Outra tormenta se aproxima das editoras.
Publicações digitais são uma boa estratégia para reportagens longas e contos curtos. A Amazon sabe disso, e disponibiliza a categoria Kindle Singles para comercializar apenas esse tipo de obra – para se encaixar, é necessário que o título tenha entre 5 mil e 30 mil palavras.
Uma reportagem do New York Times – comentada pelo Digital Reader – mostra que o Singles pode ser mais do que um mero segmento da empresa. Pode ser o primeiro braço editorial da Amazon, concorrendo diretamente com as editoras, ao selecionar e publicar seus próprios títulos:
“É também uma pequena marca de publicações “da casa” – semelhante a um supermercado, que cria uma marca própria de molho de tomate, para competir com outros fabricantes. Blum [David Blume, diretor da Kindle Singles Store] traz algumas ideias, ou seleciona as melhores, entre mais de 1.000 manuscritos não-solicitados que ele recebe todo mês. Então ele edita e ajuda a escolher a arte da capa.”
Até o momento, o grande negócio da Amazon é varejo e distribuição. Não publicações. O Kindle Direct Publishing (KDP) fornece ao autor ou pequeno editor uma plataforma para criação e venda de eBooks, mas o trabalho de edição de manuscritos originais é inédito. E acende uma luz amarela para as editoras, com as quais a Amazon já não tem uma relação lá muito amigável: uma vez no mercado de edição de livros, poderia atingir as vendas de outras editoras, influenciar autores a migrarem para seus selos, dar prioridade nas vendas aos seus próprios livros.
O trabalho inédito de edição na Kindle Singles ainda não é algo totalmente estruturado. A companhia tem uma página específica orientando os autores sobre como enviarem seus textos para submissão. Os ganhos dos autores são os mesmos do programa Kindle Direct Publishing: podem escolher entre 35% ou 70% dos royalties e os títulos devem custar no máximo US$ 4,99. O preço baixo não é um problema, pois a recompensa vem do sucesso quase garantido na venda de seus títulos, puxado pelas vendas em números massivos.
A Amazon não é pioneira nesse segmento – existem empresas como Byliner, Atavist e até varejistas rivais, como a Kobo e Barnes & Noble. Mas a Kindle Singles Store é, de longe, a maior em vendas. Um exemplo apontado na reportagem é o livro Second Son, do escritor britânico Lee Child (criador do personagem Jack Reacher). Só na loja da Amazon, ele conseguiu vender 250 mil “cópias” – apesar de também trabalhar com outras plataformas de vendas, bem menos significativas.
O que pode acontecer se a Amazon virar a chave e ligar o motor de um selo editorial que já nasceria gigante? A indústria editorial está preparada para lidar com uma concorrência desse porte?