão do livro digital no Brasil, entre elas a Conferência Revolução eBook (2013-2014), o projeto Faça um eBook na Escola (2009-2010) e a ONG digital Editora Plus (2007-2008).